Dica de Filme

Tempos Modernos 
1936
Direção: Charles Chaplin


É um desafio falar de um clássico do cinema, principalmente, os mais antigos. O momento histórico era outro e, além disso, parece que tudo o que era pra ser dito sobre tal obra já foi exposto. Mas, se uma arte ainda é relevante para entendermos nossa sociedade, como "Tempos Modernos", sua indicação será sempre obrigatória.

Incrível como Chaplin foi pioneiro em diversas questões sociais presentes aqui. A máquina substituindo o homem e o homem virando máquina, a produção em massa explorando os trabalhadores, greves, desemprego... Tudo isso é mostrado sem soar panfletário ou didático.



A produção já começa "alfinetando" o conceito atual de trabalho, onde vemos carneiros em bando indo para algum lugar, e, logo após, são mostradas pessoas apressados andando pelas ruas. Como uma massa somente para fazer o sistema funcionar.

A própria fábrica onde Carlitos trabalha é opressora e nem um pouco confortável. O trabalho é repetitivo e não exige muito do intelecto dos empregados; apenas que façam. E, nem na hora do lanche eles têm sossego, pois existem telões em todos os lugares, inclusive no banheiro, onde sempre aparece a figura do chefe mandando voltar ao posto.


Há, inclusive, uma maravilhosa cena onde Carlitos, andando pelas ruas, vê uma bandeira cair de um caminhão. Ele a pega e começa a sacudí-la para tentar parar o motorista. Nisso, uma multidão que está numa manifestação passa a seguí-lo achando que ele é o líder de alguma revolta! Simplesmente soberba a ideia!

Existem outras cenas inesquecíveis, como quando, por acidente, Carlitos é "tragado" por uma máquina da fábrica, e, por alguns instantes, acaba fazendo parte das engrenagens dela. E, em nenhum momento ele deixa de trabalhar, sempre parafusando essas engrenagens!


Mas, nem sempre a comédia no filme tem como base a crítica social. Em outras sequências, encontramos muita leveza e simplicidade de um humor mais ingênuo, que tanta falta faz nos dias de hoje.

"Tempos Modernos" possui um discurso atemporal, alertando para o fato de deixarmos nossos sentimentos de lado em nome de um cotidiano desnecessariamente acelerado e mecânico. Detalhe que ele foi feito pouco depois da primeira grande crise econômica da era moderna: a quebra das bolsas de valores em 29!


Também é bom lembrar que ele foi proibido na Alemanha e na Itália na época do nazi-fascismo, por ser considerado "socialista demais", vejam só!

Com belas análises de uma sociedade que estava apenas começando a se "perder" em seu excesso de tecnologia, Chaplin construiu uma obra atemporal, que dialoga com várias gerações, faz pensar e rir em doses iguais, mas sem perder o foco altamente crítico.

Um filme que ficou pra história, pois.


NOTA: 9,5/10

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