Dica de Filme
Para Sempre Lilya
2002
Direção: Lukas Moodysson
Nota: 10/10
Para Sempre Lilya
2002
Direção: Lukas Moodysson
A sociedade e seus excluídos. Marginalizados. Abandonados. Mesmo quando teimam em sobreviver, são hostilizados. A bem da verdade, muito já não nem sequer uma "vida". Nesse panorama desolador, temos filmes brilhantes que retratam esses personagens de maneira bela e não-maniqueísta. "Para Sempre Lilya" é um deles.
O próprio ambiente em que se passa a estória já é desolador: uma antiga União Soviética, onde chove o tempo todo. As pessoas não se ajudam, não estão preocupadas com mais ninguém a não consigo. A mãe de Lilya se enquadra nessa categoria. Muda-se para os EUA com seu novo companheiro, deixando a filha a própria sorte.
De início, Lilya vai tentar morar com uma tia opressora, porém, obviamente, a convivência não dá certo. Vivendo praticamente na miséria, ela não vê outra alternativa a não ser se prostituir para conseguir o mínimo necessário. Seu único alento é a amizade de Volodya, um garoto que, assim como Lilya, foi abandonado pelos pais.
Aparentemente, tudo isso pode parecer um melodrama dos mais piegas. Mas, não. O filme, em si, tem uma ótima lição de vida, no entanto, não é moralista. Mostra a hipocrisia das pessoas ao tratar Lilya como uma pária da sociedade, desde os garotos da vizinhança que a acham uma vagabunda, mas não têm pudor em violentá-la, até sua "amiga", que espalha uma séria difamação contra ela.
Aparentemente, tudo isso pode parecer um melodrama dos mais piegas. Mas, não. O filme, em si, tem uma ótima lição de vida, no entanto, não é moralista. Mostra a hipocrisia das pessoas ao tratar Lilya como uma pária da sociedade, desde os garotos da vizinhança que a acham uma vagabunda, mas não têm pudor em violentá-la, até sua "amiga", que espalha uma séria difamação contra ela.
Todos a julgam, porém, ninguém a ajuda. Essa crítica é muito bem colocada no filme. Lilya é a vítima, só que não é mostrada como uma pobre coitada. Ela sempre tem um impressionante equilíbrio diante das situações mais difíceis. Por sinal, os diálogos são bem construídos, fugindo dos clichês. Aqui está um deles:
“Lembra daquela vez que estávamos no banco e você estava escrevendo ‘Lilya Para Sempre’ nele? E aí aqueles babacas cuspiram na gente? Eu disse para irmos embora, mas você disse que não estava pronta, pois queria terminar de escrever. É o que está acontecendo agora. Todo mundo está cuspindo em você, mas você ainda não está pronta. Não tem problema se você pular, eu te pego. Mas aí você perde e os babacas vencem.”
Mesmo expondo tanto sofrimento, o diretor Lukas Moodysson tem a sensibilidade suficiente para não cair na armadilha do apelativo. As cenas em que Lilya faz sexo com seus "clientes" não são explícitas, sempre mostrando o ponto de vista dela, gerando desconforto em quem assiste. Afinal, estamos de falando praticamente de estupros, e não caberia espetacularizar essas situações.
Outro ponto forte do filme é a trilha sonora, pontuada por muita eletrônica, mas tendo numa música específica da banda alemã Rammstein o ponto crucial da trama. Trama essa que tem um desfecho, para muitos, ambíguo, mas extremamente poético e triste. É bom lembrar que as atuações também estão fantásticas, com todos desempenhando seus papéis de forma muito segura.
É bom ressaltar que o filme se baseia na trágica estória real de Danguole Rasalaite, uma lituana de 16 anos, que foi manchete na Suécia em 2000, e que depois descobriu-se os horrores pelos quais ela sofreu. Chocante, pois, pensar que essa produção está retratando algo que, de fato, ocorreu e que deveria revoltar a todos.
Mostrando um mundo em clara decadência moral, principalmente, a incapacidade de cuidarmos de nossas crianças e jovens, "Para Sempre Lilya" é forte, opressor e coloca o dedo na ferida. Uma ferida aberta que ainda teimamos em ignorar.
Nota: 10/10
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