Dica de Filme

Milk- A Voz da Igualdade
2008
Direção: Gus Van Sant


Existe uma infinidade de temas tabus. Não necessariamente por serem assuntos "difíceis", mas, porque simplesmente muitas pessoas possuem resistência a eles. Política e homossexualidade, por exemplo, são geralmente tratados com muitos jargões, lugares comuns e frases de efeito, porém, parece que, em geral, temos total ignorância quanto a esses temas. Nesse aspecto, o filme "Milk" é particularmente importante de ser visto.

No entanto, por pouco a produção não saia. O cineasta Van Sant há muito queria contar a história de Harvey Milk, o primeiro político assumidamente gay dos EUA. Só que ele não achava o tom certo para um filme. Foi só a partir da ajuda do roteirista Dustin Lance Black, que o diretor pôde, enfim, contar a trajetória de um dos mais importantes ativistas da causa LGBT do mundo recentemente.




E, mesmo que, a princípio, "Milk" possa parecer excessivamente panfletário, ele não é. A menos que quem o assista veja a causa gay de forma caricatural ou ache que seja uma luta fadada ao "vitimismo". Mas, pra quem enxergar a produção pelo o que ela realmente se propõe, verá que ela trata a questão da política de uma meniera interessante, nem um pouco didática, e a própria causa LGBT é ampliada para a defesa de todas as minorias e marginalizados (mulheres, latinos, negros...).

Como se vê, o roteiro de Lance Black é muito bem estruturado, mostrando o que de verdade importa: a militância de um homem por igualdade de direitos de seu grupo, e, consequentemente, de outros. Harvey Milk emprega um verdadeiro tour de fource para se torna supervisor de seu distrito (uma espécie de vereador). Isso porque ele percebe que só através da política ele conseguirá dar visibilidade para as necessidades da comunidade gay. Ele logo entende como o jogo funciona, e se empenha em ganhar as eleições, ano após ano.




Paralelo a tudo isso, ele ainda tem que administrar uma vida pessoal um tanto conturbada, onde seu atual companheiro está, a cada dia, ficando desgastado com a insistência de Milk em querer entrar para a política. Não mais complicado do que sua vida particular, o protagonista ainda se depara com todo tipo de político conservador, notadamente de origem cristã, que propõem as leis mais absurdas, como demitir professores que sejam gays.

Tudo isso é mostrado em forma de flashbacks muito bem amarrados, pois, logo no início do filme já sabemos o que acontecerá com Milk, o que, nem de longe, tira a força narrativa da história. Ao contrário, isso só potencializa, por exemplo, as empolgantes cenas em que o personagem principal comanda marchas e manifestações nas ruas de seu bairro, com o intuito de estimular a comunidade LGBT não só a se assumir perante a sociedade, mas, a buscar seus direitos mais básicos.




É imprescindível parabenizar o trabalho de direção de Van Sant. Fica notório em cada quadro o quanto ele se envolveu no projeto, e o cuidado com que ele filma cada acontecimento, não exagerando nos momentos mais dramáticos, mas também não impondo uma distante frieza diante dos fatos. Ou seja, equilíbrio narrativo, apenas contando o que se deve, sem que haja grandes arroubos, que, com certeza, descaracterizariam a mensagem principal.

E, é lógico que tudo não teria dado tão certo sem um intérprete como Sean Penn. Ele, literalmente, imerge no personagem, física e sentimentalmente, compondo um Harvey Milk extremamente cativante, a quem o espectador realmente entende suas motivações e sofre com ele, mesmo pra quem não seja militante da causa. Um trabalho de ator, de fato, soberbo.




O filme termina com os já tradicionais fatos históricos que envolveram cada um. Mas, nem essa forma já um tanto batida e esquemática de "amarrar" toda a trama tira o brilho da produção. Na realidade, esses dados acabam sendo até necessários para provar que a luta de Milk deu frutos muito positivos, revertendo certas leis desfavoráveis à comunidade LGBT, e a implementação de outras que visaram o combate à discriminação.

Como inspiração, este é um filme absolutamente necessário (e urgente, vide os inúmeros políticos conservadores surgidos nos últimos anos). E, como cinema, possui inúmeros predicados. Um dos melhores de Van Sant e Sean Penn, respectivamente (em todos os aspectos).


Nota: 9/10

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