Dica de Disco
"The Sun" (2014)
Artista: Somali Yacht Club
"The Sun" (2014)
Artista: Somali Yacht Club
Hoje, mais do que nunca, o mundo da música é efêmero. Bandas vêm e vão com velocidade incrível. Algumas engrenam, outras morrem na praia. Muitas nem chegam a ser devidamente conhecidas. Por exemplo: o nome Somali Yacht Club pode soar estranho pra alguns, e, de fato, é. O grupo foi formado recentemente (em 2010), e são ucranianos. Não ajudou muito? Então, que tal dizer que eles fazem um vigoroso pós-stoner, que revitaliza (e muito) o que bandas como Kyuss e Monster Magnet já fizeram? Ok, ainda deve estar meio turvo na mente. Que tal dizer, por fim, que estamos diante de uma mistura azeitada de Blue Cheer com Pink Floyd? Processou? É bem por aí, e mais.
Pra fazer stoner rock, não basta toneladas de efeitos nas guitarras, muito menos, um pseudo-clima viajante. É preciso carisma, entender a estrutura do som que se quer fazer, e elevá-lo à enésima potência. A música tem que ser intensa, emocional, colocar o ouvinte em estágios alterados da mente, e por aí vai. E, o Somali Yacht Club faz isso muito bem. E, como toda boa banda de rock que se preze, temos aqui um power trio. Só. E, o disco em questão apresenta apenas 5 música, TODAS com mais de 7 minutos de duração. Som pedante, enjoativo? Calma, nem tudo é o que parece. O grupo, pelo menos, nesse disco, consegue passar longe da chatice por conseguir envolver o ambiente com várias camadas interessantes de sua música, e que vão agregando às canções de forma soberba. É quase épico.
E, falando em ambiente, a geografia natal do grupo conta muito para a qualidade de seu som, já que eles são originários da cidade ucraniana de Lviv, que, em 1998, teve o seu centro histórico declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Não à toa, a cidade é conhecida como um centro de grande valor artístico, seja ele literário, musical ou teatral. Respirando cultura por todos os poros, o nível fica outro, sem dúvida. Isso, claro, reflete-se no som da banda, que, incrivelmente, mostra-se bem maduro para pessoas tão jovens, e com tão pouco tempo de carreira.
E, a música em si? Até por ter detalhes progressistas do Floyd, unidos às explosões à lá Blue Cheer, o que temos é um som imensamente rico, que já nos arrebata de cara com a ótima "Loom". A letra é relativamente curta, mas, fica impossível não querer cantarolar o refrão logo nos primeiros minutos (a melodia é absurdamente cativante). E, ainda tem todo o peso e a cadência que o estilo exige, sem exageros, fazendo os mais de 8 minutos da canção passarem bem rápido. Não obstante, logo depois, temos uma música totalmente instrumental, mas, que passa longe do pedantismo de muitos virtuosis: "Sightwaster". Em linhas gerais, ela lembra muito "XXY", do Rush, com partes mais pesadas, e outras mais leves, que remetem até ao reggae. Muito boa faixa.
Em seguida, temos o destaque do disco, "Up in the Sky", provavelmente, a composição mais completa do álbum. Tendo uma miscelânea de estilos, mas, com unidade, ela vai num crescendo, com ótimos riffs, uma atmosfera sombria, muito próxima do bom e velho Sabbath, culminando numa explosão catártica de todos os integrantes, muito competentes em suas funções, diga-se. Após o "mantra" anterior, somos levados a ares mais relaxantes com "Signals", talvez a pior canção do disco, mas, não por ela ser ruim (ao contrário). É que não precisava se alongar tanto (mais de 10 minutos), e, no final, acaba cansando um pouco, mesmo com a já citada competência dos músicos.
Felizmente, o encerramento vem na forma de "Sun", a derradeira faixa do disco, e uma das melhores. A ótima linha de baixo que abre a música já é prenúncio de que ouviremos coisa boa. E, a promessa é cumprida, especialmente, pelas linhas energéticas de guitarra, que transbordam dos alto-falantes com bastante força. Além disso, as melodias são bem construídas, fazendo o conjunto se diferenciar (pra não cansar o ouvinte), mas, unindo os principais elementos stoner do grupo, dando uma aparência quase "Alice in Chains" à composição. Excepcional.
Somali Yacht Club é aquele tipo de banda que não entendemos porque é tão desconhecida. Claro, o som que fazem passa longe do comercial, mas, até em sites mais especializados, é meio difícil encontrar qualquer material do grupo. O que é uma pena, pois, só esse "The Sun", com apenas 5 canções, já mostra um potencial incrível, que muitos grupos de hoje não conseguem demonstrar. Então, que esse pessoal altamente psicodélico continue na estrada, firme e forte. Por enquanto, fiquemos que esse discaço de rock no play por um bom tempo.
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Nota: 8,5/10
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