Dica de Documentário
Réquiem Para um Sonho Americano
2015
Direção: Kelly Nyks e Jared P. Scott
NOTA: 8,5/10
Réquiem Para um Sonho Americano
2015
Direção: Kelly Nyks e Jared P. Scott
Réquiem é uma composição sobre o texto litúrgico da missa dos mortos, que começa com as palavras latinas requiem aeternam ("repouso eterno"). De uma maneira geral, designa ocaso, prelúdio do fim, ao muito próximo do seu desfecho (ou da sua morte eminente). Já, o título deste documentário ("Réquiem Para um Sonho Americano") suscita diversas questões. A principal delas: e, qual é, afinal, esse tal "sonho americano"? Fundada por algumas das melhores cabeças pensantes de sua época, a Constituição Norte-Americana tinha uma dubiedade um tanto perversa: exaltava a democracia, mas, pregava o receio dos poderosos de que os mais pobres se rebelassem, e tomassem os bens dos mais ricos. Vale ressaltar que o filósofo Aristóteles também teve essa "preocupação". Porém, ao invés de menos democracia, a sua sugestão era de menos desigualdade social. E, esta nada sutil provocação é apenas o início de "Réquiem Para um Sonho Americano".
Tendo como base quatro entrevistas feitas com o renomado pensador Noam Chomsky, o documentário explica, de maneira bem didática (porém, nem um pouco maçante), os pilares primordiais para a concentração de riqueza e poder nas mãos de poucos. De início, temos um olhar bem crítico sobre a nossa (falta de) democracia. Indo na mesma linha de pensamento do escritor José Saramago, Chomski afirma que não se pode falar de democracia num mundo onde a concentração de riqueza vai para os bolsos de poucos, gerando uma imensa desigualdade entre as sociedades. Apesar disso, ele reconhece que tivemos alguns momentos recentes em que a democracia se fez bem presente, como na década de 60 do século passado, um período marcado para lutas pelos negros, pelas mulheres, pela diversidade sexual, pelo meio ambiente, pela paz, etc.
Mesmo assim, Chomski lembra que além da ofensiva das autoridades militares às manifestações e protestos sociais dessa época, houve também uma forte reação por parte do setor empresarial, mais especificamente, referente ao Memorando Powell, que dizia em seu relatório que "as empresas estavam perdendo o controle da sociedade". Eis um dos trechos mais significativos desse Memorando:
A quem se interessar mais por esse assunto, segue o link de um texto muito bom sobre essa questão:
https://jrazen.wordpress.com/2016/08/04/memorando-powell-ou-quando-os-ricos-sonham/
De forma muito coerente, Chomski também relata a insegurança que o trabalhador médio vem tendo nos últimos anos, e que isso é providencial para o mercado financeiro. Quanto mais inseguro o trabalhador estiver, mais ele estará sob controle. "Assim, eles não vão pedir salários decentes, boas condições de trabalho, ou a oportunidade de associação livre, de sindicalizar. Para os 'mestres da humanidade', tudo bem, pois, eles ganham os seus lucros. Mas, para a população, é devastador." Chomski aproveita também para relatar as críticas que sempre recebeu, sendo chamado, pejorativamente, de "antiamericano". Ele lembra que essa noção só é possível em estados totalitários, e dá como exemplos dois casos: quem se posicionasse contra a ditadura de Stálin, era considerado antisoviético, ou quem fosse crítico ao regime militar no Brasil era taxado de "antibrasileiro". Em suma, era pessoas acusadas de estarem contra o Estado, a sociedade e o povo.
Outro ponto bastante importante levantado pelo documentário é a taxação de grandes fortunas, um assunto que, vez ou outra, volta à tona. Chomski diz, por exemplo, que nas décadas de 50 e 60, a varga tributária dos mais ricos era bem, maior do que hoje em dia. O pretexto em seu apertar mais o cintos dos pobres é a mesma que sempre ouvimos: isso gera aumento no investimento e em novos postos de empregos. Porém, como o próprio Chomski afirma, não há indícios da veracidade dessa relação. Interessante notar como a abordagem, aqui, vai para questões mais técnicas, mais, digamos, econômicas, e, ao mesmo tempo, também evoca assuntos negligenciados pela sociedade moderna, como acabar com o senso de solidariedade, segundo os mais poderosos, um "entrave" aos seus lucros. É o que acontece, por exemplo, com o ataque à Seguridade Social, e o seu princípio básico de pagamento de impostos para assegurar a sobrevivência de terceiros; algo, segundo Chomski, inútil aos mais ricos.
A educação pública, e o seu consequente sucateamento ao longo dos anos, também está presente no documentário. Hoje em dia, segundo dados levantados, é assombrosa a quantidade de estudantes de famílias pobres que se forma, deixam a universidade atolados em dívidas e, muitas vezes, precisam trabalhar num subemprego para poderem ir pagando como podem o que devem em relação às mensalidades da faculdade que estudou. Nisso, Chomski provoca: "Nos anos 50, a sociedade era bem mais pobre que hoje em dia, mas, no entanto, conseguia arcar com mais educação de massa gratuita. Hoje, uma sociedade bem mais rica alega que não tem recursos para isso." Quando é falado a respeito da regulamentação dos setores financeiros, acaba sendo óbvio desembocarmos na crise de 2008. Sintomático, como Chomski mesmo aborda, que essa gente não quer um sistema capitalista, pois, num Capitalismo "verdadeiro", as especulações e as "criações de crises" que provocam os quebrariam por completo. Mas, quando o negócio aperta, todos pedem socorro ao Estado paternalista.
Mesmo assim, Chomski lembra que além da ofensiva das autoridades militares às manifestações e protestos sociais dessa época, houve também uma forte reação por parte do setor empresarial, mais especificamente, referente ao Memorando Powell, que dizia em seu relatório que "as empresas estavam perdendo o controle da sociedade". Eis um dos trechos mais significativos desse Memorando:
"NENHUMA PESSOA SENSATA PODE QUESTIONAR QUE O SISTEMA ECONÔMICO AMERICANO ESTÁ SOB AMPLO ATAQUE".
A quem se interessar mais por esse assunto, segue o link de um texto muito bom sobre essa questão:
https://jrazen.wordpress.com/2016/08/04/memorando-powell-ou-quando-os-ricos-sonham/
De forma muito coerente, Chomski também relata a insegurança que o trabalhador médio vem tendo nos últimos anos, e que isso é providencial para o mercado financeiro. Quanto mais inseguro o trabalhador estiver, mais ele estará sob controle. "Assim, eles não vão pedir salários decentes, boas condições de trabalho, ou a oportunidade de associação livre, de sindicalizar. Para os 'mestres da humanidade', tudo bem, pois, eles ganham os seus lucros. Mas, para a população, é devastador." Chomski aproveita também para relatar as críticas que sempre recebeu, sendo chamado, pejorativamente, de "antiamericano". Ele lembra que essa noção só é possível em estados totalitários, e dá como exemplos dois casos: quem se posicionasse contra a ditadura de Stálin, era considerado antisoviético, ou quem fosse crítico ao regime militar no Brasil era taxado de "antibrasileiro". Em suma, era pessoas acusadas de estarem contra o Estado, a sociedade e o povo.
Outro ponto bastante importante levantado pelo documentário é a taxação de grandes fortunas, um assunto que, vez ou outra, volta à tona. Chomski diz, por exemplo, que nas décadas de 50 e 60, a varga tributária dos mais ricos era bem, maior do que hoje em dia. O pretexto em seu apertar mais o cintos dos pobres é a mesma que sempre ouvimos: isso gera aumento no investimento e em novos postos de empregos. Porém, como o próprio Chomski afirma, não há indícios da veracidade dessa relação. Interessante notar como a abordagem, aqui, vai para questões mais técnicas, mais, digamos, econômicas, e, ao mesmo tempo, também evoca assuntos negligenciados pela sociedade moderna, como acabar com o senso de solidariedade, segundo os mais poderosos, um "entrave" aos seus lucros. É o que acontece, por exemplo, com o ataque à Seguridade Social, e o seu princípio básico de pagamento de impostos para assegurar a sobrevivência de terceiros; algo, segundo Chomski, inútil aos mais ricos.
A educação pública, e o seu consequente sucateamento ao longo dos anos, também está presente no documentário. Hoje em dia, segundo dados levantados, é assombrosa a quantidade de estudantes de famílias pobres que se forma, deixam a universidade atolados em dívidas e, muitas vezes, precisam trabalhar num subemprego para poderem ir pagando como podem o que devem em relação às mensalidades da faculdade que estudou. Nisso, Chomski provoca: "Nos anos 50, a sociedade era bem mais pobre que hoje em dia, mas, no entanto, conseguia arcar com mais educação de massa gratuita. Hoje, uma sociedade bem mais rica alega que não tem recursos para isso." Quando é falado a respeito da regulamentação dos setores financeiros, acaba sendo óbvio desembocarmos na crise de 2008. Sintomático, como Chomski mesmo aborda, que essa gente não quer um sistema capitalista, pois, num Capitalismo "verdadeiro", as especulações e as "criações de crises" que provocam os quebrariam por completo. Mas, quando o negócio aperta, todos pedem socorro ao Estado paternalista.
Claro, dentro de tantos assuntos abordados, um que não poderia faltar é como as empresas e grandes corporações controlam as eleições, sempre conseguindo colocar no poder políticos reacionários financiados pelo setor privado. O cúmulo do absurdo foi quando a emenda 14 da Constituição Norte-Americana foi colocada como prerrogativa para proteger as grandes empresas, dando às corporações o status de "pessoas físicas plenas em direitos" (!). Nesse meio tempo, também são mostrados os ataques sistemáticos aos sindicatos e aos movimentos trabalhistas, resultando que, hoje, menos de 7% das áreas do setor privado são sindicalizadas, o que é ótimo para as empresas. Além disso, o controle às massas é bem explicado no documentário, dando conta da explosão de publicidade que temos nos últimos anos, formando consumidores desinformados, fazendo escolhas irracionais. Isso acaba se refletindo nas eleições: a formação de eleitores desinformados, fazendo escolhas irracionais, que, muitas vezes, vão de encontro aos seus próprios interesses.
"Réquiem Para um Sonho Americano" tem, sim, uma linha ideológica bem clara, e isso é o seu principal trunfo. Ao colocar as cartas na mesa, tendo como base as ideias de Noam Chomski, ele não se presta a interpretações dúbias ou rasteiras. O próprio Chomski exibe suas palavras de forma assustadoramente clara. A final, deixa a dica para os espectadores que captaram a sua mensagem, e se sentiram compelidos a agirem: façam pequenas ações, mobilizem-se e construam as bases para os seus movimentos de luta. Isso não conseguirá ser tirado dos verdadeiros ativistas nem pelo governo, muito menos, pelas grandes corporações. Um documentário, acima de tudo, humanista, instigante e esclarecedor (até mesmo para os desafetos de Chomski).
NOTA: 8,5/10
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