Dica de Filme
O Fantasma do Futuro
1995
Direção: Mamoru Oshii
NOTA: 7/10
O Fantasma do Futuro
1995
Direção: Mamoru Oshii
ANIMAÇÃO FUTURISTA, ÍCONE DA CULTURA POP, NÃO RESISTIU TANTO ASSIM AO TEMPO
Na cultura, nada se cria, nada se perde, tudo se copia.. Essa máxima pode ser usada, tranquilamente, para a animação "O Fantasma do Futuro", que, simplesmente, foi a principal referência do divisor de águas da ficção científica no cinema recente: "Matrix". Muitas das sequências do anime, inclusive, foram "homenageadas"(pra não dizer copiadas, mesmo) na produção dos irmãos Wachowski. Ou seja, a animação é realmente espetacular, não é? Bem, nem tanto assim. Apesar do belíssimo designer, e das monólogos filosóficos interessantes, a anima, no geral, tem algumas falhas que, com o passar do tempo, ficaram mais nítidas.
Pra começo de conversa, o filme é baseado num mangá (quadrinho japonês), que é infinitamente mais aprofundado do que a animação. Então, os produtores acharam por bem realizar um longa de menos de uma hora e meia de duração, pegando como enredo apenas um dos vários capítulos do mangá e encher a animação de diálogos e mais diálogos. O problema é que muitas dessas falas mais se parecem com monólogos (e, muito longos), ocupando um espaço significativo. Não que muitos diálogos sejam ruins, mas, aqui, o excesso deles não só travam a narrativa, como, muitas vezes, confundem, desnecessariamente, a história, que a bem da verdade, não é tão complicada quanto aparenta. Não são raros os momentos em que os personagens se viram para a câmera, e começam a falar sobre a condição humana, sobre as máquinas terem a possibilidade de possuírem uma alma, etc, etc, etc. De fato, muito interessante, mas, cujo recurso torna tudo meio cansativo.
A história do anime, em si, até por ser apenas um recorte do mangá, não é tão forte quanto poderia, mas, tem muitos pontos a favor, e um deles é a personagem Motoko Kusanagi, o grande trunfo da ciência no ano 2029,em que homens e máquinas se fundem em implantes cibernéticos. Com uma realidade onde não se sabe ao certo o que é homem e o que é máquina, e que implicações isso tem, Motoko se trata de uma ciborgue que trabalha para uma unidade serviço secreto, combatendo crimes cibernéticos. Com o avanço científico desse mundo, tudo é possível, inclusive, implantar memórias falsas em alguém, para que ela passe a achar que é outra pessoa. É nesse ponto que entram os embates filosóficos propostos pela história. Se as nossas memórias podem ser reprogramadas, um ser humano pode "deixar de ter" alma? E, usando esse mesmo conceito, uma máquina pode ter alma, sentimentos, desejos? Apesar dos diálogos que tratam desses, e de outros assuntos, serem cansativos, ao menos, focam-se em pontos pertinentes de reflexão, principalmente, nessa época de redes sociais, onde o homem está tão frio quanto uma máquina.
Até por ter sido uma grande produção para a época, "O Fantasma do Futuro" é uma animação primorosa, com um traço de personagens até simples, mas, com efeitos visuais belíssimo, que,inclusive, contam mais da história do que os próprios diálogos. Percebe-se isso, por exemplo, logo no início, quando é mostrada toda a concepção da ciborgue Motoko enquanto se passam os créditos do filme, "peça" por "peça". Outro momento impressionante da animação é quando é mostrada uma longa sequência de como seria uma Tókio futurista, cibernética. A riqueza de detalhes de cada rua, de cada transeunte, de cada beco, de cada edifício, realmente, impressiona. As cenas de ação, no melhor estilo "Akira" também são outro destaque, sendo movimentadas e violentas na medida certa,sem exageros.
No geral, "O Fantasma do Futuro" não deixa de ser uma animação muito boa, mais por sua importância em disseminar a cultura cyberpunk no mainstream do que pelo filme em si, que é bom, mas, cujos aspectos negativos ficaram mais nítidos com o passar do tempo. No entanto, não só pela importância histórica, mas, também pela boa qualidade dos efeitos visuais, e por abordar um tema tão humano num universo tão peculiar (praticamente, uma distopia), é válido sempre (re)assistir à animação. Fica, porém, o conselho de que o mangá "Ghost in the Shell", em praticamente todos os aspectos, é bem melhor, precisando ser tão conhecido quanto o filme. Ou, até mais. Mesmo assim, o anime "O Fantasma do Futuro" continua a ter o seu grau de relevância. Só não conseguiu ser tão atemporal quanto se previa.
NOTA: 7/10
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