Dica de Filme
Os Últimos Passos de um Homem
1995
Direção: Tim Robbins
Baseado numa história real, o filme acompanha o cotidiano da freira Helen Prejean, que trabalha numa comunidade carente. Em poucos minutos, rapidamente, simpatizamos com ela, com o seu jeito de tratar as pessoas, sempre atenciosa com todos e já na cena de apresentação vamos a conhecer seu o destino próximo: Helen recebe um pedido, aquele que vai ser o seu grande desafio, de ser a guia espiritual do prisioneiro Matthew Poncelet. Condenado à pena de morte, ele pede ajuda a Helen para reversão de sua pena para prisão perpétua pois alega ter sido condenado injustamente. Inclinada a ajudá-lo nesta difícil tarefa ela aceita o pedido ao mesmo tempo em que sabe que precisa cumprir com a sua tarefa sacerdotal, que é tentar converter Matthew, e levá-lo a reconhecer os seus erros.
O roteiro, do próprio diretor Tim Robbins, é minucioso ao expôr assuntos delicados de maneira a não soar panfletário, nem se rendendo a discursos fáceis. Por exemplo: seria muito cômodo militar somente contra ou somente a favor da pena de morte, visto que bons argumentos de ambos os lados não faltam. No entanto, a questão é explorada em todos nos seus vieses importantes. Ao mesmo tempo que temos contato com Matthew e sua mãe, e temos o panorama da vida dele e suas angustias e fraquezas, somos apresentados também, durante um bom tempo, aos pais das vítimas, e conseguimos entender a dor que é perder um filho em condições tão trágicas, e que acaba por gerar, assim, aquele sentimento de revolta que pode deixar, de fato, qualquer um a favor da pena de morte. Não há, no filme, o mínimo resquício da exploração de uma tragédia, ou, de apelação clichê, e sim, a sobriedade necessária para apresentar e levar a reflexão um assunto tão delicado.
NOTA: 9,5/10
Os Últimos Passos de um Homem
1995
Direção: Tim Robbins
EXCELENTE DRAMA QUE ABORDA QUESTÕES COMO O PODER DA FÉ E A NECESSIDADE DA PENA DE MORTE
Alguns temas, por sua natureza, são muito difíceis de se abordar, seja na literatura, seja em filmes ou mesmo numa roda de conversa. A dificuldade aparece porque eles podem gerar tanta paixão, tanta polêmica, que a razão acaba relegada a segundo plano. Outros, com uma carga mais intimista, que, assim como no primeiro caso, também geram polêmicas, só que, numa escala diferenciada. Agora, pegue temas tão díspares, misture num poderoso drama, impecavelmente dirigido e atuado, e o que teremos é este "Os últimos Passos de um Homem", segundo filme do talentoso ator Tim Robinns à frente da direção, e tendo como reforço considerável as interpretações fenomenais de Susan Sarandon e de Sean Penn.
Baseado numa história real, o filme acompanha o cotidiano da freira Helen Prejean, que trabalha numa comunidade carente. Em poucos minutos, rapidamente, simpatizamos com ela, com o seu jeito de tratar as pessoas, sempre atenciosa com todos e já na cena de apresentação vamos a conhecer seu o destino próximo: Helen recebe um pedido, aquele que vai ser o seu grande desafio, de ser a guia espiritual do prisioneiro Matthew Poncelet. Condenado à pena de morte, ele pede ajuda a Helen para reversão de sua pena para prisão perpétua pois alega ter sido condenado injustamente. Inclinada a ajudá-lo nesta difícil tarefa ela aceita o pedido ao mesmo tempo em que sabe que precisa cumprir com a sua tarefa sacerdotal, que é tentar converter Matthew, e levá-lo a reconhecer os seus erros.
O roteiro, do próprio diretor Tim Robbins, é minucioso ao expôr assuntos delicados de maneira a não soar panfletário, nem se rendendo a discursos fáceis. Por exemplo: seria muito cômodo militar somente contra ou somente a favor da pena de morte, visto que bons argumentos de ambos os lados não faltam. No entanto, a questão é explorada em todos nos seus vieses importantes. Ao mesmo tempo que temos contato com Matthew e sua mãe, e temos o panorama da vida dele e suas angustias e fraquezas, somos apresentados também, durante um bom tempo, aos pais das vítimas, e conseguimos entender a dor que é perder um filho em condições tão trágicas, e que acaba por gerar, assim, aquele sentimento de revolta que pode deixar, de fato, qualquer um a favor da pena de morte. Não há, no filme, o mínimo resquício da exploração de uma tragédia, ou, de apelação clichê, e sim, a sobriedade necessária para apresentar e levar a reflexão um assunto tão delicado.
O cuidado na abordagem do tema da pena de morte também se reflete no caso da fé religiosa, que também não é retratada como um reduto somente de fanáticos acéfalos. Existe, sim, a referencia crítica ao discurso do "bandido bom é bandido morto" que alguns religiosos apresentados na história vão alegar. No entanto, não é depreciativa, preconceituosa ou com aquele ar de arrogância de quem se acha melhor por não partilhar das mesmas crenças. Inclusive, a própria figura da freira Helen é de uma grandeza moral poderosa, mostrando muita compaixão tanto por Matthew e sua família, quanto pelas famílias de suas vítimas. Ao entender bem da natureza humana, desde aquela que comete as maiores barbaridades, até aquela que busca a vingança ou a justiça, Helen tenta não julgar ninguém. Apenas, segue aquele caminho que ela considera mais acertado, do apoio e do amor incondicional.
O outro protagonista da trama, Matthew, é outra figura muito bem estruturada ao longo da narrativa. Mesmo aqueles que, por ventura, possam se inclinar a sentirem compaixão dele, também vão criticá-lo por muitas de suas posturas, já que ele, por exemplo, é bastante racista, e faz questão de não esconder isso. Sem contar outros momentos em que ficamos na dúvida se ele cometeu ou não o crime do qual foi acusado, o que deixa a história ainda mais interessante e imprevisível. Não é um personagem necessariamente carismático, que desperte alguma simpatia no espectador, mas, é retratado de uma forma muito humana, com os seus defeitos e qualidades. Não é nem uma pessoa odiosa, mas, também não desperta facilmente simpatia. Uma escolha de representação verdadeiramente corajosa dentro do tão maniqueísta cinema norte-americano,
Como o filme consegue ser tão magistral? Isso se deve à junção de vários fatores. Primeiro, as atuações. Não é exagero dizer que estamos diante de algumas das melhores interpretações das carreiras de Susan Sarandon e de Sean Penn, o que não é pouco. A primeira entrega uma representação formidável de uma verdadeira fé no ser humano, e do sofrimento diante dos momentos mais difíceis. Não há um instante em que não nos sintamos na pele dela, na sua angústia de querer ajudar, e, ao mesmo tempo, confortar Matthew, mas, também tentando dar alento aos que perderam muito pelas mãos dele. Sean Penn, espetacular como sempre, faz de Matthew um personagem tão complexo que, mesmo sabendo que ele pode ser culpado, ainda assim, o ator consegue passar um sentimento de muita piedade, alguém que, mesmo com os seus erros, você ainda pode se sentir triste sobre sua situação. E, completando esse conjunto notável de talentos, a direção bastante segura de Tim Robbins, que consegue fazer a gente imergir na trama, sem exageros dramáticos ou artifícios batidos.
"Os Últimos Passos de um Homem" é o tipo de filme para ser discutido por horas, e, mesmo assim, ainda podemos não ter uma conclusão objetiva sobre os temas que aborda. Isso porque os seus realizadores não quiseram manipular o espectador na base do extremismo. Inclusive, ambos os lados, a respeito da pena de morte, podem estar certos. A produção não se propõe a ser um guia ou um manual de como pensar sobre tal assunto. A mensagem mais clara e importante, essa sim, recai no seu viés mais intimista, e que pode estar estar ligado à religião, mas, não só, que é acolher o ser humano nos seus momentos difíceis e no caso do filme, os últimos passos de um homem, no corredor da morte. Afinal, quais sentimentos mais demasiadamente humanos do que o medo e a dúvida?
Filme, enfim, poderosíssimo que nos pede um vasto coração.
NOTA: 9,5/10
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