Dica de Documentário ("The Hunting Ground")

Dica de Documentário

The Hunting Ground
2015
Direção: Kirby Dick


DOCUMENTÁRIO EXPÕE COMO AS MULHERES ESTÃO VULNERÁVEIS AO ASSÉDIO E AO ESTUPRO DENTRO DAS GRANDES UNIVERSIDADES NORTE-AMERICANAS

Assédios sexuais e estupros, infelizmente, estão se tornando uma rotina em qualquer ambiente. No entanto, o fato desse tipo de violência acontecer em certos lugares é algo escandaloso. É caso desse tipo de crime ocorrido dentro das universidades, algumas muito bem conceituadas. E, pior: num país como os EUA, onde a população se gaba de que a lei e a ordem funcionam. 

Porém, não é bem o caso. Levantamentos apontam que 1 em cada 5 universitárias norte-americanas são ou serão vítimas de violência sexual em algum momento. E, é disso, em linhas gerais, que se trata o documentário "The Hunting Ground", ou, numa tradução livre, "O Território de Caça".




O filme comece leve, festeiro, com vários jovens (principalmente, garotas) recebendo a confirmação de que forma aprovados em algum exame para entrarem em alguma das grandes faculdades do país. 

À medida que o tempo passa, vamos, porém, acompanhando o pesadelo de algumas dessas adolescentes, que, ao entrarem num instituição de ensino renomada, jamais imaginariam que iriam sofrer alguma espécie de violência sexual dentro das dependências do local. 

E, pior: com a total conivência das instituições, que, para manterem a sua publicidade em alta, fazem de tudo para abafarem esses casos, chegando ao ponto de coagirem as vítimas a não denunciarem.

Os casos vão transcorrendo, e, no decorrer do documentário, vamos presenciando todo tipo de histórias absurdas sobre o assunto, desde uma menina que cometeu suicídio por não ter recebido nenhum suporte da faculdade da qual estudava após sofrer abuso sexual, até outras vítimas que não apenas levaram adiante o que sofreram, como também montaram uma rede informal de pessoas que sofreram esse tipo de violência, e que criaram uma espécie de grupo de apoio. 

É o caso de Andrea Pino e Annie Clark, ambas da Universidade de Chapel Hill, da Carolina do Norte, que se tornaram ativistas da causa, criando até um termo para mulheres que passam por esse tipo de violência, e superam, de alguma maneira, o trauma: as "survivors" (ou, simplesmente, "sobreviventes").




O documentário também expõe não só o risco de um abuso dentro das grandes universidades , mas, principalmente, as dificuldades que as vítimas encontram depois. Muitas instituições, preocupadas com a sua "imagem", fazem de tudo para tentar calar quem sofre tal violência, sob as mais absurdas justificativas. Parece somente uma atitude machista dos responsáveis por essas faculdades, mas, como bem mostra o filme, o buraco é mais embaixo. 

Muitos desses assédios e estupros são feitos dentro de festas das chamadas "irmandades" (associações estudantis muito comuns nos EUA) ou por membros de alguma equipe desportiva (em geral, de futebol americano). Como muitas das doações que são feitas para as universidades são provenientes de ex-membros dessas irmandades, e como o negócio desportivo gera lucros astronômicos a essas instituições, fica fácil perceber que a questão é mais de dinheiro, do que qualquer outra coisa. Simplesmente, as "sobreviventes" podem atrapalhar os lucros desses lugares (!).

É claro que também existe todo um estigma que acompanha as vítimas desses abusos aonde quer elas forem, desde à óbvia dificuldade em encontrarem apoio nas instituições em que estudam, passando pelas autoridades, que dão pouco ou nenhum crédito às vítimas, e chegando à sociedade como um todo, que as veem como meras "vagabundas". 

É o caso de Erika Kinsman, que acusou Jameis Winston, mega-astro de futebol americano da Universidade Estadual da Flórida, o que custou a Erika muitas acusações de "aproveitadora" e "oportunista". Ao tentar prestar queixa na polícia, chegou ao ponto do investigador atrapalhar todo o processo, com o intuito de salvar Winston de qualquer acusação (na época, ele estava no auge de sua carreira, ganhando campeonatos, e sendo condecorado como "o melhor jogador da temporada"). 

Resultado: apenas dois anos depois das denúncias de Erika, a Universidade da Flórida finalmente conduziu uma audiência para Winston. Ele "apenas" foi declarado responsável por violar o código de conduta estudantil, e nada mais (!).




Ao longo de pouco mais de uma hora e meia, vamos acompanhando as histórias cada vez mais tristes das "sobreviventes". Tristes, porém, de superação também, pois Andrea Pino e Annie Clark, com o seu coletivo, conseguem se fazer ouvidas pelos políticos, chegando até o (na época) presidente Barack Obama. 

No final, o documentário mostra essas duas garotas recebendo uma ligação desesperada de um pai relatando que a sua filha foi abusada em uma universidade, e que não está recebendo apoio algum da instituição. 

Ou seja, mesmo que o problema esteja cada vez mais visível, é um tipo de violência que tende a continuar, e cujo desfecho só poderá ser positivo com a devida cobrança das autoridades responsáveis, incluindo aí, as próprias instituições de ensino. Mas, acima de tudo, retaliar todo e qualquer machismo envolvendo o assunto, principalmente, no tocante à culpabilização das vítimas (afinal, mulher alguma "pede" para ser abusada). 

É um longo (mas, necessário) caminho até que as coisa melhorem.

Um documentário mais do que pertinente.


NOTA: 8,5/10


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