Dica de Filme ("ADEUS")
Dica de Filme
Adeus
2011
Direção: Mohammad Rasoulof
NOTA: 9/10
Adeus
2011
Direção: Mohammad Rasoulof
UM RETRATO AO MESMO TEMPO INTIMISTA E ANGUSTIANTE SOBRE A RESTRIÇÃO DE DIREITOS CIVIS NO IRÃ, EM ESPECIAL, DAS MULHERES
Algumas coisas são básica. Tipo: a liberdade e a própria vida. Inegociáveis, porém, há lugares que desrespeitam facilmente esses princípios. Seja devido à religião, ou qualquer outro fator, é certo, por exemplo, que a vida das pessoas (principalmente das mulheres) no Irã é complicada. e, um dos filmes recentes a explorar bem essas questões é "Adeus".
Não por acaso, ele é dirigido por Mohammad Rasoulof, cineasta iraniano, que, junto com outras 16 pessoas, foi preso em março de 2010, e, mesmo aguardando julgamento, foi autorizado pelo governo a dar continuidade ao projeto deste filme. No entanto,o longa continua não tendo autorização para ser exibido no Irã.
Não por acaso, ele é dirigido por Mohammad Rasoulof, cineasta iraniano, que, junto com outras 16 pessoas, foi preso em março de 2010, e, mesmo aguardando julgamento, foi autorizado pelo governo a dar continuidade ao projeto deste filme. No entanto,o longa continua não tendo autorização para ser exibido no Irã.
Toda a carga de opressão que permeou a realização de "Adeus" está presente no filme de maneira muito sutil, mas, avassaladora. O ritmo é lento; muito lento. Mas, não é chato ou pedante. A narrativa, muitas vezes composta da "não-ação" inquieta e provoca o tempo todo, principalmente para nós, que vivemos num ambiente com alguma liberdade.
Nesse universo claustrofóbico, vamos acompanhando a via crucis de Noura, advogada especializada (ironicamente) em direitos humanos, cuja licença foi caçada e seus casos judiciais retirados. O marido, jornalista, teve o jornal em que trabalhava fechado, e agora presta serviços de construção no meio do deserto. Resta a Noura uma única saída: a sua gravidez, já que se tiver um filho fora do Irã, não será obrigada a regressar. Aos poucos, vemos todo o seu planejamento para fugir do país, ao mesmo tempo em que enfrenta um regime cada vez mais autoritário.
Nesse universo claustrofóbico, vamos acompanhando a via crucis de Noura, advogada especializada (ironicamente) em direitos humanos, cuja licença foi caçada e seus casos judiciais retirados. O marido, jornalista, teve o jornal em que trabalhava fechado, e agora presta serviços de construção no meio do deserto. Resta a Noura uma única saída: a sua gravidez, já que se tiver um filho fora do Irã, não será obrigada a regressar. Aos poucos, vemos todo o seu planejamento para fugir do país, ao mesmo tempo em que enfrenta um regime cada vez mais autoritário.
Só que todos esses pormenores da trama não são dados de mão beijada para o espectador. São pequenos momentos, olhares, diálogos curtos e a própria ambientação que vão contando tudo isso, mas, de maneira sóbria e reflexiva. A intenção é que sintamos o sofrimento de Noura, mas, sem apelações ou artifícios baratos. É um sofrimento palpável, nítido e que nos faz pensar de verdade sobre as condições de direitos humanos no Irã.
Numa determinada cena, por exemplo, uma amiga da advogada lhe diz que uma de suas antigas clientes foi condenada à morte por enforcamento, e que outras duas aguardam julgamento. Não é preciso mostrar esse fato em si para deixar a atmosfera pesada e desesperadora. Em outra ocasião, agentes do governo iraniano interceptam Noura, para fazerem uma vistoria em seu apartamento. A sequência é longa e sem cortes, não mostrando violência explícita ou qualquer coisa do gênero, mas, a ação demonstra uma brutalidade tão implícita, uma violência à dignidade humana tão voraz, que já é o suficiente para deixar a cena incomodamente contundente.
Numa determinada cena, por exemplo, uma amiga da advogada lhe diz que uma de suas antigas clientes foi condenada à morte por enforcamento, e que outras duas aguardam julgamento. Não é preciso mostrar esse fato em si para deixar a atmosfera pesada e desesperadora. Em outra ocasião, agentes do governo iraniano interceptam Noura, para fazerem uma vistoria em seu apartamento. A sequência é longa e sem cortes, não mostrando violência explícita ou qualquer coisa do gênero, mas, a ação demonstra uma brutalidade tão implícita, uma violência à dignidade humana tão voraz, que já é o suficiente para deixar a cena incomodamente contundente.
Interessante notar como todos os personagens masculinos do filme ou são covardes ou são simplesmente fracos. O único homem que, aparentemente, teria uma espécie de coragem maior para enfrentar essas dificuldades, seria o marido de Noura. Este, porém, aparece uma única vez durante todo o longa, e se mostra abatido e vencido por esses sistema.
A grande potência, a grande força para tentar subjugar esse sistema de opressão vem quase que exclusivamente das mulheres. Aqui, muitas têm ciência do que ocorre com Noura (e, com elas, por tabela), e muitas tentam ajudar (ou, amenizar) o sofrimento da advogada como podem. Através de gestos ou apenas de olhares há uma certa compreensão entre elas, ao mesmo tempo que algumas se propõem a ajudar a protagonista mediante "propina", o que mostra que a condição financeira de Noura facilita um pouco a sua situação.
No entanto, o filme ainda consegue mostrar que, independente da classe social, os direitos humanos (especificamente das mulheres) são violados com frequência no Irã. Não à toa, a produção continua sendo proibida por lá.
A grande potência, a grande força para tentar subjugar esse sistema de opressão vem quase que exclusivamente das mulheres. Aqui, muitas têm ciência do que ocorre com Noura (e, com elas, por tabela), e muitas tentam ajudar (ou, amenizar) o sofrimento da advogada como podem. Através de gestos ou apenas de olhares há uma certa compreensão entre elas, ao mesmo tempo que algumas se propõem a ajudar a protagonista mediante "propina", o que mostra que a condição financeira de Noura facilita um pouco a sua situação.
No entanto, o filme ainda consegue mostrar que, independente da classe social, os direitos humanos (especificamente das mulheres) são violados com frequência no Irã. Não à toa, a produção continua sendo proibida por lá.
Todas as atuações aqui estão ótimas, em especial, Leyla Zareh, que interpreta a personagem principal. Muitas vezes, sem dizer uma única palavra, a atriz passa toda a angústia de Noura, numa interpretação tocante, sem ser forçada para o pieguismo puro e simples.
Em termos de direção, temos em "Adeus" um baita trabalho de Mohammad Rasoulof. Suas nuances, a escolha por uma fotografia bastante escura (que combinasse com algo bastante opressor) e certos planos sequência deixam o filme arrebatador, narrando a trama sem atropelos e nos dando as informações certas nos momentos certos. O uso de uma trilha natural, que privilegiou o ambiente também ajuda na concepção das cenas. Não é pra menos que Rasoulof ganhou a Palma de Ouro pra este filme. Um prêmio, acima de qualquer suspeita, merecidíssmo.
Em termos de direção, temos em "Adeus" um baita trabalho de Mohammad Rasoulof. Suas nuances, a escolha por uma fotografia bastante escura (que combinasse com algo bastante opressor) e certos planos sequência deixam o filme arrebatador, narrando a trama sem atropelos e nos dando as informações certas nos momentos certos. O uso de uma trilha natural, que privilegiou o ambiente também ajuda na concepção das cenas. Não é pra menos que Rasoulof ganhou a Palma de Ouro pra este filme. Um prêmio, acima de qualquer suspeita, merecidíssmo.
"Adeus", acima de tudo, é um filme corajoso, que, a despeito de todas as dificuldades que enfrentou, expõe uma chaga social do Irã que o Ocidente, convenientemente, ignora. Mas, a arte (sempre ela) consegue, muitas vezes, ser mais autêntica e humana do que qualquer telejornal oportunista.
Como um verdadeiro tour the fource contra um sistema que não deveria existir nos tempos atuais, o longa de Mohammad Rasoulof evoca com maestria a necessidade da vida e da liberdade, e, principalmente, que a falta desses elementos provoca um sofrimento ainda maior em grupos específicos, como o das mulheres. Um filme que provoca, em doses iguais, tanto o Oriente (por seu sistema opressor, geralmente, baseado na religião), como o Ocidente (que se cala diante dessas constante violações dos direitos humanos).
Uma prova, em forma de cinema, que estamos (muito) atrasados.
Como um verdadeiro tour the fource contra um sistema que não deveria existir nos tempos atuais, o longa de Mohammad Rasoulof evoca com maestria a necessidade da vida e da liberdade, e, principalmente, que a falta desses elementos provoca um sofrimento ainda maior em grupos específicos, como o das mulheres. Um filme que provoca, em doses iguais, tanto o Oriente (por seu sistema opressor, geralmente, baseado na religião), como o Ocidente (que se cala diante dessas constante violações dos direitos humanos).
Uma prova, em forma de cinema, que estamos (muito) atrasados.
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