Dica de Filme ("blade runner - o caçador de andróides")
Dica de Filme
Blade Runner - O Caçador de Androides
1982
Direção: Ridley Scott
NOTA: 9/10
Blade Runner - O Caçador de Androides
1982
Direção: Ridley Scott
MESMO COM ALGUNS EFEITOS TÉCNICOS DATADOS, "BLADE RUNNER" CONTINUA SENDO UMA FICÇÃO CIENTÍFICA DENSA, PROFUNDA E VISCERAL
É inegável que algumas obras perdem força com o passar do tempo, por diversos motivos, e um dos principais é que seus realizadores só pensaram no contexto do tempo em que essas obras foram feitas. Só que existem outras que permanecem relevantes, mesmo que, visualmente, não tenham mais o mesmo impacto que antes. Isso porque o seu conteúdo (história, personagens, direção) são tão fortes, que, assistidos anos depois, décadas depois, essas obras ainda têm muito o que nos dizer.
E, uma dessas que ainda resiste bravamente até hoje é o filme "Blade Runner - O Caçador de Androides", "somente" o longa do então novato Ridley Scott, mas, cujo nível de maturidade na condução da trama não deixou a dever a nenhum veterano da sétima arte.
E, uma dessas que ainda resiste bravamente até hoje é o filme "Blade Runner - O Caçador de Androides", "somente" o longa do então novato Ridley Scott, mas, cujo nível de maturidade na condução da trama não deixou a dever a nenhum veterano da sétima arte.
"Blade Runner" é o tipo de filme que pode crescer cada vez que é revisitado. À primeira vista, parece ser só mais uma ficção científica de ação. Numa outra camada, essa, bem mais entranhada, temos a questão da identidade. "O que nos faz, de fato, sermos humanos?". "Existe algo que nos defina, e que nos faz melhores do que outras espécies?".
Obviamente que o romance "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?", de Philip K. Dick, do qual se originou o roteiro de "Blade Runner" é mais intrigante e completo. Porém, mesmo com as inevitáveis limitações de se levar uma história que misturasse existencialismo com ação futurista, o roteiro de Hampton Fancher e David Peoples explora muito bem as nuances dos personagens dando a alguns deles um ar quase tragicômico.
E, essa ótima construção de personagens começa com o sisudo Rick Deckard, um ex-policial incumbido de caça replicantes fugitivos, que nada mais são do que clones humanos (uma espécie de androide), que são escravizados fora da Terra no ano 2019.
O problema é que esses replicantes não são apenas cópias perfeitas dos humanos em termos físicos, mas, psicológicos também. Quanto mais o tempo passa, mais eles tendem a adquirir emoções humanas, o que, evidentemente, torna-se um perigo para as autoridades.
E, por falar em autoridades, o interessante é que, em momento algum da história, vemos algum resquício de governo, tanto dentro, quanto fora da Terra. O que vemos, em termos mínimos de instituições sociais, são a polícia e a empresa de engenharia responsável pelos replicantes, o que expõe um futuro sombrio, onde só existem uma organização de repressão e uma empresa privada, cujos padrões éticos se mostram inexistentes.
Por sinal, a concepção visual do ambiente que permeia a história de "Blade Runner" é bastante macabra, lembrando mais um filme de terror do que uma ficção científica propriamente dita. As cidades estão na escuridão a maior parte do tempo, e a única iluminação que se vê é a da propaganda incessante e os faróis nas naves policiais. Nesse aspecto, mais uma ótima simbologia a ser percebida: os únicos raios de luz que incidem nesse mundo sombrio e sem esperança são os da publicidade e os das autoridades que restaram.
As castas sociais também são bem definidas, onde a elite se diverte em espetáculos bizarros, causando muito mais repulsa do que as ruas sujas e superpopulosas das cidades. Em suma, nada tão diferente do, digamos, "futuro atual" que vemos em pleno 2017, apenas dois anos antes do período em que se passa o filme.
No entanto, apesar da ótima ambientação, os efeitos especiais mostram-se, sim, um tanto datados (apesar de ainda continuarem interessantes, mesmo depois de tantos anos). O que talvez incomode mais seja a trilha intrusiva demais do grupo Vangelis, cujo som recorrente de sintetizadores acaba deixando algumas cenas um pouco estranhas demais, como no caso da morte de uma determinada personagem.
Porém, o fator principal que fez de "Blade Runner" um clássico (a história) continua intacto. E, uma baita história conduzida por personagens memoráveis, onde o melhor deles é, sem dúvida, Roy Batty, um replicante que busca um sentido para a sua existência, ao mesmo tempo que deseja confrontar os seus "criadores". Tendo cada vez mais consciência e sentimentalidades tipicamente humanas, Roy, apesar de atitudes violentas, não chega a ser necessariamente um vilão, e sim, um ser "jogado" neste mundo, com prazo de validade bem definido, mas, que quer "algo a mais". Ele é quem acaba sendo o mais importante fio condutor da trama, mais até do que o próprio Rick.
Outro ponto a se destacar é o impressionante domínio narrativo de Ridley Scott. Mesmo sendo este um filme relativamente curto, em nenhum momento, a produção dá sinais de cansaço, acelerando na hora certa, e tendo cenas mais reflexivas nos instantes precisos. construindo uma impactante história, onde atmosfera e personagens estão em perfeita simbiose. Um primor.
Em termos de atuações, mesmo que Harrison Ford de esforce bem para dar veracidade ao seu Rick Deckard (e, consegue), o filme é mesmo de Rutger Hauer, que possui as melhores falas, e protagoniza cenas verdadeiramente aterradores. Se há toda uma filosofia em "Blade Runner" que até hoje desperta interesse, isso se deve ao personagem Roy Batty, cujas palavras finais são de uma beleza e de uma dimensão humana arrebatadora.
E, por fim, mesmo eclipsadas um pouco pela presença de Rutger Hauer e Harrison Ford, Sean Young e Daryl Hannah conseguem compor bem suas personagens, em especial, a segunda, que transformou a figura da replicante Pris numa espécie de ícone cult da ficção científica.
"Blade Runner - O Caçador de Androides" ainda faz por merecer a alcunha de clássico. Com personagens marcantes, e uma história muito bem contada e com um ótimo nível de complexidade (bem maior do que o dos blockbusters atuais), é o tipo de produção que precisa ser vista e revista inúmeras vezes, para irmos captando cada vez mais mensagens e simbolismos. E, no centro de tudo isso, a pergunta principal que "Blade Runner" nos questiona continua pertinente:
"O que nos faz, de fato, sermos humanos?"
Obviamente que o romance "Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?", de Philip K. Dick, do qual se originou o roteiro de "Blade Runner" é mais intrigante e completo. Porém, mesmo com as inevitáveis limitações de se levar uma história que misturasse existencialismo com ação futurista, o roteiro de Hampton Fancher e David Peoples explora muito bem as nuances dos personagens dando a alguns deles um ar quase tragicômico.
E, essa ótima construção de personagens começa com o sisudo Rick Deckard, um ex-policial incumbido de caça replicantes fugitivos, que nada mais são do que clones humanos (uma espécie de androide), que são escravizados fora da Terra no ano 2019.
O problema é que esses replicantes não são apenas cópias perfeitas dos humanos em termos físicos, mas, psicológicos também. Quanto mais o tempo passa, mais eles tendem a adquirir emoções humanas, o que, evidentemente, torna-se um perigo para as autoridades.
E, por falar em autoridades, o interessante é que, em momento algum da história, vemos algum resquício de governo, tanto dentro, quanto fora da Terra. O que vemos, em termos mínimos de instituições sociais, são a polícia e a empresa de engenharia responsável pelos replicantes, o que expõe um futuro sombrio, onde só existem uma organização de repressão e uma empresa privada, cujos padrões éticos se mostram inexistentes.
Por sinal, a concepção visual do ambiente que permeia a história de "Blade Runner" é bastante macabra, lembrando mais um filme de terror do que uma ficção científica propriamente dita. As cidades estão na escuridão a maior parte do tempo, e a única iluminação que se vê é a da propaganda incessante e os faróis nas naves policiais. Nesse aspecto, mais uma ótima simbologia a ser percebida: os únicos raios de luz que incidem nesse mundo sombrio e sem esperança são os da publicidade e os das autoridades que restaram.
As castas sociais também são bem definidas, onde a elite se diverte em espetáculos bizarros, causando muito mais repulsa do que as ruas sujas e superpopulosas das cidades. Em suma, nada tão diferente do, digamos, "futuro atual" que vemos em pleno 2017, apenas dois anos antes do período em que se passa o filme.
No entanto, apesar da ótima ambientação, os efeitos especiais mostram-se, sim, um tanto datados (apesar de ainda continuarem interessantes, mesmo depois de tantos anos). O que talvez incomode mais seja a trilha intrusiva demais do grupo Vangelis, cujo som recorrente de sintetizadores acaba deixando algumas cenas um pouco estranhas demais, como no caso da morte de uma determinada personagem.
Porém, o fator principal que fez de "Blade Runner" um clássico (a história) continua intacto. E, uma baita história conduzida por personagens memoráveis, onde o melhor deles é, sem dúvida, Roy Batty, um replicante que busca um sentido para a sua existência, ao mesmo tempo que deseja confrontar os seus "criadores". Tendo cada vez mais consciência e sentimentalidades tipicamente humanas, Roy, apesar de atitudes violentas, não chega a ser necessariamente um vilão, e sim, um ser "jogado" neste mundo, com prazo de validade bem definido, mas, que quer "algo a mais". Ele é quem acaba sendo o mais importante fio condutor da trama, mais até do que o próprio Rick.
Outro ponto a se destacar é o impressionante domínio narrativo de Ridley Scott. Mesmo sendo este um filme relativamente curto, em nenhum momento, a produção dá sinais de cansaço, acelerando na hora certa, e tendo cenas mais reflexivas nos instantes precisos. construindo uma impactante história, onde atmosfera e personagens estão em perfeita simbiose. Um primor.
Em termos de atuações, mesmo que Harrison Ford de esforce bem para dar veracidade ao seu Rick Deckard (e, consegue), o filme é mesmo de Rutger Hauer, que possui as melhores falas, e protagoniza cenas verdadeiramente aterradores. Se há toda uma filosofia em "Blade Runner" que até hoje desperta interesse, isso se deve ao personagem Roy Batty, cujas palavras finais são de uma beleza e de uma dimensão humana arrebatadora.
E, por fim, mesmo eclipsadas um pouco pela presença de Rutger Hauer e Harrison Ford, Sean Young e Daryl Hannah conseguem compor bem suas personagens, em especial, a segunda, que transformou a figura da replicante Pris numa espécie de ícone cult da ficção científica.
"Blade Runner - O Caçador de Androides" ainda faz por merecer a alcunha de clássico. Com personagens marcantes, e uma história muito bem contada e com um ótimo nível de complexidade (bem maior do que o dos blockbusters atuais), é o tipo de produção que precisa ser vista e revista inúmeras vezes, para irmos captando cada vez mais mensagens e simbolismos. E, no centro de tudo isso, a pergunta principal que "Blade Runner" nos questiona continua pertinente:
"O que nos faz, de fato, sermos humanos?"
Blade Runner é, de longe, meus filmes favoritos. Ridley Scott é um grande diretor e o mostra com um filme avançado para o seu tempo. Eu vi o novo filme e pareceu excelente. Na minha opinião, Blade Runner 2049 foi um dos mehores filmes de drama que foi lançado. O filme superou as minhas expectativas, O roteiro do filme foi muito original, um dos aspectos mais notável desta produção foi a trilha sonora. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. Eu gosto muito.
ResponderExcluirRealmente Blade Runner não é para qualquer um. Assim como o livro de PKD. A temática requer uma compreensão que poucos tem e/ou conseguem ter. Remete o espectador (puxa) para introspecção .
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