lista de fim de ano ("melhores filmes de 2018")
Melhores Filmes de 2018
Cinema é terapia. Essa máxima fez bastante sentido em 2018, um ano verdadeiramente difícil, em diversos aspectos. Os melhores filmes acabaram servindo como uma espécie de expurgo e válvula de escape das mazelas sociais que vivemos atualmente. Até blockbusters de super-heróis tiveram algo de relevante a dizer. E, agora que chegamos ao final do ano, chegou o momento de fazer essa retrospectiva do que mais me marcou nesses últimos meses. Um apanhado muito pessoal, diga-se. Espero que gostem.
E, que 2019 seja um ano, pelo menos, bom (inclusive, no cinema).
Pantera Negra
Direção: Ryan Coogler
Sem dúvida, "Pantera Negra" fez um tremendo alarde em sua estreia. Não é à toa. Nunca antes um herói negro havia chegado ao cinema com tamanha força (a bilheteria de mais de 1 bilhão de dólares demostra isso), e a produção foi bastante elogiada por encorajar diversas crianças negras ao redor do mundo a se sentirem empoderadas (verdadeiros heróis). Como filme, Pantera Negra também não decepciona, entregando uma história simples, mas coesa, e um vilão muito bem construído. Mesmo que o final apele para os velhos clichês da Marvel, a produção termina de maneira bem satisfatória. WAKANDA FOREVER!
Os Incríveis 2
Direção: Brad Bird
14 anos de espera tinham que valer a pena. E, valeram. Depois do enorme sucesso do primeiro filme (uma apaixonante homenagem ao universo dos super-heróis), a sua continuação, comandada pelo mesmo Brad Bird, precisa ir um pouco mais além para conseguir novos fãs, e alegrar os antigos. Com uma trama bem elaborada, ótimas piadas, personagens cativante, e um senso forte de empoderamento feminino, Os Incríveis 2 é um prato cheio. Iguaria fina em meio a animações que apostam sempre no mais do mesmo.
The Breadwinner
Direção: Nora Twomey
Parente bem próximo de Persépolis, The Breadwinner é uma animação com aquele foco muito particular de mostrar como a estupidez da guerra afeta, sobretudo, as crianças, e como elas veem tamanho coisas absurdas. Com um nível de animação muito correto, e personagens bem estruturados, o desenho, mesmo podendo ser assistido pelo público infantil, cai como uma luva para os adultos, que se deparam com uma tocante história de como o fanatismo religioso (e outras coisas absurdas) afetam a vida dos mais vulneráveis.
Nasce uma Estrela
Direção: Bradley Cooper
Muito se especulou se essa nova versão de Nasce uma Estrela conseguiria manter o encanto dos originais, e ainda trazer algo de novo. A resposta é sim: conseguiu. Mesmo que a narrativa, às vezes, pareça um pouco apressada demais, conseguimos embarcar na história do casal de protagonistas, e conseguimos enxergar ali carinho, afeto e até amor. Com uma ótima trilha sonora e atuações convincentes, Nasce uma Estrela é, no final das contas, um belo romance.
Buscando...
Direção: Aneesh Chaganty
Qual filme atualmente pode ser dar ao luxo de ser, realmente, visionário ou inovador? Buscando... parte de uma premissa muito simples para contar uma história de um jeito único, e o resultado é uma das produções mais criativas e interessantes que surgiram no cinema nos últimos anos. O melhor de tudo é que não se trata apenas de uma narrativa intrigante, pois o filme também conta com uma trama cativante, bem estruturada, onde temos grandes chances de nos identificar muito com o personagem principal. Um fresco de novidade em meio a tanta mesmice.
A Forma da Água
Direção: Guillermo Del Toro
Há muito tempo Del Toro já vinha por merecer um reconhecimento mais amplo de seu talento. Desde a estreia com o curioso Cronos, passando pelo petardo que foi O Labirinto do Fauno, e chegando finalmente aqui. A Forma da Água é um deleite para os amantes do bom cinema, uma fábula adulta que homenageia a própria sétima arte de maneira belíssima. Isso sem contar nos subtextos que a história agrega, como preconceito e intolerância em todos os níveis. Um romance "diferente", digamos assim, mas, muito bonito de acompanhar.
O Ódio que Você Semeia
Direção: George Tillman, Jr.
Em tempos em que o racismo está sendo cada vez mais confrontado, ao mesmo tempo em que teima em continuar existindo na sociedade, é muito positivo que uma produção juvenil tenha abordado esse tema de maneira tão pungente. Claro que existe aqui e acolá algumas situações um pouco piegas e forçadas, mas, é bom lembrar que não estamos falando, necessariamente, de um filme totalmente independente, com liberdade total pra pegar mais pesado em certos aspectos. E, mesmo assim, é uma produção importante, principalmente porque atinge, em cheio, o seu público-alvo: os mais jovens.
O Insulto
Direção: Ziad Doueiri
O Insulto é quase um documentário involuntário que retrata muito bem a estupidez e mesquinhez que vivemos nos dias de hoje, onde algo relativamente pequeno pode reverberar em algo muito maior, de proporções inimagináveis. Adicione a esse caldeirão componentes de intolerância religiosa, e você verá como as pessoas podem ser patéticas, e irem ao limite de um confronto sem sentido apenas por orgulho, ou coisas do tipo. Um ótimo estudo sociológico para definir a sociedade atual.
A Morte de Stálin
Direção: Armando Iannucci
Muito bom assistir a um filme que sabe trabalhar bem o chamado humor negro. Não somente isso: também sabe como ser uma sátira política das melhores, sempre com inteligência e sagacidade. A Morte de Stálin é um bom exemplo disso, e mesmo que alguns momentos sejam mais sérios ou dramática, o filme consegue equilibrar os seus muitos tons de maneira orgânica. Com um elenco formidável, esse longa é um deleite de se assistir.
Coco - A Vida é uma Festa
Direção: Lee Unkrich
Salvo raríssimas exceções, a Pixar consegue ser aquele estúdio onde sempre vamos encontrar um filme que realmente vale a pena, que seja acima da média. A Vida é uma Festa não é necessariamente original, como muitas outras produções anteriores do estúdio, mas é tão cativante, que acompanhamos a jornada do protagonista com um interesse ímpar. Isso sem contar no desbunde visual que a animação nos proporciona. Pois é: a Pixar conseguiu de novo.
Uma Noite de 12 Anos
Filmes a respeito das ditaduras militares que assolaram a América Latina nas últimas décadas não é, necessariamente, uma novidade. Mas, quando uma produção com essa temática é, verdadeiramente, feita afico, o resultado é forte, e nos faz pensar de uma maneira mais especial. No caso de Uma Noite de 12 Anos, o que acompanhamos é a via crucis de três guerrilheiros tupamaros, que foram presos durante a ditadura uruguaia, e passaram longos 12 anos encarcerados. O filme se concentra da resistência dessas três pessoas, onde cada um arruma um meio de suportar tamanha violência. Um soco no estômago.
Infiltrado na Klan
Direção: Spike Lee
Há muito Spike Lee nos devia um filme realmente relevante. Não que ele não tenha talento para mostrar o que sabe. O problema é que as suas produções mais recentes, a despeito do forte discurso que continham, não possuíam personagens e tramas que sustentassem um longa metragem inteiro, o que transformava a experiência de assistí-los em algo pedante. Aqui, não. Partindo de uma história real (mas que, de tão surreal, parece mentira) Lee nos mostra o quão o racismo entranhado nos EUA produz conflitos e tragédias (até os dias de hoje).
Custódia
Direção: Xavier Legrand
Produções naturalistas tendem a desagradar boa parte dos cinéfilos de plantão, mas, a verdade é que se tratam, muitas vezes, de filmes que expõem de maneira certeira certos problemas sociais, que, talvez em outro formato, não produzisse as reflexões necessárias. Custódia fala de muitos assuntos (conexão entre pais e filhos, relacionamento abusivo...), e acerta em praticamente todos, pra, no final, transformar-se quase em um filme de terror. Uma produção crua, e importante de ser vista.
Roma
Talvez o filme mais comentado do ano. Depois de Gravidade (um filme interessantíssimo visualmente, mas, pobre em termos de história), Cuarón resolveu fazer uma viagem mais pra dentro de si, compondo, milimetricamente, uma produção que tem muito a ver com a sua infância, ao mesmo tempo que tem como pano de fundo, importantes mudanças político-sociais no México dos anos 70. Mostrado inteiramente através do ingênuo olhar de Cleo, empregada de uma família de classe média, o filme consegue abordar desde questões sociais (como a expulsão dos indígenas de uma região, que agora, são meros empregados de uma casta branca e rica), até questões mais filosóficas, como o ciclo sem fim de quem não tem esperança numa mudança de vida pra melhor. Um dos mais belos filmes de Cuarón em toda a sua carreira.
A Balada de Buster Scruggs
Direção: Ethan e Joel Coen
Os irmãos Coen são sempre de confiança. Mesmo quando fazem trabalhos "menores", como Ave César, ainda assim, conseguem algo acima da média. Nesse caso aqui temos uma baita homenagem aos filmes de faroeste (claro, bem ao estilo dos diretores). São seus contos narrados como se estivessem em um livro, cada um melhor do que o outro, e tendo a morte como tema central de todos. Incrível como o estilo dos Coen se mantém impecável. seja nas histórias mais puxadas para a comédia, seja para aquelas de um humor negro mordaz, seja naquelas onde o mais profundo drama se sobressai. Uma verdadeira aula de cinema, tanto em termos narrativos, quanto em questões visuais (a fotografia é estonteante). Prova de que os irmãos Coen têm muito a oferecer ainda. Que venhaa logo o próximo trabalho deles.
Hereditário
Direção: Ari Aster
Fazer um filme de terror bom de verdade não parece difícil. Afinal, mexer com o medo das pessoas no cinema é relativamente simples (ou, pelo menos, deveria ser). A questão é que os filmes desse gênero (com uma ou outra exceção) vêm se mostrando mais do mesmo, onde eles conseguem de todo (menos que o espectador sinta medo). Hereditário veio justamente para mostrar como se faz: uma produção perturbadora, que vai se transformando ao longo de sua condução em algo ainda mais amedrontador, e que não tem receio de chocar o público. O incômodo é nítido, muito por conta da direção preciosíssima de Ari Aster. Isso sem contar as ótimas atuações do elenco principal. Sim, um filme de terror ainda pode meter medo no público. Basta talento.
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