DICA DE FILME ("Feitiço do Tempo")
Dica de Filme
Feitiço do Tempo
1993
Direção: Harold Ramis
NOTA: 8,5/10
Feitiço do Tempo
1993
Direção: Harold Ramis
Bill Murray encara um estranho loop temporal neste simpático filme, que diz bem mais do que aparenta
Por vezes, a vida parece um eterno déjà-vu, com várias coisas (algumas, insuportáveis, outras, maravilhosas, e outras tantas apenas chatas, mesmo) se repetindo diariamente, sem que façamos algo realmente diferente para mudarmos qualquer panorama que nos desagrade.
E, é justamente esse um dos pontos centrais que encontramos na ótima história de Feitiço do Tempo, filme protagonizado por um Bill Murray em excelente forma, e comandado por Harold Ramis, que fez bastante sucesso na década de 80 com os dois Caça-Fantasmas. Aqui, temos um caso de enredo simples (porém, que não é raso), e que esconde inúmeras camadas interessantes à medida que vamos assistindo e interagindo com a trama e os seus personagens.
Não é preciso mais do que alguns poucos minutos para amarmos/detestarmos o protagonista desta instigante história: meteorologista Phil. Bastante arrogante com todos, ele se vê como uma estrela no ramo, porém, apesar de sua antipatia, ele tem certo carisma. Isso porque não se trata de um antipático padrão: Phil consegue ser engraçado e sarcástico quando quer, e isso faz com que ele seja alguém completamente chato e insuportável.
Só que, a partir do momento em que um estranho e inexplicável loop temporal começa a se suceder, ele meio que deixa a graça e o sarcasmo de lado, para mostrar atitudes mais mesquinhas e egoístas ainda. Por ter a impressão de que não haverá um "amanhã", ele passa a não ter receio, inclusive, de flertar com Rita, sua companheira de profissão, mesmo que isso signifique "trapacear" no jogo da conquista.
Esses pontos são apenas a superfície do que o esperto roteiro de Ramis e de Danny Rubin oferece. Ao termos um personagem que se mostra sem escrúpulos quando lhe é permitido fazer o que quiser, a história consegue nos fazer refletir sobre questões fundamentais da nossa existência em sociedade, como, por exemplo, a ética, seja ela profissional, ou pessoal.
E, curiosamente, é somente quando as investidas de Phil a Rita vão fracassando dia após dia, sucessivamente, que ele vai entrando numa paranoia de que aquele que dia que sempre se repete é mais uma maldição do que uma benção, e passando a amadurecer. Acontece, então, um interessante "renascimento" do personagem ao longo da trama, que passa a fazer uma reflexão maior sobre as suas ações cotidianas, inclusive, entendendo que mesmo se esforçando, certas coisas são inevitáveis.
E, não importa que você tenha a oportunidade de voltar no tempo, e poder fazer diferente.
Não nos esqueçamos, contudo, que estamos diante de uma comédia, e, nesse sentido, Feitiço do Tempo é igualmente excelente. Algumas vezes, é um humor mais bobo, e em outros, é mais sutil, mas nunca é ofensivo.
E, é claro que nesse aspecto a grande estrela da trama é o personagem Phil, que, de tão antipático e malandro em algumas ocasiões, acaba se tornando muito engraçado também. No entanto, outros personagens têm os seus momentos, como o cinegrafista Larry, por exemplo, que tem algumas cenas bem divertidas. Nesse aspecto, vale muito a pena ressaltar agora as atuações. Bill Murray, óbvio, está ótimo no papel do protagonista.
Com gags visuais bem menos afetadas do que um Jim Carrey da vida, por exemplo, ele faz rir toda vez que aparece em tela. Já, Andie MacDowell, mesmo contida, convence como Rita, e tem seu carisma. O restante do elenco não é excepcional, mas, consegue ser sair relativamente bem.
Nisso, temos uma direção de mão muito leve de Ramis, que conduz todas as cenas de maneira orgânica, sem nunca cansar a narrativa.
No entanto, a despeito das qualidades interpretativas e da direção, o maior mérito de Feitiço do Tempo está mesmo em um roteiro muito bem escrito, que pode parecer simplório à primeira vista, mas que carrega algumas nuances verdadeiramente interessantes.
Ao abordar a questão do que faríamos se não houvesse consequências dos nossos atos amanhã, a produção nos lembra o quanto a vida, em si, é mais complexa do que imaginamos, e que toda e qualquer atitude (certa ou errada) possui consequências. Longe de ser piegas, essa abordagem (embalada em uma comédia) consegue ser, ao mesmo tempo, intrigante na forma, e cativante do conteúdo.
Uma das melhores produções norte-americanas dos anos 90, sem dúvida.
NOTA: 8,5/10
Enquanto não evoluímos, não passamos para a etapa seguinte, é a clara mensagem do filme. Achei bárbaro esse viés do filme. Parabéns pela análise. Que analisa e não conta.
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