Filme Mais ou Menos Recomendável ("Mulher Maravilha 1984")
Filme Mais ou Menos Recomendável
Título: Mulher Maravilha 1984
Ano de lançamento: 2020
Direção: Patty Jenkins
Já virou chavão dizer que filmes de super-herois estão apresentando sinais de cansaço. Ainda é bem cedo pra afirmar isso, mas, também é certo de que a nova safra de produções desse subgênero tem causado certa decepção, especialmente aquelas vindas da Warner/DC.
Provavelmente o grande problema seja mesmo a falta de foco. Enquanto o grande "elefante branco" do estúdio (o "Liga da Justiça de Zack Snyder") não estreia, fica-se a impressão de que não se sabe se a Warner/DC quer apostar em filmes sombrios e reflexivos, ou então em produções mais alegres e vibrantes.
E é nessa indecisão (que mais parece falta de rumo mesmo) que Mulher Maravilha 1984 chega. Pior: chega sem muito propósito dentro do seu próprio universo, onde a história em si e o desenvolvimento da protagonista são pessimamente explorados em um roteiro que não se decide entre um drama, uma comédia exagerada ou uma ação desenfreada.
Na dúvida, a mistura de gêneros soa indigesta, com alguns poucos pontos a favor.
Fora isso, o ano de 1984 parece ter sido escolhido somente para rechear a história de piadas óbvias e que já perderam a graça. O problema é que esse artifício já está saturado há uns 2 ou 3 anos, quando até Stranger Things não tinha mais o que dizer já na terceira temporada. Ou seja, esse novo filme da Mulher Maravilha nasce datado e (principalmente) forçado.
O filme até começa ok. Os 10 primeiros minutos, mostrando uma Diana ainda criança e imatura, são bem empolgantes, mesmo que os efeitos especiais não ajudem muito. Ainda assim, uma boa forma de começar um filme de super-herois.
O ruim é o que vem em seguida, quando vemos Diana/Mulher Maravilha, já em 1984, salvando o dia algumas vezes. Tudo é filmado de forma bem cartunesca e "divertida". No entanto, são momentos tão plastificados (e destoantes das cenas iniciais), que fica difícil "entrar" no filme. Parece que estamos assistindo a dois curtas de realizadores diferentes e não um filme de duas horas e meia de duração que deveria ser, em tese, coeso.
Pula, então, para mais uma sequência de cenas aleatórias, onde o que impera agora é o drama. Só que é um drama igualmente forçado e pouco orgânico. Ou seja, a essa altura, já deu pra notar que o grande problema (pelo menos, nesse primeiro ato) é uma incômoda falta de unidade narrativa, não é mesmo?
A coisa não melhora nem um pouco quando outra personagem surge na trama: Barbara, cientista que trabalha com Diana em um museu. O problema? Já vimos esse filme antes: uma personagem desastrada e antissocial, que, mais pra frente, irá se transformar em um vilão estiloso, com uma personalidade totalmente diferente daquela apresentada no início (igualzinha a Mulher Gato de Batman: O Retorno e o Charada de Batman Eternamente). Pra uma criança de 10 anos, que está começando a consumir cultura pop agora, talvez essa composição clichê funcione.
Pelo menos, nesse ponto, o filme encontra algum motivo pra ser retratado na década de 80, já que, de certa forma, Lord representa muitos jovens que viveram a ilusão de ascensão financeira na época. Um personagem que tem muito mais a oferecer, dramaticamente falando, do que aparenta. É justamente ele quem salva o filme de ser realmente ruim em muitos momentos.
Ainda temos a volta forçada (e bota forçada nisso) de Steve Trevor, só pra mostrar que Diana, depois de décadas, não amadureceu. Se no filme anterior Steve é a mola propulsora que impulsiona a Mulher Maravilha a derrotar o grande vilão, aqui ele é (mais uma vez) o personagem que tem que tomar a decisão certa no final, e que (mais uma vez) tem que ensinar algo de importabte a Diana.
Ou seja, ao contrário de Max Lord, que começa e termina essa jornada de maneira bem diferente, com um arco interessante na construção do seu personagem, a protagonista parece começar o primeiro filme e terminar o segundo exatamente da mesma forma. Sem evolução, sem aprendizados importantes, sem nada. Para uma heroína que faz parte do panteão dos semi-deuses da DC, convenhamos, isso é muito pouco.
É incômodo ver que artifícios baratos de roteiro transformaram a Mulher Maravilha em uma heroína imatura, com uma motivação amorosa piegas, e que funciona convenientemente como uma bússola moral. É como se Diana ainda fosse incapaz de entender qual o certo a se fazer, e só tivesse alguma motivação na vida por conta, única e exclusivamente, da presença de Steve. Em suma: um repeteco piorado do filme anterior.
Mesmo com alguns pontos positivos, os defeitos são muitos. Roteiro confuso (última e sofrida contribuição de Geoff Johns com a DC no cinema), trilha sonora bem pomposa e desinteressante de Hans Zimmer, efeitos visuais um tanto limitados e direção sem grande inspiração e fluidez. O filme faz coro com praticamente todas as produções recentes da DC, que, por algum motivo estranho, não conseguem passar a carga de heroísmo necessária que os seus personagens são capazes.
E, claro, pra completar, ainda tem o incômodo subtexto de que, mais uma vez, um homem precisa ensinar à maior heroína da DC alguns valores básicos (algo que, na prática, ela já deveria ter aprendido). É um tipo de reducionismo sutil, nas entrelinhas, mas que não deixa de estar presente.
Sim, o filme é um pouco melhor do que o primeiro, mas, só um pouco mesmo. No geral, continua sendo um universo que poderia render grandes momentos cinematográficos do universo DC, mas, que acaba sendo apenas um produto como tantos outros, sem nenhum grande destaque, e ainda não fazendo jus aos heróis mais poderosos e virtuosos da Terra.
Nota: 5,5/10
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