DICA DE FILME ("OS CANHÕES DE NAVARONE")
Dica de Filme
Título: Os Canhões de Navarone
Ano de lançamento: 1961
Direção: J. Lee Thompson
Épico hollywoodiano revisita um dos vários pequenos (e marcantes) episódios da Segunda Guerra
Filmes de guerra, em geral, podem parecer que sempre utilizam a mesma fórmula (pessoas comuns indo ao limite de suas forças para cumprirem uma única missão), mas, o grande diferencial entre eles é a forma como cada um expõe valores humanos diante de situações extremas, onde, muitas vezes, a ética e a moralidade são vistos como fraqueza.
No caso de "Os Canhões de Navarone", superprodução da Columbia Pictures no início da década de 60, o enredo mostra uma missão suicida que tem por objetivo destruir dois poderosos canhões alemães na Ilha de Egeu, na Grécia, onde dois militares irão formar um grupo de combate para adentrar na toca do inimigo, e explodir essas armas. Só que, para além dessa premissa básica, roteiro e direção exploram dois pontos fundamentais: perseverança e força de caráter em face de situações difíceis e cenas com rigor técnico elaboradíssimo.
Acertadamente, o filme começa aos poucos, concentrando-se incialmente no personagem do Capitão Keith Mallory, e mostrando os outros protagonistas da trama com o desenrolar do primeiro ato. São sequência aparentemente calmas, mas, que possuem um clima de tensão no ar, auxiliado bastante pelos ótimos diálogos, especialmente no que se refere a criticar, mesmo que sutilmente, os mandatários da guerra, enquanto os soldados são usados como bucha de canhão.
É quando se juntam ao grupo o Coronel Andrea Stavros, entre outros, que o filme, de fato, engrena, e pudemos perceber o quanto "Os Canhões de Navarone" é um excelente filme de guerra, mesclando diálogos certeiros, com algumas cenas de cair o queixo.
Talvez, a grande primeira cena seja a do desembarque na ilha onde irá ocorrer a missão. Num impressionante jogo de efeitos visuais, a angústia e o sofrimento de enfrentar as forças da natureza são muito bem explicitados nesse momento, que é um dos mais impressionantes e agoniantes do longa. E, quanto mais o filme avança, mais vamos entendendo aqueles personagens, seus anseios e traumas.
Ou seja, a produção não se limita a mostrar cenas grandiloquentes de ação e aventura, como se a guerra não fosse algo sério. A todo momento somos lembrados dos horrores que um conflito armado pode gerar, especialmente que sabemos a história de vida do Coronel Andrea. Por sinal, cada personagem aqui, por menor que seja sua participação, é marcante de algum jeito, como o "Açougueiro de Barcelona", que tem um excelente diálogo com o Capitão Keith.
Mesmo a inserção posterior de outros personagens não atrapalha de forma nenhuma a trama. Ao contrário: a enriquece ainda mais, pois, dá outras perspectivas sobre a guerra, aprofundando ainda mais o debate ético e moral que assola as pessoas em momentos como estes, onde não existe necessariamente o certo absoluto e o errado absoluto. A personagem Anna exemplifica bem isso.
Inclusive, há de se destacar também outro personagem, o Moleiro, especialista em bombas, e que, ironicamente, é o que tem os discursos mais pacifistas proferidos aqui, expondo de maneira clara que uma missão a mais ou a menos não vai interferir no futuro de uma guerra. São momentos de diálogos autênticos, e que servem para mostrar o quanto um conflito desses não faz sentido, mesmo que filmes da mesma época sejam mais declaradamente antibelicistas ("Dr. Fantástico" e "Limite de Segurança").
O nível da produção em termos técnicos e de roteiro é formidável, mas, isso não seria o bastante se os atores não estivessem bem. Mesmo que, por vezes, pareça só um canastrão em cena, Gregory Peck funciona muito bem como um militar no limite entre fazer ou não coisas odiosas para cumprir sua missão. Porém, Anthony Quinn está melhor, com toda a sua amargura por conta de uma tragédia pessoal do personagem. O restante do elenco também se impõe de maneira bem convincente.
"Os Canhões de Navarone" tem todos os atributos de um clássico do cinema de guerra, ainda mais do que muitas produções atuais. Com um elenco muito bom, um recorte preciso daquele conflito e que gera um clima de tensão absurdo, e críticas pontuais (mesmo que reine certo maniqueísmo na trama, o que é inevitável para uma superprodução hollywoodiana da época), o filme consegue nos fazer imergir num conflito de grande magnitude. Um clássico, enfim.
Nota: 9,5/10
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