DICA DE FILME ("O CULTO")

 Dica de Filme


Título: O Culto
Ano de lançamento: 2017
Direção: 
Justin Benson e Aaron Moorhead



 Drama com toques de horror e ficção científica à lá Lovecarft instiga pela qualidade da história e pela construção de personagens


O cinema hollywoodiano independente, inúmeras vezes, proporcionou ótimas surpresas, mesmo com escassez de recursos. Prova de que, quando há real talento envolvido, basta uma boa história contada da maneira correta para se destacar em meio a um oceano de marasmo e superficialidade. 

É o caso dos irmãos Justin Benson e Aaron Moorhead que, em "O Culto", compensam a falta de maiores recursos financeiros com bastante inventividade, mesmo que a trama, em si, seja velha conhecida de quem gosta de horror e ficção científica. E, como além de dirigirem, produzem e atuam nos papéis principais, temos aqui um exemplar com uma autoralidade latente. 

Se em outras casos, isso poderia levar a um filme mal feito, aqui, a coisa é diferente porque Benson e Moorhead têm pleno controle e conhecimento do que querem abordar em seu trabalho, e mesmo que o longa tenha toques de estranheza sobrenatural, o que prevalece é um fator humano muito palpável, além de alguns questionamentos filosóficos interessantes.




Claro, temos que ter em mente que "O Culto" não é nenhum "Solaris" ou "2001". As reflexões são mais simples e modestas, mas, nem por isso, menos intrigantes. E a imersão na história só é possível porque a trama é contada de maneira cautelosa, sem atropelos, onde, primeiramente, acompanhamos o dia a dia dos irmãos Justin e Aaron. 

Nenhuma cena e nenhum diálogo são desperdiçados nesses primeiros momentos, onde vemos a interação de ambos, um pouco do que pensam e mais ou menos quais são os seus conflitos e frustrações. Essa construção é essencial antes que o filme comece a "mostrar a que veio" mais lá na frente, fazendo também com que nos importemos com esses personagens. 

Justin e Aaron parecem duas pessoas reais, com dilemas reais e preocupações palpáveis. E, mesmo quando coisas mais estranhas acontecem na segunda metade do filme, a história, ainda assim, permanece muito pé no chão e crível nos momentos mais importantes, não deixando que esqueçamos que, acima de tudo, ali se trata de um drama, cujos temas principais são amadurecimento e aceitação. 




Mesmo que "O Culto" seja mais um drama no final das contas, ele também é criativo o suficiente para prender a atenção do espectador com estranhos e macabros acontecimentos que vão ajudando a desvendar aos poucos as peças de um interessante e assustador quebra-cabeças. Pra quem já assistiu e gostou de séries como "Lost" e "Dark", por exemplo, vai encontrar aqui terreno de muita apreciação. 

O melhor: nada é complicado demais a ponto de deixar a trama intrincada em excesso. Os elementos sobrenaturais são inseridos de forma gradual e criativa o suficiente para deixar a história mais rica, dando a possibilidade de reflexão sobre dilemas muito humanos, como a fuga do tédio cotidiano, a busca por conforto e segurança, a angústia da finitude e a proximidade da morte, entre outros assuntos. 

Só que tudo isso não seria feito com tanta qualidade se não fossem o esforço dos irmãos Benson e Moorhead. Como diretores, eles conseguem imprimir uma gradação narrativa muito boa, fazendo com que fiquemos interessados o que irá acontecer na próxima cena. Como atores, eles também conseguem um resultado muito convincente, com performances naturais e diálogos bem espontâneos. 




Conseguindo mesclar o intrigante e o assustador com elementos mais intimistas e até filosóficos, "O Culto" é uma pequena pérola do cinema independente dos EUA, mostrando que, muitas vezes, uma boa e interessante história vale mais do que qualquer mega produção. 


Nota: 8,5/10


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