Dica de Filme ("Pureza")

 Dica de Filme


Título: Pureza
Ano de lançamento: 2022
Direção: Renato Barbieri


A força de mulher contra um sistema

Filmes-denúncia são sempre bem-vindos nos dias de hoje. É o caso daqueles que falam sobre a escravidão moderna (ou, como podemos chamar também: trabalho análogo à escravidão). Até mesmo porque, há não muito tempo (coisa de alguns meses apenas), vimos nos noticiários o resgate de trabalhadores escravizados em uma vinícula no sul do país, o que mostra o quanto o tema continua sendo necessário para o debate público em pleno 2023. 

Em 2021, relacionado a essa temática específica, tivemos o excelente "Os 7 Prisioneiros", e um ano depois, este "Pureza". A diferença é que o primeiro trata da escravidão na cidade grande, e neste aqui, a história se passa 30 anos atrás no campo, mas, mesmo assim, ainda é um assunto do hoje, do agora. 

A trama acompanha uma senhora, Pureza, que vai em busca do filho que ia tentar a sorte na cidade grande, cansado de trabalhar na produção de tijolos numa pequena localidade do Pará. Suas buscas à procura do filho a fazem encontrar uma realidade muito diferente da que esperava, e da qual ela irá confrontar mesmo sem saber como isso, correndo até mesmo risco de morte. 




O filme é hábil ao constuir cada acontecimento na vida da protagonista até levá-la a uma espiral perigosa de tramas criminosas, envolvendo desde grandes fazendeiros até políticos do alto escalão. Desde o momento em que Pureza decide sair à procura do filho até entrar em confronto direto com forças bem maiores od que ela, acompanhamos cada passo dela com apreensão, mesmo aquelas atitudes mais imprudentes. Afinal, não nos esqueçamos: se hoje já é difícil fazer denúncias desse tipo, imaginem no início dos anos 90!

O clima de tensão é agoniante, quanse como se estivéssemos numa zona de guerra ou algo assim, ao mesmo tempo em que temos também momentos de leveza, especialmente quando Pureza ajuda como pode aqueles trabalhadores ali, seja com uma comida a mais, uma água que não seja contaminada, ou simplesmente uma palavra de conforto e de fé. Não à toa, muitos ali passam a considerá-la uma segunda mãe. E essa relação é construída de maneira muito bonita e crível, nada forçada. 

Também é preciso destacar como o filme aborda as dificuldades em denunciar esse tipo de crime, mesmo que você seja testemunha ocular do ocorrido, e, obviamente, com a cumplicidade de autoridades e certas forças políticas. Quando Pureza esbarra na burocracia e nos interesses de gente realmente poderosa, acompanhamos, mesmo que se maneira às vezes sutil, como as engrenagens estão postas para esconder trabalhos análogos à escravidão, o que serve tanto para mostrar como era, 30 anos atrás, e como continua a ser. 

Em suma, uma crítica social foda, que assim como a recente série "Cangaço Novo", não precisa ser expositiva demais. 




"Pureza", além da óbvia denúncia social (e que é importantíssima), também retrata de maneira mais intimista a necessidade de união entre os excluídos, a força da fé (que independe de qualquer preceito religioso), e de como encarar uma realidade que você mal sabia sabia que existia faz com que se tome uma posição por princípios. Para Pureza, digamos, que foi o início de uma tomada de consciência política mais clara, porém, que já estava ali, nela, por sua índole. Um desenvolvimento de personagem muito bem-feito, portanto, 

Sobre as atuações, não é preciso nem falar tanto, já que todos desempenham seus papeis muito bem, com destaque para Dira Paes, que encarna Pureza de maneira forte e convincente. E, mesmo o roteiro dê umas forçadas de mão e apele para algumas conveniências dramáticas, a história se desenrola de maneira absolutamente envolvemnte, potencializada pela direção correta de Renato Barbieri. 



"Pureza" é, portantio, um baita filmão nacional. Engloba crítica social com desenvolvimento de personagem de maneira excelente, denunciando o que precisa, sem nunca esquecer o lado mais humano e intimista daquela situação de opressão, onde Pureza representa um lastro de esperença e um alicerce para os marginalizados e escravizados ali. E, pensar que a história é baseada em fatos só engrandesse a ex´periência. 


Nota: 8,5/10




 

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