DICA DE FILME (A Filha do Palhaço)

Dica de Filme


Título: A Filha do Palhaço
Ano de lançamento: 2022
Direção: Pedro Diógenes



Rimos pra não chorar

O primeiro ponto que gostaria de destacar sobre A Filha do Palhaço é que alguns estão comparando o filme a outra produção recente: Aftersun. Ok, de fato, há similaridades entre ambos, mas, convenhamos que isso parece mais uma tentativa de ancorar o longa brasileiro ao filme de Charlotte Wells, como se ele não fosse bom o sufiente. Não precisamos disso. Afinal, qualquer produção sobre patermnidade pode se parecer, mas, também pode se diferenciar em inúmeros outros aspectos. Em suma, A Filha do Palhaço e Aftersun são dois ótimos filmes, e ambos têm personalidade. Ponto. 

Dito isto, como é bom assistir a uma produção nacional que não precisa de fórmulas fáceis adotadas pelo cinema brasileiro nos últimos anos. Não tem humor rasteiro, frases de efeito ou crpiticas óbvias. Na realidade. os protagonistas são mostrados como personagens comuns, ordinários, mas, é isso justamente o seu mérito. Pois, é na simplicidade na sua personalidade que suas personalidades vão se revelando. 




A Filha do Palhaço começa com Renato recebendo sua filha Joana em casa para passar um tempo com ele após anos ausente e separado de sua esposa. Inteessante que o trabalho dele é o ponto-chave para entendermos esse personagem: com um misto de transformismo e palhaço, ele se apresenta em bares e casas de show em geral fazendo uma espécie de stand up. Enquanto sua persona travestida, em cima do palco, é extrovertida, no dia a dia, ele é mais retraído, mais "pra dentro". 

De cara, isso remete à história do "palhaço triste", onde a fantasia e a vida real se mesclam, onde Renato se veste e se maquia para esconder sua tristeza, os problemas de sua vida. Mas, isso também pode partir do pressuposto que a verdadeira máscara dele é no dia a dia, ciomo ele quer (ou precisa) mostrar para ops outros, inclusive, para a sua filha, enquanto a sua filha. A forma como o filme explora isso é bem sensível, pois, Joana começa a conhecer melhor o pai nessas apresentações. 




Um ponto positivo do filme é que o roteiro não trabalha com extremos. Mesmo tendo cometidos erros no passado, Renato não é um pai terrível, e mesmo tendo um pai ausente por praticamente 14 anos, Joana, não é aquela menina mimada, irritante ou histérica. Ao contrário, a relação de pai e filha aqui é construída pela sutilezas, pelas nuances, pelas pequenos gestos e olhares de cada um, com um entendendo o mundo do outro aos poucos, mesmo com atritos (que são mostrados como consequência normal de um relacionamento desses). 

O filme também transita nessa dicotomia entre tristeza e alegria, como se o trabalho de palhaço de Renato refletisse diretamente na sua vida e na da filha, onde, algumas vezes, parece que ambos estão se segurando para não dizer o que pensam, fingem, colocam uma máscara, uma maquiagem para suprimir seus sentimentos (culpa, da parte de Renato, e ausência, da parte de Joana). É quase como se "a filha do palhaço" tivesse herdado dele essa manipulação dos próprios sentimentos, algo que se quebra e se revela no bonito final. 



A Filha do Palhaço, certamente, não é o melhor filme brasileiro desses últimos tempos. E, nem precisa provar nada, pois, a sua proposta simples de abordar a tentativa de reconexão entre pai e filha já é o bastante para construir uma história com emoção genuína; algo que é conduzido muito bem pelo diretor Pedro Diógenes, e pelas ótimas atuações de Lis Sutter e Demick Lopes. Ah, e ainda tem a trilha sonora, que, para além de embalar uma outra cena, insere músicas que expõem de maneira muito crível o que os personagens estão passando naquele momento. 

Em suma, um bom filme nacional, simples, modesto, sincero, sem querer ser mais do que é. E, justamente, por isso mesmo é muito bom. 


Nota: 8/10

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