DICA DE FILME (O Robô Selvagem)
Dica de Filme
Título: O Robô Selvagem
Ano de lançamento: 2024
Direção: Chris Sanders
Podemos ignorar a nossa "programação"?
A desumanização das pessoas e a humanização de animais ou até mesmo de mecanismos robóticos é um tema interessante, e, em termos de cinema, esse assunto já gerou algumas ótimas produções, como O Exterminador do Futuro 2, Gigante de Ferro, A.I. - Inteligência Artificial e Wall-e. Agora, em 2024, O Robô Selvagem se insere nessa temática, e, mesmo que seja recheado de clichês, ainda consegue juntar tudo em uma história cativante e reflexiva sobre o que fazemos é algo espontâneo, ou uma "programação" pré-determinada por um contexto social.
Aqui, em Robô Selvagem é quase como se tivéssemos acompanhando uma nova roupagem de Tarzan onde o protagonista é uma robô (sim, no feminino mesmo). Inclusive, não há necessariamente a defesa explícita ao colonialismo da obra de Edgar Rice Burroughs, mas, ainda tem aquela velha premissa do "salvador que vem de fora" ensinar aos "selvagens" como se comportar para (sobre)viverem melhor. Afinal, quando a robozinha Roz chega aquela floresta, é bastante hostilizada, e boa parte dos animais ali se comportam como bestas violentas, mas, aos poucos, ela os ensina o valor da colaboração mútua (inclusive, entre presas e predadores). Pelo menos, a mensagem de colaboração coletiva (mesmo vinda de um robô de uma mega corporação capitalista estadunidense) ainda é boa. Diria até NECESSÁRIA.
Mas, tirando essas problematizações, é certo dizer que o filme se sustenta muito bem em termos de narratiba com arco de personagem. Isso porque a Roz, de início, comporta-se como uma robô programada para cumprir tarefas de modo claro e objetivo, sem nenhuma nuance em relação a como a vida nasce, cresce, se desenvolve e morre. É tudo muito pragmático para ela. "Preciso ajudar um bebê ganso a comer e a voar". Ponto! Isso já basta, sem levar em consideração a indivudualidade e a personalidade daquele ser. Ela apenas quer cumprit aquilo pela qual foi programada e voltar à empresa que a construiu.
Sim, de uma forma óbvia, porém, ainda cativamte, temos a velha jornada de alguém lutando contra seu destino, indo além da sua "programação" (que aqui pode ser uma alegoria para imposições culturais, digamos assim), Algo que também remete a Zootopia, pois. os animais que Roz conhece naquela floresta vão aprendendo a conviver entre si, combatendo "instintos naturais". Com uma boa sensibilidade, o filme, então, vai desenvolvendo a personalidade não só de Roz, mas, de outros animais ali, especialmente, da raposa Astuto, que se esperta e arisca, passa a mostrar uma profunda solidão, e outras fragilidades emociais. Esse, sem dúvida, é um dos grandes trunfos da animação.
No entanto, a pior parte de O Robô Selvagem seja a sua parte final. "Pior" no sentido de praticamente seguir à risca a cartilha de que todo blockbuster hollywoodiano (animação ou não), ter a "obrigação" de encerrar com uma batalha épica no clímax (nesse sentido, como é bom assistir à maioria das animações dos Estúdios Ghibli, que se permitem uma narrativa sem desfecho alucinado de lutinhas). Ok, que essa sequência até tem sentido dada à origem de Roz, como uma propriedade privada de uma mega corporação que não tem escrúpulos de destruir todo um ecossistema em nome do lucro. Mas, ainda assim, soa um tanto forçado (talvez, para crianças muito pequenas a movimentação desenfreada dessas cenas seja divertida, então, tá valendo).
Tirando essas partes que podem soar cansativas e clichês, O Robô Selvagem consegue ser uma fábula bonita, no final das contas. Fala com delicadeza sobre a importância do trabalho coletivo e de questionar dogmas que nos ensinam como verdades absolutas, o que supostamente é "instintivo", ou tarefas e deveres que, em tese, são obrigações. Já vimos isso anterioremente em outros filmes com mensagens similares, porém, dado uma sociedade atual tão individualista, uma animações que ensina isso para as crianças é sempre bem-vinda.
⭐⭐⭐1/2
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