Dica de Filme

O Regresso
2015
Direção: Alejandro Gonzáles Iñarritu


Depois do grande sucesso de público e crítica de "Birdman", o diretor Iñarritu virou uma incógnita. Será que conseguiria manter o ótimo padrão que os seus filmes sempre demonstraram, mesmo após um Oscar debaixo do braço? E, a resposta está aqui, em "O Regresso", um vigoroso exercício cinematográfico, que coloca muita superprodução badalada por aí no chinelo. Épico por natureza, este filme possui diversas cenas marcantes, e é um dos melhores do ano que passou.

Seus 15 primeiros minutos são tão tensos que me lembrou a sequência de abertura em "O Resgate do Soldado Ryan". A câmera de Iñarritu está melhor do que nunca, enquadrando cada cena no devido lugar, com pouquíssimos cortes. O olhar do cineasta, propositalmente, é de baixo pra cima, como que para dizer o quão somos pequenos perante tanto à natureza, quanto à uma real luta pela sobrevivência. Um começo de tirar o fôlego.




Mas, o filme não se limita a isso, e continua, inclusive, com uma ótima estória. É quando conhecemos Hugh Glass, que está numa expedição ao oeste norte-americano para ganhar dinheiro através da caça. Quem o acompanha é o seu filho, que ele teve num relacionamento com uma indígena. Isso, claro, gera desconfiança entre seus companheiros de viagem, principalmente, John Fitzgerald, que, claramente, tem preconceito contra os chamados "vermelhos".

É quando, sem pausa para respirar, Iñarritu nos brinda com outra sequência marcante: o ataque de um urso. O realismo da cena é impressionante. A brutalidade na luta entre homem e natureza é bastante elevada, e demonstra um excelente domínio narrativo do cineasta. Mais uma vez, a câmera está, perigosamente, perto demais, colocando o espectador no olho do furacão, quase sentido a respiração do urso e do homem.




E, no final das contas, esse é o grande mote de "O Regresso": a eterna luta travado pelo homem, seja contra força naturais, seja com o próprio homem. É aí que surge outro aspecto interessante na produção, que é o lado crítico. Fitzgeraldo, que é o que mais vive falando de Deus, também é o que comete os piores atos. Há críticas, igualmente, ao preconceito contra os indígenas, sempre taxados de selvagens, mas, cujos algozes mostram-se até mais selvagens.

O filme, no entanto, gira mesmo em torno de Glass e sua via crucis. É, então, que vemos o quanto Leonardo di Caprio é, e sempre foi, um excelente ator. A dor do personagem é muito pungente, e di Caprio nos passa a dimensão exata desse sofrimento, colocando a lama em cena. Tom Hardy, que interpreta Fitzgerald, também se mostra um exímio antagonista, repulsivo, hipócrita e sem o mínimo de caráter. Um baita vilão.




Só que "O Regresso" tem um defeito um tanto sério: o seu desfecho. Quando, finalmente, o tal regresso acontece, o filme perde a força e o vigor que ninha, bravamente, mostrando até então, até culminar numa conclusão um tanto óbvia para a trama. Pelo menos, essa sequência final, é, mais uma vez, perfeita tecnicamente, lembrando um pouco até mesmo a primorosa cena da sauna de "Senhores do Crime", de Cronenberg.

Mesmo assim, os predicados da produção estão bem acima de seus eventuais defeitos. Apesar de ter se alongado um pouco mais do que devia, o filme é a prova de que Iñarritu ainda é um diretor confiável, orquestrando estórias que colocam seus personagens no limite de tudo, e falando do sofrimento humano de uma maneira bem poética e intensa. Felizmente, após "Birdman" e uma estatueta dourada, o homem não se acomodou.


Nota: 8/10

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