Dica de Filme

A Viagem de Chihiro
2001
Direção: Hayao Miyazaki


Alguns, realmente, nascem com um dom para certos tipo de arte. Por exemplo, é quase impossível desvencilhar Miyazaki das animações. Seus desenhos, até para os padrões japoneses, possuem muitos diferenciais. Apesar de alguns serem violentos (e, por tabela, assustadores) para crianças, eles também possuem mensagens muito pertinentes, não só para os pequenos, mas, para os grandes. São, em suma, produções de uma sensibilidade ímpar.

"A Viagem de Chihiro", um dos mais conhecidos de sua obra, não é seu melhor trabalho (posto que cabe a "Princesa Mononoke" e "Nausicaä do Vale dos Ventos". Mas, é uma animação muito acima da média do que nos acostumamos a assistir das superproduções hollywoodianas. Isso porque Miyazaki trata a figura da criança como um ser inteligente, e não como alguém mais bobo do que os adultos. O diretor, de fato, sabe ter respeito pelos mais novos.




A protagonista aqui, a própria Chihiro, mesmo sendo mimada e meio arrogante, também se mostra uma pessoa boa, que se preocupa com outros. Só é imatura, e no decorrer do filme, vai passando por situações que lhe darão mais experiência e uma melhor visão da vida. E, tudo com bastante beleza, inocência e até humor. São ensinamentos, às vezes, básicos, que vão se perdendo para os adultos passarem às crianças. Não por acaso, os pais de Chihiro se mostram mais infantis do que ela mesma.

O mundo encantado do qual ela e os pais entram é habitado por seres incríveis, mas também com uma organização social muito delimitada. Nisso, a animação consegue tecer boas críticas à uma sociedade mais preocupada em bajular ricos e poderosos do que qualquer outra coisa. Uma cena, nesse sentido, é fascinante: quando um monstro sem rosto "produz" ouro pelas mãos e o distribui abertamente, ninguém percebe o perigo que ele pode acarretar.




No decorrer da estória, por sinal, não somente Chihiro vai aprendendo e ganhando experiência, mas, principalmente, o mundo encantado e seus habitantes é que vão aprendendo com ela. Há diversas ótimas simbologias no filme, uma em especial, mostra que todos os humanos que entram naquela mundo mágico, têm os seus nomes roubados por uma feiticeira. Sem nome, as pessoas, aos poucos, esquecem quem são, tornando-se ainda mais escravos da bruxa.

Mesmo sendo uma produção voltada para crianças, há algumas sequências um tanto assustadoras para os mais pequenos, uma característica inerente à animação japonesa. Em que desenho da Disney, por exemplo, veríamos um dragão ensanguentado, à beira da morte?  Apesar disso, e como já ocorreu em outros filmes de Miyazaki, a (pouca) violência que existe aqui é completamente necessária no contexto da trama. E, convenhamos, hoje em dia, crianças têm acesso a coisas bem mais brutais.




E, como em vários outros desenhos do diretor, a beleza da estória se une a uma mensagem positiva (mas, sem ser piegas), "A Viagem de Chihiro" é um trabalho encantador. Não à toa, ganhou o Oscar de animação em 2002. Diante disso, é uma pena saber que Miyazaki se aposentou recentemente, próximo de completar 75 anos. O mundo dos desenhos animados, realmente, perdeu um grande mestre, que sabia como poucos entender o universo das crianças.


Nota: 8,5/10

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