Dica de Disco

Prisoner
2017
Artista: Ryan Adams


O que esperar do rock alternativo nos dias de hoje? Ainda há espaço para trabalhos autorais? Bem, alguns artistas, como Ryan Adams, independem de tendências, de mercado ou de mainstream, sempre fazendo algo interessante, acima da média. Este "Prisoner" já é o 16° trabalho de estúdio dele, o que prova sua persistência num ambiente atual não tão favorável ao seu tipo de música. O melhor de tudo é que ele é um tremendo álbum, com padrão de qualidade que Ryan, com frequência, coloca em seus trabalhos. Já devidamente calejado na carreira, e não tendo que provar mais nada pra ninguém, ele expõe muito bem suas influências, de Bruce Springsteen a Bob Dylan, com ecos dos anos 80, tipo Smiths, Echo and the Bunnymen, e por aí vai. O resultado pode não ser fenomenal, mas, é bastante agradável aos ouvidos.

Mas, inusitadamente, a primeira faixa do disco, "Do You Still Love Me?", não lembra nenhuma dessas referências, e sim, um pouco de Jack White, com guitarras distorcidas e tudo. Um ótimo começo, por sinal. A canção seguinte, que nome ao álbum, aí sim, lembra Springsteen, bem como a terceira faixa, "Doomsday". É como uma viagem no tempo (de um bom tempo), em que se privilegiavam as letras, os arranjos, enfim. "Haunted House", que vem logo depois, bebe muito na fonte de Dylan, até na entonação do cantor, que ficou bem parecida. As duas próximas canções, "Shiver and Shake" e "To Be Without You" já possuem um estilo mais Ryan Adams, digamos assim. Quem está familiarizado com os últimos discos do cantor, vai perceber essa identidade.



Com "Anything I Say To You Now", voltamos aos anos 80 de novo, agora, com tudo nela remetendo ao U2 (na boa fase da banda irlandesa, diga-se - "War" e "The Joshua Tree"). O espírito de Dylan retorna com a bonita "Breakdown", e mostra que Adams tem um grande talento para compor músicas simples, mas, ricas em conteúdo e execução. A animada "Outbound Train", com suas guitarras minimalistas e batida quebrada, não faria feio nessas festas mais descoladas. Já, a (de início) acústica "Broken Anyway" repete um pouco demais a fórmula, e desgasta logo nos primeiros segundo, apesar da competência. Felizmente, ela é rápida (menos de 3 minutos). E, o mesmo pode ser dito de "Tightrope", mas, que, pelo menos, nos momentos finais possui arranjos bem elaborados de piano e sax que compensam a mesmice, e trazem algum diferencial. E, tudo se encerra com a ótima "We Disappear", que consegue ter mais personalidade que as duas anteriores, e consegue fechar o trabalho de maneira bem satisfatória.

Que fique claro: não estamos diante de um disco que vai revolucionar nada. Na realidade, a intenção de Ryan Adams aqui pareceu ser bem mais fazer uma homenagem aos seus ídolos da música, do que qualquer outra coisa. E, deu certo. Tirando uma ou outra faixa mais ou menos, todo o álbum é muito bom, otimamente executado, e com letras simples, mas, honestas (bem ao gosto de Adams). Pra quem quiser algo bastante diferente, o ideal é procurar em outro lugar. Mas, para quem quiser reviver alguns dos melhores momentos do rock nas últimas décadas, num tom mais de nostalgia do que de originalidade, "Prisoner" é um disco certeiro. E, em certos momentos, só isso já é o bastante.



NOTA: 8/10



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