Dica de Filme
Billy Bathgate
1991
Direção: Robert Benton
NOTA: 7,5/10
Billy Bathgate
1991
Direção: Robert Benton
Filmes de gênero, às vezes, parecem todos iguais. Isso se deve muito porque temos os inevitáveis clássicos de cada nicho, e que vão pontuar toda e qualquer produção com tema semelhante a partir de então. Houve um tempo, por exemplo, em que todo filme de ficção científica se parecia com "Matrix", e toda produção de terror tinha que ter cena de tortura explícita à lá "Jogos Mortais". No caso dos chamados "filmes de máfia", não há como negar que "O Poderoso Chefão" redefiniu esse gênero (para o bem e para o mal). Mesmo com a qualidade ímpar de "Os Intocáveis" e "Os Bons Companheiros", ficou quase impossível não ter um pouco da história de Don Corleone e família em todo filme desse tipo.
E, é aí que chegamos a "Billy Bathgate", um longa que se diferencia um pouco da maioria desse tipo de produção, mas, que hoje em dia nem é tão lembrado assim (pelo menos, em comparação a outros do mesmo estilo). Pra começar, esqueçam as extensas verborragias e o "charme" de muitos mafiosos do cinema. Mesmo que Dutch Schultz, otimamente interpretado por Dustin Hoffman, tenha um certo carisma, suas ações são secas e diretas, sem muita conversa, nem melodrama. E, dos capangas que acompanham Dutch, até outros chefes da máfia, todos são retratados sem estereótipos carregados, ou qualquer caricatura do tipo, imprimindo ao filme um ar um pouco mais realístico.
A história é meio simplória, mas, contada de forma envolvente. Tem como foco o Billy do título, um rapaz pobre que, vivendo na Nova York dos anos 30, almeja ao de melhor para a sua vida. É quando passa a trabalhar para um chefão da máfia local. Aos poucos, vai percebendo, porém, que ali não tem nada de glamour, O mais interessante da trama, e que vai na contramão do que se espera desse tipo de filme, é que Billy, mesmo impressionando Dutch por sua esperteza, não consegue subir muito os degraus na profissão de mafioso, na maioria das vezes, limitando-se a preparar e servir drinques para os seus chefes. Ou seja, é uma abordagem "pé no chão", em que um novato simplesmente não ascende ao posto de chefe só por ter ambição (o que ficaria inverossímil), e essa visão é um ponto muito positivo no roteiro.
A trama também se destaca por mostrar muito da corrupção da época, e que envolvia desde o governo, e suas cobranças abusivas de impostos, até o uso de igrejas para lavagem de dinheiro. Mesmo não sendo o mote do enredo, esses momentos expõem bem todo o cinismo de uma sociedade que consegue conviver bem com todo tipo de criminoso, contando que seja ele a pagar as contas. As sempre presentes traições também são bem exploradas pelo roteiro, principalmente, pelo fato do filme começar com Dutch se vingando por algo feito pelo seu parceiro Bo Weinberg, e a história retroceder no tempo, para mostrar como Billy entrou no grupo, e o que culminou naquela situação de vingança. Um ótimo jogo narrativo, diga-se.
Os personagens são muitos bem caracterizados e desenvolvidos, a começar pelo próprio Billy Bathgate, cuja sua história de pobreza não é levada às raias do pieguismo. Exemplo disso é quando ele vai levar dinheiro para a sua mãe, que trabalha numa lavanderia, e a conversa entre eles não dura mais do que meia dúzia de palavras rápidas. E, isso se chama "feeling narrativo", que poucos possuem. Afinal, para se entender a relação entre Billy e sua mãe não era necessária nenhuma cena longa, cansativa e apelativa. Outro que é bem desenvolvido durante a trama é o chefão Dutch Schultz, um maníaco psicopata, é verdade, mas, que, em nenhum momento, a película exagera ao tentar mostrá-lo como uma espécie de super-vilão imbatível. O seu braço direito, Otto Berman, e que nutre um afeto especial por Billy, salvando-o de alguns problemas, também é explotado de forma satisfatória ao longo da história.
De todos os personagens da trama, os únicos que não são devidamente explorados (e, que tinham potencial pra isso) é Bo Weinberg e sua amante Drew Preston. Tirando a sequência da vingança de Dutch, o primeiro só aparece em cenas pontuais apenas para provocar o seu parceiro com arrogância e prepotência. O problema é que a atuação de Bruce Willis não ajuda muito nesse sentido. E, quanto a Drew, mesmo que ela tenha, ao final, passando uma informação preciosa para Billy, e que este usa num momento decisivo com Dutch, parece que a presença dela na história é a desculpa para mostrar Nicole Kidman nua algumas vezes. Ao algo, portanto, raso e sem sentido, já que a tal informação dada a Billy poderia ter sido conseguida de qualquer outra maneira. Nesse ponto, o roteiro apelou muito.
O longa, no entanto, tem mais acertos do que erros. Além da história ser bem narrada, as soluções no decorrer da trama fogem um pouco da trivialidade e dos clichês, fazendo dele uma produção sobre máfia direta e objetiva, sem nada de mirabolante, mas, ainda assim, interessante. Tanto é que "Billy Bathgate", ao contrário de outros filmes do gênero, é curto e passa rápido. Merecia, portanto, ser mais lembrado nas tão famosas listas disso ou daquilo quando o assunto é máfia. Se não consegue se igualar a clássicos do gênero, ao menos, mostra-se, ainda hoje, superior à maioria desse tipo de filme.
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