dica de filme ("8 MM")
Dica de Filme
8 MM
1999
Direção: Joel Schumacher
Após o fracasso de Batman & Robin, Schumacher se refugiu em um thriller envolvente, mas bastante pesado em sua temática
Joel Schumacher sempre foi um ótimo diretor. Filmes como Garotos Perdidos, Um Dia de Fúria e Tempo de Matar são a prova disso. Porem, tinha um certo Homem Morcego no meio do caminho que, digamos, entornou o caldo do cineasta, e ele praticamente caiu em desgraça, quase abandonando a carreira por completo.
A prova disso é que depois do famigerado Batman & Robin, nunca mais o diretor fez um bom sequer. Com uma exceção: este 8 MM, um thriller de suspense que coloca no chinelo muitas produções desse subgênero hoje em dia.
Por sinal, chega até mesmo a ser irônico que este filme aqui (tirando a parte da pornografia barra-pesada, evidentemente) foi tudo o que a produção do Homem Morcego, dois anos antes, deveria ter sido e não foi: um clima soturno, bastante voltado para o cinema de horror, embalado com partes de investigação, suspense e busca por justiça.
Tudo, enfim, que pode compôr uma boa história do Batman.
E, não se enganem, pois, a estrutura de 8 MM é bastante simples, não possuindo grandes arroubos além do óbvio como clássicos modernos do gênero, como O Silêncio dos Inocentes e Seven. No entanto, o que a produção tem de simples, tem de muito bem feita, num esmero de roteiro e direção que só se perde em alguns momentos pontuais.
O que diferencia esse filme de tantas outras cópias baratas que estreiam nos cinemas todos os anos é que os seus realizadores sabiam muito bem onde estavam pisando. A história, em si, é bem simples: o detetive particular Tom Welles é contratado por uma rica senhora para encontrar uma menina que aprece em um snuff movie (aqueles filmes com teor pornográfico, onde pessoas são mortas de verdade na frente das câmeras) que o falecido marido guardava em um cofre.
Ponto.
A grande sacada do enredo não está, necessariamente, na quantidade de reviravoltas que a história pode dar, e sim, em mostrar a percepção do protagonista, que, cada vez mais enojado com aquele submundo de violência e perversão, vê-se obrigado a descer a um verdadeiro inferno moral para conseguir encontrar algum paradeiro da garota (quem sabe, com vida).
Trata-se de uma história tão bem arquitetada, que até mesmo coisas que poderiam soar óbvias demais, como o fato de Tom ter uma família normal, com esposa e filha, contribui de maneira positiva para fazer um contraste muito interessante entre a vida que ele tem no seio familiar, o o que ele precisa fazer para desempenhar bem o seu trabalho. "O Diabo já tocou você, mas, você nem percebeu", diz um dos personagens a Tom.
Contribui muito para a construção dessa narrativa pequenas sutilezas, como, por exemplo, um momento em que Tom está procurando alguma pista num mercado ilegal de pornografia, e se depara com fitas cujo o tema é "crianças". Ao pegar em uma das fitas, então, o personagem limpa a mão na jaqueta como se estivesse enojado.
Ou seja, o que temos em 8 MM nada mais é do que um estudo de personagem, travestido de thriller de suspense, onde o protagonista, até mais do que simplesmente saber o que aconteceu a garota, é saber o porquê das pessoas fazerem algo como matar uma menina e gravar isso. As respostas que ele procura, certamente, não serão nada agradáveis, no que o enredo do filme também funciona como um eficiente estudo da maldade em vários níveis.
Seja ela praticada pela alta sociedade porque ela PODE pagar, seja feita pelo "cidadão de bem", que apenas, e tão somente, GOSTA do que faz. Um argumento muito mais interessante e eficaz, por exemplo, do que os demasiadamente apelativos O Albergue e A Serbian Film, que, em linhas gerais, também versam com essa temática.
O filme só perde mesmo alguns pontos preciosos quando investe em algumas situações caricatas envolvendo o personagem Dino Velvet, cineasta pornô que pode ou não estar envolvido no desaparecimento da garota que Tom procura. Obviamente que um personagem assim não é confiável e deveria inspirar medo, mas, a forma como isso foi mostrado soou uma pouco exagerada demais, inverossímil demais.
Felizmente, após uma sequência de cenas nesse estilo, a produção volta aos eixos. A direção de Schumacher é certeira, construindo uma narrativa genuinamente envolvente. Já, as atuações não chegam a ser excepcionais, mas, tampouco, comprometem, em especial, as de Nicolas Cage e de Joaquim Phoenix.
8 MM é, de fato, um baita filme de suspense, só que com alguns elementos a mais, que fazem com que ele fique bem acima da média. Ao pegar um assunto pesadíssimo, mas sem ser apelativo, Joel Schumacher conseguiu construir um enredo interessantíssimo e que abre espeço para inúmeros debates sociais, como desarranjos familiares, justiça com as próprias mãos, o lugar ocupado pelos excluídos e marginalizados, e por aí vai. E, isso tudo sem perder a mão no que tange o mistério de uma história tão delicada.
Provavelmente, 8 MM não é apenas o último filme realmente relevante feito por Schumacher; é o melhor de sua carreira.
NOTA: 8,5/10
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