Dica de Filme ("Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas")
Título: Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
Ano de lançamento: 1967
Direção: Arthur Penn
Ano de lançamento: 1967
Direção: Arthur Penn
Cínico, engraçado, sedutor (e trágico), Bonnie e Clyde já preconizava uma mudança de rumo nos filmes hollywoodianos da época
Sempre houve certo fascínio por criminosos, ou como se aplica mais aqui a este filme, por foras-da-lei. E, Hollywood sempre teve receio ao retratá-los, tanto é que o subtítulo nacional do primeiro Scarface (datado de 1932, e dirigido por Howard Hawks) era "A Vergonha de uma Nação", para não deixar dúvidas de senso de moralidade que deveria permear certas obras.
Contudo, uma nova Hollywood estava se formando nos anos 60, justamente no pós-Segunda Guerra e no pré-Vietnã. Os filmes de lá começaram a ter um pouco mais de cinismo, permeado pela falta de perspectiva em meio a uma sociedade sem grandes e reais oportunidades. Foi assim que surgiu o estupendo Perdidos na Noite, e, posteriormente, o espetacular Taxi Driver. Só que antes destes, uma produção meio que já demonstrava essas características, só que de uma forma bem particular: Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas.
Podemos até dizer que este filme tem uma "cativante amoralidade", a ponto de torcermos por um jovem casal de ladrões de banco que estão em busca de algo a mais na vida (nem que este "algo a mais" resulte em sua morte). Se hoje em dia, essa visão um tanto quanto romantizada do crime (mas também bastante consciente da geração a qual está inserida) já é algo um tanto "perigoso", imaginemos, então, isso a 50 anos atrás.
Obviamente que não estamos diante de algo tão anárquico, ácido e violento como Assassinos por Natureza (até mesmo porque a intenção de Oliver Stone foi outra: a de retratar o fascínio da sociedade por foras-da-lei, e como a mídia influencia nisso). Aqui, em Bonnie e Clyde, a intenção pareceu ser mais um retrato honesto (e, por vezes, até cru) de uma juventude desgarrada, que, sempre tolhida por sensos morais duvidosos, resolve ir no caminho oposto.
Porém, também é significativo que ambos os protagonistas não sejam pintados como criminosos cruéis, e sim, como pessoas comuns, muitas vezes, com certa ética (Clyde faz questão de só assaltar bancos e não um cidadão qualquer, e Bonnie tem apreço genuíno pela família, especialmente, pela mãe). Essas característica dos personagens, por sinal, rende momentos bem interessantes no filme. Interessantes a ponto de nos fazer torcer por eles. Subversivo, no mínimo.
O filme também tem um quê de humor bem peculiar, em alguns momentos, partindo um pouco mais para a caricatura. O que é, de certa forma, compreensível, já que alguns filmes da época eram meio que uma ruptura com o que veio antes, e, por isso mesmo, carregavam as cores em algumas situações dantescas para mostrar que agora o parâmetro era outro.
Talvez, nesse aspecto, a personagem mais irritante (e incômoda) do filme seja Blanche, cunhada de Clyde. Filha de um pastor evangélico, ela destoa bem do grupo de criminosos ao qual está inserida, e mesmo que ela tenha até um algum papel na trama por ser esse contraponto aos protagonistas (especialmente a Bonnie), ela bem que poderia ter sido limada, que muito provavelmente não faria falta à trama como um todo. Sim, a atriz que a interpretou (Estelle Parsons) ganhou o Oscar de coadjuvante, mas, premiações nem sempre significam qualidade indiscutível.
No entanto, esse é apenas um pequeno ponto contra a produção, pois, no geral, ela consegue ser o que se propõe: um retrato vibrante, apaixonado e um tanto melancólico sobre dois criminosos carismáticos, e que, de alguma forma, dialogam com a geração de jovens na época em que foi feito. Essa consciência, inclusive, não evita o atordoante e seco final. Desfecho, esse, que não vem como uma forma de "lição de moral" capenga, mas como algo realista e até certo ponto crítico: Bonnie e Clyde eram os únicos criminosos da história? Ou, sob um viés mais provocativo ainda: os autêntico vilões do filme não seriam outros?
Só que nada disso teria o efeito devastador desejado sem as excelentes atuações de Warren Beaty e Faye Dunaway, que dão um show aqui, ora mostrando força e determinação, ora expondo de maneira sutil sua fraquezas. Mas, sempre com grande carisma e entrega. Gene Hackman tem um papel menor, mas entrega uma boa performance e, como disse antes, só Estrelle Parsons que se excede na caricatura de sua personagem. Fora esses, Michael J. Pollard, como o desajustado C.W. Moss, também está muito competente.
Na época de seu lançamento, o filme fez bastante, sendo indicado a várias premiações. Era uma das provas de que público e crítica já estavam meio que preparados para o que Hollywood entregaria a seguir, e que seria um dos momentos mais criativos daquela indústria que um dos pontapés iniciais tenha sido um filme, de certa forma, corajoso e chocante como Bonnie e Clyde, é um feito e tanto.
NOTA: 9/10
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