DICA DE FILME ("UM LUGAR SILENCIOSO - PARTE II")

 Dica de Filme


Título: Um Lugar Silencioso - Parte II
Ano de lançamento: 2021
Direção: 
John Krasinski


 Continuação do terror sensação de 2018 melhora um pouco o que foi visto antes, apesar de ser mais simples em vários aspectos

O cinema de terror/horror estadunidense é, no mínimo, "curioso". Podemos dividir as produções do gênero em duas categorias distintas: a dos filmes mais blockbuster que apelam para clichês dos mais diversos tipos e a dos longos mais experimentais (e, por isso mesmo, geralmente, são mais atmosféricos e aterrorizantes). 

O primeiro "Um Lugar Silencioso" se enquadra exatamente no meio dessa classificação. Ou seja, não deixou de ser uma produção com apelo pop, mas, também não se furtou a mostrar elementos mais instigantes e criativos em termos narrativos e de roteiro. No entanto, a principal falha do primeiro filme era tentar justificar aquelas inúmeras situações tensas através de atitudes um tanto quanto estúpidas dos protagonistas (mesmo estes sendo "vendidos" pelo roteiro como pessoas inteligentes e sagazes). 

Já na primeira morte, o roteiro mostrava essa deficiência, que se alastraria ao logo da produção, e, pelo menos para mim, perdeu um pouco do impacto que causou em boa parte das plateias por aí. E, eis que com atraso no lançamento, chega a segunda parte de "Um Lugar Silencioso", e mesmo que a sua história e estrutura narrativa sejam mais simplórias que o filme original, ao menos, agora, as situações se desenvolvem com causa e consequência sem depender de atitudes toscas de personagem X ou Y. E isso fez muita diferença no resultado. 




De início, acompanhamos o que de fato aconteceu, de "como surgiram" aquelas criaturas, no que é mostrado no chamado "Dia 1". A sequência é boa e convence, tanto nos efeitos visuais, quanto na direção de Krasinski, que passeia à vontade em tela, e quando a ação finalmente chega, ele busca uns ângulos de câmera muito bons, que nos faz imergir naquela situação. 

Ao mesmo tempo, o diretor não abandona um dos artifícios mais criativos do primeiro filme, que é a brincadeira com o som. Principalmente quando estamos na "pele" da garota Regan, o barulho em tela simplesmente some, e volta quando a situação é mais conveniente. Um recurso que ainda gera tensão. Somente em seguida é que temos uma continuação de fato dos acontecimentos ao final do primeiro longa, e é aí que reside uma das qualidade deste aqui: o desenvolvimento da história. 

Ao contrário do filme original, que usou e abusou de ações convenientemente burras dos personagens (parecendo mais facilitação barata de roteiro), aqui, cada atitude das pessoas, por mais tresloucada que possa parecer, faz certo sentido, e as causas e consequências são administradas de maneira mais gradativa e melhor do que no longa anterior. Mesmo que essa parte II não tenha necessariamente um desenvolvimento, um arco, de personagens, propriamente dito, ela soa mais coesa. 




Essa preocupação em amarrar bem qualquer ponta solta do roteiro se mostra competente até mesmo na inserção de um novo personagem, que faz total sentido para a trama, e que rende uma ótima dinâmica com os personagem mais veteranos desse universo, em espacial, a Regan, a que mais aparece aqui, e a que melhor é trabalha em sua jornada. 

Mesmo sendo mais redondo e evitando mais deslizes que o primeiro, a parte II de "Um Lugar Silencioso" não está isenta de falhas. Um filme como um todo é curto demais, e, ao final, pode dar a sensação de ser um episódio estendido de uma série de TV. Não é à toa que o desfecho aqui é mais abrupto ainda que o anterior. Além disso, tem uma cena completamente descartável de um grupo de pessoas num cais que não faz a mínima diferença para o enredo. 

Em termos de atuações, Emily Blunt mais uma vez mostra competência, mesmo que não apareça tanto quanto antes. Cillian Murphy também consegue dar carisma e importância a Emmett, que a princípio, pode parecer um personagem descartável, mas, que vai melhorando consideravelmente sua participação ao longo da história. Porém, quem rouba a cena mesmo Millicent Simmonds, chegando quase a ser a personagem principal do filme, ofuscando até mesmo os atores mais velhos. 

Na direção, Krasinski se mostra tão afiado quanto antes, apesar de ter transformado a segunda parte da história mais em uma aventura simples, do que em um terror claustrofóbico, e os efeitos visuais das criaturas convencem, mesmo não sendo necessariamente excepcionais. O uso criativo do som, agora, é feito com mais parcimônia e um pouco menos de criatividade, mas, ainda gera ótimas cenas. 




No geral, então, temos uma parte II de "Um Lugar Silencioso" melhor que o primeiro em termos de progressão na história, no sentido de uma melhor construção de causa e consequência com as atitudes dos personagens, mas, ao mesmo tempo, pior no sentido criatividade e "novidade". Contudo, ainda assim, é um filme interessante (e angustiante) na medida certa, e que, dentro da seara de "superproduções hollywoodianas" do gênero, ele, sem dúvida, destaca-se. 


Nota: 7,5/10
 



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