Dica de Filme
K-Pax - O Caminho da Luz
2001
Direção: Iain Softley
K-Pax - O Caminho da Luz
2001
Direção: Iain Softley
Chega a ser inusitado que alguns filmes sejam tão bons, e, ao mesmo tempo, sejam notórios desconhecidos. Mais inusitado ainda são exemplos como "K-Pax", que possui dois grandes atores em ótimas performances, e mesmo assim, é desdenhado mundo afora. Uma injustiça, pois, trata-se de um filmão, enigmático e muito bonito, com uma história fascinante. Claro, o enredo não é dos mais fáceis de assimilar, pois, ele passa boa parte do tempo apenas dando pistas em cima de uma narrativa mirabolante, e que ainda tem, nas entrelinhas, críticas sociais bem pontuais.
Aparentemente, o roteiro é sem nexo, dando conta de um homem, Prot, que, misteriosamente aparece durante um assalto, e diz que é um viajante de outro planta, K-Pax. Manado pra uma clínica psiquiátrica, ele passa a ser tratado pelo doutor Mark Powell, que, a princípio vê Prot com ar de incredulidade, mas, que depois, passa a sentir dúvidas a respeito de seu estranho paciente, dadas as histórias incrivelmente convincentes que este relata. E, é nesse misto de incerteza e fascínio, que Powell tentará ajudar Prot de alguma maneira.
O que mais chama a atenção é o roteiro e os seus sub-textos. A presença de Prot em cena, independente dele ser ou não, um extraterrestre (o que só vai se "revelar" no último ato do filme), é motivo suficiente para ele tecer críticas um tanto ácidas à nossa sociedade, desde as relações familiares, até a questões políticas. Tudo sob a ótica de alguém que está de visita na Terra, e se "espanta" com o nosso atraso em termos de evolução. São diálogos muito afiados, e que até por serem travados, em sua maioria, dentro de um hospital psiquiátrico, ganham um tom diferenciado. Não raro, os "loucos" são mais inteligentes e atentos do que os ditos "normais".
Além desse viés mais crítico e mordaz, a história em si é muito boa, e contada sem pressa, fazendo com que o espectador assimile cada momento. Mesmo um pouco lento, o filme tem ritmo, e segura a atenção até o final. Talvez a "descoberta" do passado de Prot seja um tanto forçada (típica daquelas pseudo-investigações que quase todo filme hollywoodiano tem), mas, nem isso estraga a produção. Apenas quebra um pouco a narrativa pra tentar explicar demais, quando poderia ter deixado tudo mais misterioso e bem mais interessante.
Um ponto muito a favor são as atuações, em especial, de Kevin Spacey e Jeff Bridges. Enquanto o primeiro entrega um Prot carismático, e, ao mesmo tempo, frágil, o segundo faz de seu Dr. Mark um personagem incrédulo com tudo, que não se relaciona de maneira positiva com a família, muito menos, com o filho do primeiro casamento. São pessoas passando por inquietações autênticas, sem tanta maquiagem, fazendo de seus dramas algo crível. A direção segura e a bela trilha sonora completam o filme de maneira muito convincente.
Porém, o grande diferencial mesmo é o roteiro, que entrega uma história muito peculiar, unida a diálogos realmente interessantes, alguns bem pertinentes para os dias atuais. E, melhor: sem nada ser panfletário ou excessivamente piegas, respeitando a inteligência de quem assiste. Não é um cinema revolucionário, que faça alarde, ou que exponha um profundo estudo da sociedade contemporânea. Mas, é uma produção deveras honesta, bem realizada, e que passa o recado muito bem. Em tempos de vacas magras pra Hollywood, já é muita coisa.
NOTA: 8/10
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