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"Ten": 25 Anos de um Clássico do Grunge
"Ten": 25 Anos de um Clássico do Grunge
As gerações mais novas, certamente, não devem ter muita noção do impacto que um lançamento revolucionário na música podia ter, visto que o mais recente exemplo de disco que, de fato, causou estardalhaço no mercado fonográfico foi o excelente "Is This it?", dos Strokes, no longínquo ano de 2001. Imaginem, então, algo como "Ten", lançado há pouco mais de 25 anos, mais precisamente em 27 de agosto de 1991? Mesmo com tanto tempo, porém, o clássico primeiro disco do Pearl Jam continua como um dos melhores álbuns de rock de todos os tempos, e, ainda hoje, continua a formar seguidores, alguns, verdadeiramente bons, e outros nem tanto.
A genialidade do disco se comprova pela própria história da banda, formada por integrantes do Temple of the Dog, supergrupo idealizado por Chris Cornell (do Soundgarden) para homenagear um dos precursores do grunge de Seatle, Andrew Wood, vocalista da Mother Love Bone, e morto em decorrência de uma overdose de drogas. No Temple of the Dog, além de Cornell, tínhamos Eddie Vedder, Jeff Ament, Mike McCready e Stone Gossard, que, posteriormente, viriam a ser o vocalista, o baixista e os guitarristas, respectivamente, do Pearl Jam. O Temple of the Dog, por sinal, chegou a emplacar um hit, a belíssima "Hunger Strike".
Com o Peral Jamn já devidamente formado por Vedder, Ament, McCready e Gossard, sendo Matt Chamberlain o baterista nesse primeiro momento, eles entram no estúdio London Bridge em março de 1991 para a gravação de "Ten", que sairia alguns meses depois. O álbum, cujo título fazia homenagem ao número da camisa de Mookie Blaylock, famoso jogador de basquete na época, o disco foi um verdadeiro petardo, muito diferente do que se ouvia naquele período. As letras profundas das canções, que tratavam de assuntos como depressão, suicídio, solidão e assassinato, eram formidáveis.
Já, a sonoridade das músicas remetia ao rock clássico. com destaque para duas influências primordiais: Neil Young (o "pai" do grunge) e Led Zeppelin. E, tudo era tocado com uma certa urgência, mas, não com desleixo, com destaque para as distorcidas guitarras, e, principalmente, o vocal emocional de Vedder, que criou uma identidade tão particular para cantar, que, por mais que tentem, seus imitadores, até hoje, não chegam aos pés dele. Com um material tão bom, não podia ter dado outra: "Ten" foi um sucesso absurdo, alcançando, rapidamente, posição na Billboard como um dos discos mais vendidos de 1991, ficando nessa parada por nada menos do que 2 anos ininterruptos, recebendo por 13 vezes a certificação de disco de platina.
Do disco, saíram diversos hits, o que chega a ser injusto, pois, todas as suas 11 faixas são hits em potencial, e ficar apenas em 4 não faz jus à qualidade da obra. Mesmo assim, os carros-chefes de "Ten" são estupendos, com destaque para "Alive" (música "semi-biográfica" de Vedder sobre um filho que descobre que o seu pai, na verdade, é seu padrasto) e "Jeremy" (baseada num história verídica de um garoto que, negligenciado pelos pais e professores, comete suicídio na frente de seus colegas de classe). Inclusive, o clipe de "Jeremy" foi acusado de ter incitado um menino a atirar a atirar nos alunos da escola onde estudava, mas, o processo, no final das contas, não deu em nada.
Vídeoclipe de "Oceans":
Vídeoclipe de "Alive":
Vídeoclipe de "Even Flow":
Vídeoclipe de "Jeremy":
Só que nem tudo foram flores com "Ten". A banda foi acusada (injustamente) de ter se rendido ao mainstream, fazendo um som comercial demais, não tendo nada a ver com o som alternativo feito em Seattle naquele período. A revista britânica NME, por exemplo,disse que o Pearl Jam estava "tentando roubar dinheiro do bolso das jovens crianças alternativas." Já, Kurt Cobain, líder do Nirvana e que também virou um grande ícone do grunge, atacou Eddie Vedder e cia, afirmando que a banda era um sell-out comercial, Mais tarde, entretanto, Cobain se reconciliou com Vedder, permanecendo amigos até a morte de Cobain, em 1994.
Na edição de 25 de outubro de 1993, mês de lançamento do álbum Vs.,
o Pearl Jam estampou a capa da revista Time.
Com a manchete "All the Rage", o semanário norte-americano
elegia Eddie Vedder como um dos
"raivosos líderes e porta-vozes da nova geração".
Tais acusações, vindas ora de integrantes da própria cena de Seattle, ora da imprensa especializada, não tinham fundamento, e o tempo provou isso. Depois do estouro de "Ten", o Pearl Jam foi se mostrando cada vez mais consciente, social e politicamente falando, não se rendendo a explorações comerciais (a luta com a Ticketmaster é um bom exemplo disso), e sendo bastante crítico em suas opiniões sobre diversos assuntos. Ainda hoje, essa veia contestadora da banda pode ser facilmente percebida. Ou seja, além de uma música fantástica, o grupo pedia aos seus fãs para pensarem, e isso, dentro do mainstream, já é muita coisa.
Show completo no "Acústico MTV":
"Ten" completo para audição:
Enfim, "Ten" foi um divisor de águas, e mostrou que o rock podia ser inteligente, pensante, mas, com a energia que sempre fez a sua fama. Um disco seminal, que, sim, mudou muito a indústria da música da época. Álbum de cabeceira de qualquer um que saiba o mínimo de seu valor histórico, ou que queira apenas curtir uma boa música. Em ambos os casos, quem ouve não sairá pendendo.
Nota do disco: 10/10
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