Dica de Filme ("O Homem Invisível")

Dica de Filme

Título: O Homem Invisível
Ano de lançamento: 2020
Artista: 
Leigh Whannell

The Poster Posse x “The Invisible Man” Phase 2 – Poster Posse

Melhor filme de terror de 2020 até o momento é uma poderosa e pertinente releitura de um clássico da ficção científica  

Sim, filmes de terror/ficção científica podem ter muito a dizer além de simplesmente gerar tensão e suspense. Na realidade, alguns dos melhores exemplares desses gêneros não se limitam apenas a histórias fantásticas ou macabras, mas abrem espaço para um bem-vindo debate sobre os assuntos mais diversos. E no caso de O Homem Invisível, o que o diretor e roteirista Leigh Whannell teve foi uma sacada muito interessante: juntar uma ficção científica já centenária com um tema dos mais atuais. 

Obviamente que não é tarefa fácil. Afinal, se fosse, existiriam filmes assim sendo lançados toda semana. A diferença é que os realizadores aqui se focaram em certos detalhes que fizeram toda a diferença, permitindo que a trama fosse algo crível aos nossos olhos, mesmo que possua elementos fantasiosos em alguns momentos. 

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The Invisible Man (2020) Photo | Invisible man, Man movies, Universal  monsters

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The Invisible Man clip gives insight into terrifying new Elisabeth Moss  horror - Mirror Online

Um exemplo prático dessa preocupação com os detalhes: construção dos personagens. Não é preciso muito para que saibamos que a protagonista vive um relacionamento abusivo, e que está tentando escapar de tal situação. No entanto, não é tão simples quanto parece, e quando outros personagens surgem na história, por mais que algumas atitudes que tomem sejam "questionáveis", isso terá um propósito maior lá na frente. 

O importante aqui é que o texto aborda muito bem a questão do descrédito que as mulheres sofrem quando relatam ou denunciam situações de abuso. Claro, a metáfora no filme está no fato do agressor ser, de fato, invisível, e perseguir a personagem de todas as formas, mas, isso em nada tira o peso dramático dela ser considerada louca ou histérica por todos que estão ao seu redor, e não acreditarem que ela está sendo realmente atacada pelo seu ex-marido. 

Nisso, Leigh Whannell também se mostra bastante esperto na direção ao fazer certos enquadramentos de câmera que nos deixa tensos sem saber se "existe", de fato, alguém ali naquele ambiente ou não. É inquietante e perturbador, e só precisou de um mínimo de técnica para conseguir esse efeito. E, mesmo que depois os piores temores da protagonista se mostrem verdadeiros, ainda assim, a direção consegue criar o clima de terror necessário que cada situação exige. 

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Um dos melhores predicados do filme é saber como casar dois gêneros como o terror e a ficção científica com um assunto de tão forte cunho social. Soa tudo tão natural e tão orgânico que é impressionante que o texto-base já tenha mais de 120 anos de existência. E o melhor: até o último momento, o filme não perde esse foco de mostrar um relacionamento extremamente abusivo e suas consequências. 

Outro mérito inegável reside na interpretação intensa de Elisabeth Moss, que entrega uma ótima performance, muitas vezes, contracenando com o "nada", e nos deixando tão aflitos quanto ela. Interessante notar também que os outros personagens que circundam a protagonista possuem papeis bem claros, mesmo que pequenos, de expôr como as vítimas de abuso são tidas simplesmente como perturbadas. E, nisso, podemos dizer que os atores coadjuvantes cumprem bem esse papel. 

No campo da ficção científica em si, alguns podem até chiar, pois trata-se de algo colocado em segundo plano em muitos momentos, só mostrando um pouco mais dessa faceta no terceiro ato, que é carregado com um pouco de ação, e que talvez também desagrade a quem estava angustiado com a construção claustrofóbica feita até então. 

Mas, um conselho: espere até o final. Mesmo que a ação do terceiro ato, aparentemente, "destoe" do restante do filme, ele tem um propósito bem claro, e que vai se encaixar bem nos últimos minutos da produção, que fecha a história com maestria. Portanto, espere até os letreiros subirem para enxergar o filme como um todo, e entender que cada peça se encaixou bem (até mesmo aquelas, em tese, destoantes). 

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The Invisible Man (2020) - Starsky Media

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The Invisible Man (2020) Trailer: The Invisible Man: Elisabeth Moss Script  Read (Featurette) - Metacritic


O verdadeiro horror em O Homem Invisível está em constatar como o ser humano pode usar do seu conhecimento científico para provocar um verdadeiro terror em outras pessoas, rebaixando-se aos seus instintos mais baixos e asquerosos. Muito mais do que um fantasma, um demônio, um lobisomen ou um vampiro, a criatura mais nefasta nesses tipos de filme pode ser justamente uma pessoa comum, acima de qualquer suspeita. 

Trazer esse assunto para os dias atuais através de um texto clássico de ficção científica, e ainda mais pelas mãos de um grande estúdio hollywoodiano, e de forma tão eficiente, é algo que merece muitos elogios. 


Nota: 9/10

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