Dica de Série ("Normal People")

Dica de Série

Título: Normal People
Ano de lançamento: 2020

Direção: Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald

Normal People (TV Mini-Series 2020) - IMDb

Produção pouco conhecida mostra a maturação de uma relação ao longo do tempo de forma honesta e tocante 

Falar sobre relacionamentos amorosos é uma tarefa delicada, seja em livro, filme, série de TV, música, ou o que for. Isso porque essas mídias, geralmente, usam e abusam dos clichês mais batidos pra contarem uma história de duas pessoas que se gostam, mas que enfrentam, inevitavelmente, algumas agruras no meio do caminho. 

Não são muitas as produções que conseguem falar desse tema de maneira realmente simples, porém, envolvente. A trilogia de Linklater com Ethan Hawke e Julie Delpy é um bom exemplo de algo fora da curva e que se tornou referência nesse tipo de história. E agora em 2020 já temos mais um a ingressar neste seleto grupo: a série Normal People. A diferença é que aqui temas mais pesados (como abuso, depressão e suicídio) são tratados de uma maneira mais crua. 

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Acompanhamos, de início, Marianne Sheridan andando pelos corredores de seu colégio, e em poucos minutos, já temos um vislumbre a respeito sua (forte) personalidade, quando ela não tem nenhuma cerimônia ao responder de maneira cínica a um professor. Posteriormente, nós também iremos conhecer Connell Waldron, um aplicado e popular aluno que estuda na mesma sala que Marianne, mas que parece sempre estar deslocado do restante da turma, mesmo que esteja, quase sempre, rodeado de colegas de classe.

Não demora para que ambos se aproximem de maneira mais íntima, mesmo que, aparentemente, eles sejam o oposto um do outro: ela é considerada arrogante e vive sendo xingada no colégio, e ele é o típico nerd estudioso e bastante popular, mesmo sendo calado e muito tímido. Ainda assim, surge uma espécie de conexão entre ambos, seja pelo grau de inteligência, seja pela forma como veem o mundo.

A partir daí, vai ser construída uma relação entre ambos muito bonita, mas também complexa e cheia de dificuldades, já que ele sugere que o relacionamento dos dois seja segredo para preservar a imagem dos dois (especialmente a dele). Obviamente que conflitos irão surgir, porém, de maneira não tão óbvia quanto se imagina. 

E, acredite: isto que mencionei está apenas nos dois primeiros episódios. Gradativamente, as coisas vão ficando bem mais complicadas, com encontros e desencontros se tornando comuns  na vida de Marianne e de Connell. E, tudo mostrado com sensibilidade e sagacidade pelo roteiro, pontuado certos assuntos que parecem passar longe da relação dos dois, mas que estão entranhados com força em seus íntimos. 

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Um dos grandes méritos da série é apostar em sutilezas para ir compondo sua trama com o passar do tempo. Nenhum dos episódios é isolado entre si, e todos são uma continuação bem costurada do que aconteceu antes. Uma dessas sutilezas, por exemplo, é como o Connell se mostra com dificuldade em demonstrar sentimentos publicamente, chegando ao ponto de não tocar em Marianne na frente dos outros, e lá na frente veremos as consequências práticas disso. 

Já da parte de Marianne, ao longo de toda a série, ela se mostra uma pessoa bastante inteligente, mas, começamos também a entender a forma defensiva como ela trata as pessoas, especialmente quando nós acompanhamos o dia a dia dela com sua mãe e o seu irmão. E isso serve também para a produção abordar, mais adiante, questões tensas, como transtornos provocados por maus tratos, gerando um senso de submissão muito forte nela. 

Inclusive, outro ponto positivo da série é como ela aborda alguns temas tabus e pesados sem ser sensacionalista ou caricata. Em um determinado momento, por exemplo, Connell se abre de maneira bem honesta com sua psicóloga, e expondo sua profunda depressão. A partir disso, a série mostra ele se tratando e tentando melhorar. 

É importante ressaltar também que Normal People não é panfletária nem rasa nesses assuntos. Eles simplesmente surgem naturalmente ao longo da história à medida que os personagens amadurecem. Tudo sem filtros e sem neuras. Apenas a vida cotidiana acontecendo. Ora de maneira tranquila, ora de forma trágica, ora simplesmente de maneira banal.

Mesmo que Marianne e Connell sejam quais impulsione a história, outros personagens também têm o seu grau de importância na trama, como as respectivas mães de ambos, bem como os amigos que os circundam até o final da série. Ainda assim, quem realmente são os protagonistas aqui são Marianne e Connell, e é por eles que torcemos do começo ao final (mesmo que os percalços sejam realmente grandes - como é a vida real, no final das contas).

Os diretores Lenny Abrahamson e Hettie Macdonald imprimem um bom ritmo à história, bem como sabem a hora certa de usarem a trilha sonora, sem que esta soe intrusiva ou forçada demais. Além disso, a atuação do elenco é muito boa, em especial, Daisy Edgar-Jones e Paul Mescal, que interpretam os personagens principais. Por fim, a série trata o sexo e a nudez dos personagens com muita naturalidade, sem apelação ou tabus bobos. 

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Baseada em um romance da irlandesa Sally Rooney, a série não se furta em falar de diversos temas (alguns, bem espinhosos, diga-se), mas não se esquecendo de trabalhar bem a maturação da relação de seus protagonistas, sempre de forma muito crível e sem grandes retoques. E tudo com uma sensibilidade que se vê pouco por aí.

Uma das melhores séries dessa nova safra, sem dúvida. 


Nota: 8,5/10


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