Dica de filme ("O Segredo do Abismo")
Dica de Filme
Título: O Segredo do Abismo
Ano de lançamento: 1989
Direção: James Cameron
1989 foi um ano de mudanças para o mundo, especialmente por causa da queda do Muro de Berlim, que decretou (em tese) o fim da Guerra Fria. O planeta também passava por mudanças climáticas e ambientais que os cientistas já alertavam (o que veio a culminar na famosa Eco 92). É a partir de temas tão distintos que James Cameron compôs uma ficção científica sobre possíveis seres extraterrestres, mas que, no escopo geral, tem críticas certeiras tanto ao militarismo da época, quanto à degradação da natureza. Algo, por sinal, que ele iria explorar ainda mais em "Avatar", anos depois.
Já em "O Segredo do Abismo", numa época em que o mote era exaltar o patriotismo ianque contra a tal da "ameaça vermelha" (vide "Rocky IV"), e quando as questões ambientalistas ainda engatinhavam no entendimento popular, vemos um filme que soube se aproveitar bem esses temas em forma de alegorias (algumas bem diretas), além de explorar de maneira muito esperta algo que já tinha se mostrado sucesso no cinema recente: alienígenas bondosos ("E.T." e "Coccoon" são a prova disso).
Essa mistura de elementos, que poderia soar indigesta, é justamente um dos grandes acertos do filme, além de outros predicados, obviamente.
Uma das coisas que chama a atenção aqui é como Cameron é um exímio contador de histórias quando quer. Essa característica fica ainda mais evidente pra quem assistir a versão sem cortes, com quase três horas de duração. O tempo passa, e continuamos cada vez mais interessados no destino daqueles personagens e descobrir, afinal, o tal "segredo" do título brasileiro. A progressão de acontecimentos é bastante orgânica, com os desafios se sucedendo em escala cada vez maior.
Ao mesmo tempo em que a história avança, os personagens principais vão se desenvolvendo diante de nós (uns mais do que os outros, mas, sempre com algo mostrado naquele momento reverberando mais lá na frente). O que denota, por si, um roteiro bem estruturado, mesmo que às vezes, haja um ou outro furo para permitir que a trama avance ou mesmo cause mais impacto. Ainda assim, quase tudo aqui é bem pensado e esquematizado, e os personagens, em grande parte do tempo, agem como pensaríamos que deveriam agir.
Além disso, há a questão ambientalista, que fica mais explícita e forte no final do filme, numa sucessão de imagens que talvez soasse forçada em outra produção, mas que aqui casou muito bem com a proposta. Mesmo que não seja algo imensamente aprofundado, a crítica em um blockbuster desse tipo soa bastante válida, ainda mais se levarmos em conta a época da produção. Digamos que algumas imagens ali chegam a incomodar, fazendo do filme não só uma ode ambientalista, mas humanista.
Na parte técnica, os efeitos visuais envelheceram muito bem, com as tomadas aquáticas sendo um deslumbre à parte. Já no campo das atuações, não podemos dizer necessariamente que estão estupendas. Na verdade, são até limitadas em alguns momentos. Mas, no geral, funcionam bem, em especial a interpretação de Ed Harris, que confere muita verdade ao seu personagem, num misto de autoridade e (em alguns momentos) desespero e (por fim) deslumbre.
Nota: 9/10
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