Dica de Disco

Bloco do Eu Sozinho
2001
Artista: Los Hermanos


O "Angel Dust" dos Los Hermanos. Ou seria o "Sgt. Peppers" dos Los Hermanos? Não importa como queiram tachá-lo. Quebra de paradigmas; teste aos fãs. Sim, meus caros, atitude. Mas, não aquela falsa, da moda, que faz os jovens atuais pedirem uma ditadura militar, por exemplo.

Ousadia. Talvez o último momento da música brasileira em que essa palavra fez sentido. A briga com a gravadora da banda à época (a Abril Music) e a insistência do grupo em lançar o material, mesmo com algumas modificações, não tem paralelo recente na indústria fonográfica daqui.


Teria ido o Los Hermanos longe demais? Provavelmente. E, que bom! De que se valeria a grande arte sem a transposição desses limites? Calculado ou não, o risco em se lançar "O Bloco do Eu Sozinho" foi grande. Resultado imediato: uma legião (enorme) de fãs comprou a ideia da banda, e passou a admirá-los mais.

O negócio é o seguinte: não tem um único hit nesse disco. Tudo bem, vamos nos esforçar um pouco. Talvez a primeira música de trabalho ("Todo Carnaval tem seu Fim") seja a coisa mais fácil que encontraremos aqui. E, percebam que a canção possui belíssimos e elaborados arranjos. Realmente, é um disco que merece atenção redobrada.


Elaboração é a chave do álbum, por sinal. O jogo de palavras e estrofes em "Cadê teu Suin?" é deveras inteligente. "Cher Antoine", cantada quase toda em francês, também se destaca nesse parâmetro bem cuidado que a banda adotou para compor o disco.

As letras estão mais passionais, melancólicas, tristes. Longe da explosão juvenil do álbum de estreia, aqui encontramos maturidade e reflexão em muitos momentos. Alma na bandeja, sem medo de soar egoísta.

"Minha flor serviu pra que você achasse alguém, um outro alguém que me tomou o seu amor" (em "A Flor").

"Eu só a condição de ter você só pra mim, eu sei não é assim, mas deixa" (em "Sentimental").

"Hoje, eu quis brincar de ter ciúme de você, mas sem porquê meu coração me avisou que não fingir na hora de rir" (em "Fingir na Hora de Rir").


A sonoridade das músicas é um caso à parte. Mescla de tudo; de hardcore à samba, de reggae à marchinhas de carnaval. O critério, ao que parece, foi um só: que tais colagens fizessem sentido, em harmonia, onde as canções fossem muito, mas muito bem tocadas. Não à toa, alguns se chocaram ao ouví-lo pela primeira vez.

Irretocável do começo ao final, "O Bloco do Eu Sozinho" foi uma bem-sucedida busca pelo bom gosto na música atual. Sem clichês, afetações; apenas a inquietação de que sabia que podia mais. E, fizeram.

De fato, os notórios barbudos foram longe demais.


NOTA: 10/10

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