Dica de Filme

Minha Vida em Cor de Rosa
1997
Direção: Alain Berliner


Falar de assuntos de gêneros masculino ou feminino, ou, simplesmente, sobre sexualidade, sempre foi tabu. No cinema, por incrível que pareça, não vemos muitos esforços de fugir dos clichês. Tais assuntos, na maioria dos filmes, são tratados de forma sofrida, pesada, tensa, carregada. Portanto, é sempre bom nos depararmos, de vez em quando, com uma produção ingênua e despojada, como "Minha Vida em Cor de Rosa".

Se hoje, falar de um menino que gosta de se vestir de menina (ou vice-e-versa) ainda gera controvérsias, imaginemos isso há quase 20 anos atrás, então. Por isso, o filme já merece aplausos (pela ousadia). Porém, esta produção francesa vai além. Debate, sem lugares-comuns ou preconceitos, um tema que deixa muitos desconfortáveis.



Muito disso se deve ao trato que é dado à estória. Seus realizadores optaram por mesclar realidade e fantasia.  Em muitos momentos, ao mesmo tempo em que Ludovic sofre com o preconceito e à intolerância perante a sua condição, ele também usa a imaginação para encontrar conforto e alento, fugindo de um ambiente violento. Algo parecido com o que "Labirinto do Fauno" fez anos depois (com outro enfoque, claro).

E, as situações aqui, até por se tratar de uma comédia também, são bastante engraçadas e espirituosas. Com isso, o tema sempre é abordado com graça e leveza, mas sem ser superficial. Além disso, não há dramas desnecessários e forçados para que o espectador tenha pena do menino. A construção do personagem dá sintonia e carisma com quem assiste.


O roteiro não justifica o fato dele querer se vestir de menina. Ele apenas quer, e pronto. Quem vai tentar justificar seu comportamento são os pais, que, obviamente, ficam amedrontados com a situação, muitas vezes, maltratando Ludovic. Mesmo as idas a uma psicóloga se tornam ineficazes pelo simples motivo que todos percebem que isso não se trata de uma doença. Pode ser uma fase (ou não). Pode ser um indício de homossexualidade (ou não).

Mas, como é bem sabido o preconceito e a intolerância sempre se mostram latentes nesses casos, e isso se reflete desde o abandono dos amigos à família, até a demissão do pai de Ludovic. Todos atribuem a culpa dessas mazelas a ele. Porém, mesmo sofrendo, o menino se mostra confiante do que quer, e sempre se imagina num mundo encanto, de vestido, até se "casando" com um de seus amigos. Tudo muito delicado e mostrado de forma espontânea.


Trata-se de um filme simples, mas muito eficiente para debater assuntos (ainda) tão "polêmicos". Todos os envolvidos na produção, desde o diretor Alain Berliner, até o elenco bastante coeso, fazem questão de nos apresentar uma discussão muito importante sobre preconceitos sociais e como questões meramente bobas (como um menino se vestir de menina) não influenciam no que realmente interessa.

Enfim, uma aula de tolerância bem divertida, mas relevante.


Nota: 8/10

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