Dica de Filme

O Homem Mais Procurado
2014
Diretor: Anton Corbijn



A paranoia e o medo do terrorismo já gerou inúmeros produtos na sétima arte. O problema é que a maioria tem gosto pra lá de duvidoso ("Guerra ao Terror" e "A Hora Mais Escura", por exemplo). Porém, existem aqueles filmes que tentam fugir dos clichês, principalmente, os patrióticos, e oferecem um resultado interessante de se ver.

Provavelmente, ajuda muito "O Homem Mais Procurado" ser ambientado numa cidade europeia, mas somente isso não garantiria algo acima da média. O destaque acaba sendo o roteiro, que pega muita ironia e sarcasmo para falar de um assunto onde grande parte só vê uma luta entre heróis e vilões; entre o "eixo do Bem" combatendo o "eixo do Mal".



A estória é baseada na obra do escritor John Le Carré, que, inclusive, trabalhou para os órgãos de inteligência britânica MI5 e MI6 nos anos 50 e 60, tempo em que morou na Alemanha. E, ela conta o drama de Issa Karpov, imigrante de origem chechena e russa, que foge para Hamburgo, e encontra abrigo na comunidade islâmica do local.

No entanto, está em seu nome uma enorme herança deixada pelo seu pai, o que deixa as autoridades locais (apreensivas com atentados terroristas) desconfiadas de que Issa faça parte de alguma organização radical. A investigação avança, onde espiões a serviço do governo tentam descobrir algo que comprometa Issa.


Com esse roteiro em mãos, Anton Corbijn, mais conhecido por ser diretor de vídeo-clipes, trabalha de forma não-convencional no filme, mesmo com o preconceito que o Islã sofre nos dias de hoje, nenhum de seus membros é mostrado como um mero vilão. Issa, em alguns momentos, no entanto, demonstra certa alienação religiosa, tentando justificar um ato terrorista que vê pelo jornal. Mas, é o tipo de atitude que não é exclusividade de um adepto do Islamismo.

Já, o personagem do saudoso Philip Seymour Hoffman, o agente Günther Bachmann, é mostrado como uma pessoa cansada de seu ofício, tentando achar alguma motivação em seu trabalho. Longe de ser um herói, ele não tem pudor em usar de métodos poucos usuais para fazer aquilo que julga o correto. Não é um personagem simpático, e por isso mesmo, torna-se fascinante.


O início do filme, contudo, é intrincado em demasia, só melhorando sua fluidez ao longo do tempo. Com isso, passamos a emergir num mundo de espionagens realmente interessante, e começamos a torcer por Issa e Günther. Nesse momento, entendemos também que o terrorismo se dá mais nas altas esferas do poder do que com homens-bombas. Não deixa de ser uma realização corajosa.

Tratando um tema delicado de forma madura, inteligente e sutilmente crítica, "O Homem Mais Procurado" agrada em cheio a quem busca uma visão menos maniqueísta sobre a tão falada "guerra ao terror".


Nota: 8/10

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