Dica de Filme

12 Homens e Uma Sentença
1957
Direção: Sidney Lumet


Incrível como alguns dos melhores resultados no cinema são conseguidos com muito pouco. Locações, por exemplo. Quem não se lembra do cenário quase único em "Cães de Aluguel", mas, que proporcionou um filmão de Tarantino, pra alguns, o melhor dele. Anos antes, no entanto, o cineasta Sidney Lumet, usando basicamente a mesma estrutura de cenário único iniciava sua carreira cinematográfica com um filme, até hoje, surpreendente: "12 Homens e Uma Sentença". A premissa é básica: um corpo de jurados, composto por 12 homens, precisam decidir pela inocência ou não de um jovem acusado de homicídio. Parece ser uma história simples, mas, não é.

Ambientado 95% do tempo na sala aonde eles discutem sobre o destino do rapaz, a produção é calcada apenas e tão somente nos diálogos. Porém, é impossível não sentir certa tensão no decorrer de todo o filme. Isso se explica pelo fato de Lumet sempre ter sido mestre em construir narrativas em que as palavras possuíam mais força e significado do que as ações em si. Desde conversas mais calmas e amenas à discussões mais inflamadas e violentas, o muito que é dito é feito com o intuito de se falar coisas que estão nas entrelinhas, como, por exemplo, a personalidade de cada um desses homens.




Não é difícil desvendar como cada um é como pessoa. Existe desde aquele que pretende terminar logo esse julgamento para poder ir a um jogo de futebol, até aquele que não firmeza de posicionamento, deixando-se levar de uma opinião à outra facilmente. Porém, no começo do processo, é um deles apenas que, dizendo-se não convencido da culpabilidade do acusado, desencadeia uma série de acontecimentos, em que todos ali naquela sala vão expondo suas qualidades, e, principalmente, os seus defeitos. Muitas vezes, a câmera, sem cortes, passeia pelo local, para que o espectador possa acompanhar cada um dos 12 jurados, como se comportam, etc., o que vai ser essencial para entendermos suas ações posteriores.

Interessante notar que, na maioria dos casos, que alguém se posiciona em classificar o rapaz como "culpado", não é devido aos fatos apresentados pela promotoria, mas, sim, em decorrência de coisas meramente pessoais. E, aí que o preconceito vêm à tona. Num determinado momento, mesmo que as provas de acusação sendo derrubadas uma a uma, um dos jurados usa como argumento, simplesmente, o fato do rapaz ser pobre, e que "essa gente é assim mesmo; não têm respeito pela vida humana. Todos são assim!" Inclusive, esse diálogo proporciona uma das melhores cenas do filme, quando até mesmo os que se posicionam em favor da culpabilidade do réu não aguentam ouvir tanto preconceito.




Na realidade, a sala aonde os jurados se reúnem parece mais um microcosmo da sociedade como um todo, em que vários tipos de pessoas são obrigadas a estarem num mesmo ambiente. Pra alguns, o pior de tudo acaba sendo discutir, pois, repensar ideias já formadas é quase um sacrilégio. E, apesar disso, aquele que se diz a favor da provável inocência do rapaz, insiste no diálogo, mesmo que a duras penas. Bom dizer que o roteiro, humanista até a medula, não se presta a interpretações fáceis dos personagens. Mesmo aqueles mais irredutíveis, e até ridículos em suas colocações, não são pintados de maneira negativa o tempo todo, provando que a insistência na conversa ainda é uma das melhores soluções em casos assim.

Por ser um filme de cenário único, seria lógico pensar que os atores fossem bons em interpretar papéis tão complexos. E, de fato, não só temos aqui atuações convincentes, como algumas são memoráveis. Henry Fonda (que também é produtor do longa) está impecável como o jurado com desafia o senso comum dos demais, e expõe seus argumentos de forma clara, quase inconveniente. Já, Lee J. Cobb está excelente como o jurado que, até as ultimas, afirma que o rapaz é culpado, às vezes, de forma bastante agressiva. O restante do elenco também se sai muito bem, proporcionando alguns detalhes que identificam bem a personalidade de seus respectivos personagens.




E, é claro, o grande mérito de tudo isso vai para a estupenda direção de Lumet, que consegue extrair muito das cenas com tomadas, às vezes, até bem simples. Logo no início do filme, por exemplo, não há como ficar imune à poderosa sequência que mostra um panorama da sala dos jurados, mostrando, de forma tranquila e até elegante, cada um dos personagens, e um pouco do que cada um é. Nesse momento, o espectador já pode se encontrar, facilmente, imerso no ambiente, quase conversando e discutindo com os protagonistas. Tudo na base dos diálogos e das expressões do elenco, apenas.

Usando uma história relativamente simples, mas, que vai se desdobrando em pertinentes discussões sobre a sociedade moderna, "12 Homens e Uma Sentença" pode, facilmente, ser classificado como um dos melhores filmes de tribunal de todos os tempos, Com personagens fortes, sem serem estereotipados, diálogos impecáveis, e uma direção que respeita a inteligência do espectador, não é exagero nenhum colocar este filme no mesmo nível dos melhores trabalhos de Lumet, como "Serpico" e "Um Dia de Cão". Uma época, por sinal, em que Hollywood ainda tinha o que dizer. Bons tempos.


NOTA: 10/10

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