disco mais ou menos recomendável ("radiola - vol. 1" - nação zumbi)

Disco Mais ou Menos Recomendável

Radiola - Vol. 1
2017
Artista: Nação Zumbi


COM UM ÁLBUM DE REELEITURAS, A NAÇÃO ZUMBI MOSTRA COMPETÊNCIA, MAS, SEM A MAESTRIA DE OUTRORA

O tempo passa. Alguns artistas melhoram. Outros, pioram. E, os demais apenas estagnam. E, este terceiro caso se aplica muito bem à banda pernambucana Nação Zumbi, egressa do saudoso movimento mangue, nos anos 90. Se entre "Rádio S.Amb.A." e "Fome de Tudo", o grupo havia alcançado um nível de criatividade absurdo, parece que depois do morno "Nação Zumbi", de 2014, a tendência é ser mais pop, erradicando cada vez mais os sons tribais das alfais do maracatu em detrimento de um som mais leve, com melodias mais "radiofônicas". 

Se, por um lado, o som fica mais "redondo, mais "assoviável", por outro, perde aquele senso de genialidade, onde, a cada audição, era uma surpresa, uma sonoridade instigante, diferente, autoral. E, "Radiola Vol. 1", discos de covers da Nação, é a prova de como o som da banda continua competente, porém, mais do mesmo.



O começo do álbum ainda dá uma vaga esperança de que o grupo pudesse apresentar nele algo de verdadeiramente diferenciado, com a versão dela para a ótima "Refazenda", de Gilberto Gil. No entanto, apesar do som ser muito bom, faltou uma presença mais de uma percussão mais forte. A interpretação sem emoção de Jorge Du Peixe também não ajuda muito, nesse sentido. Mesmo assim, boa e honesta faixa. 

Pula pra "Balanço", de Tim Maia, e tudo melhora consideravelmente, tanto na interpretação de Du Peixe, quanto na sonoridade, em especial, a inventiva guitarra de Lúcio Maia. Contundo, ainda parece que a banda está aqui cumprindo "tabela", executando as canções com competência, mas sem "algo" a mais.

Chegamos, então, na reeleitura de "Amor", originalmente, dos Secos e Molhados, versão já conhecida do público há um certo tempo devido aos shows que a Nação fez ao lado de Ney Matogrosso. Ótimo cover, na de excepcional, mas, empolgante, e com o bônus da participação sempre acima da média do grande Ney. 

A próxima do playlist, "Não há Dinheiro que Pague" (de Roberto Carlos), faz, curiosamente, lembrar a versão que a banda já fez para "Todos Estão Surdos", do mesmo autor, e ainda com o saudoso Chico "Ciência". Só que a correspondência acaba por aí, já que a versão para "Todos Estão Surdos" é bem superior, apesar da reeleitura de "Não há Dinheiro que Pague" ter lá as suas qualidades, mas, sem nada de especial.



A versão seguinte é para a canção "Do Nothing", do jamaicano Lynval Golding, acertadamente, com uma levada reggae mais classuda, ao estilo atual da Nação, que até funcionou bem, e, que pode funcionar melhor ainda ao vivo. 

Depois, uma versão para uma composição de Taiguara, "Dois Animais na Selva Suja da Rua", talvez aquela que melhor represente no disco aquele pingo da genialidade que a Nação tinha alguns anos atrás. Com bom uso de sintetizadores, e com uma percussão que parece querer ser mais onipresente, é talvez a melhor reeleitura do disco, o que não significa, porém, que seja fabulosa (está apenas acima da média das demais).

A versão de "Tomorrow Never Knows", dos Beatles, ficou mais pesada e mais densa do que a original, porém, menos caótica. Às vezes, beira a chatice. Bem executada, é verdade. Mas, só. "Sexual Healing", de Marvin Gaye, ao contrário, teve uma sorte um pouco melhor, com uma execução leve e intimista (sem ser chata), e com um Du Peixe até cantado mais afinado com a proposta da faixa. 

Por fim, o álbum se encerra com a razoável reeleitura de "Ashes to Ashes", de David Bowie. Competente, mas, uniforme demais em sua execução; ainda mais se levarmos em consideração que se trata da versão de uma composição do "camaleão do rock". 


Pode parecer implicância, porém, a saída do percussionista Gilmar Bola 8 da banda (que se deu com uma troca vergonhosa de farpas de ambos os lados), faz falta ao som do grupo. Por mais que queira tomar outros ares, e tentar fazer algo diferente (o que é louvável, na maioria das vezes), o certo é que a Nação Zumbi não é uma banda pop. 

Sem os tribais das alfaias que davam uma essência afrobeat ao som dos caras, com a união do rock, mais as influências regionais, é o que fazia a Nação ser algo único, diferente, formidável. Do jeito que está se delimitando há um bom tempo, porém, não passa de uma boa banda de pop rock simples, com ótimos instrumentistas, só que com "zero" de originalidade. Uma pena.


NOTA: 6/10


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