filme mais ou menos recomendável ("Três Anúncios para um Crime")

Filme Mais ou Menos Recomendável

Três Anúncios para um Crime
2017
Direção: Martin McDonagh


"TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME" PARTE DE UMA PREMISSA PODEROSA PARA ENTREGAR UM RESULTADO FRACO, APESAR DE ALGUMAS BOAS PROVOCAÇÕES AQUI E ACOLÁ

O desejo por justiça misturado ao desejo de vingança. Um ciclo que parece acometer a todo e qualquer ser humano, principalmente, quando este ele se vê não jornada contra tudo e contra todos, sem o apoio de praticamente ninguém. Em linhas gerais, é assim que se sente Mildred, protagonista de "Três Anúncios para um Crime". 

Com sua filha, Angela, violentada e morta há 7 meses, e sem a polícia se mexer para resolver o caso, ela toma a radical atitude de colocar "anúncios" em outdoors questionando o trabalho das autoridades, e exigindo justiça. Nisto, compra briga com toda a pequena cidade em que vive. Estória poderosa, não? Mas, infelizmente, ao longo de sua projeção, o filme se "sabota" em decisões erradas de roteiro.




O primeiro ato, inclusive, é bem interessante e provocativo, com Mildred mostrando fibra ao enfrentar toda uma corporação policial ineficiente e truculenta, principalmente, na figura de Dixon, que, sempre que pode, abusa da autoridade que possui. 

Nesse meio tempo, também vamos sabendo que ela, hoje separada do antigo marido, sofria violência doméstica, e isso se refletiu no trato com os filhos, tratando eles sempre de maneira fechada e arredia. Nesse contexto, também somos apresentados ao personagem Bill, delegado da cidade, e que mesmo se mostrando um pouco ineficiente também, assim como outros membros de sua equipe, ele tenta não abusar de sua autoridade policial e até compreende toda a revolta de Mildred.

No decorrer da narrativa, é Mildred quem vai comandando a estória, seja com a sua língua ferina (até mesmo contra o padre da cidade), seja por sua luta pessoal contra vários moradores da região que não veem com bons olhos as atitudes dela, sempre sendo chamada de louca. 

No entanto, a narrativa se desenrola, e após um fato chocante ocorrido lá pela metade do filme faz com que a produção perca o rumo, provocando desde uma redenção sem nexo de um personagem, até aquele momento, execrável, até sequências mal-feitas e constrangedoras em termos de direção, como a do incêndio. Tudo isso tira o foco da tour the force que Mildred estava empreendendo em busca de justiça. 

O que é uma pena, pois a dor da personagem é sempre apresentada de uma maneira muito palpável, muito crível, e deixar os questionamentos dela de lado para tentar dar carisma a um personagem que não merecia tamanha atenção, foi um erro de abordagem do roteiro bem visível.




Outro fator que depõe contra o filme é o uso, por vezes, indiscriminado de humor em situações em que o humor simplesmente não cabe. Fica deslocado, por exemplo, presenciarmos uma cena de violência doméstica, para, em seguida, uma das muitas personagens patéticas que existem aqui, vir com comentários toscamente risíveis. 

É como se o roteiro tivesse medo de pegar mais pesado em certos temas, o que não se justifica, principalmente, porque e própria personagem Mildred pega muito pesado em seus comentários. E, são essas situações constrangedoras e diálogos ridículos que fazem o filme ter um potencial que nunca é devidamente explorado.

Já, o grande mérito da produção, é, sem dúvida, a sua protagonista, uma mulher forte, audaciosa, mas, também um tanto perturbada pelos traumas pelos quais passou (da violência doméstica à perda da filha). Porém, mesmo em suas "perturbações" ela diz umas boas verdades em determinados momentos do filme, que compensam qualquer deslize no roteiro ou na direção. 

Nesse sentido, o trabalho da atriz Frances McDormand é exemplar ao compôr uma personagem tão complexa e fascinante. Palmas também para Woody Harrelson, que faz o segundo melhor personagem do longa, e que, com certeza, merecia mais tempo em tela. O restante do elenco até se esforça, mas, no final, só entregam algo, no máximo, passável. Por fim, o roteiro e a direção de Martin McDonagh oscilam muito entre momentos memoráveis, e outros bem descartáveis, tendo um resultado abaixo da média, infelizmente.




Em Resumo, "Três Anúncios para um Crime" é um tipo de filme onde as suas muitas possibilidades nunca se concretizam, , ora apelando para diálogos risíveis, ora para situações constrangedoras e mal executadas, ora em questionamentos rasos de assunto que, ironicamente, em poucas palavras, a própria protagonista, Mildred, consegue definir tão bem. 

O final da produção, é bom salientar, ainda pode suscitar um interessante debate a respeito da questão de fazer justiça com as próprias mãos. No entanto, basta lembrar que "Sobre Meninos e Lobos" (um filmaço) abordou esse assunto de uma forma bem mais impactante para percebemos rapidamente que "Três Anúncios para um Crime" não passa de um filme muito fraco, seja na sua narrativa, seja na sua proposta, com a (leve) vantagem de ter uma protagonista sensacional.


NOTA: 6/10

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