dica de filme ("Cidade das Sombras")



Dica de Filme

Cidade das Sombras
1998
Direção: Alex Proyas


Mesmo diretor de "O Corvo" comanda com muita propriedade uma história enigmática e instigante onde nada é o que parece

Vida de cinéfilo, realmente, não é fácil. "Encontrar" filmes com certa identidade, que fujam um pouco do óbvio e tenham um enredo, de fato, interessante, está se tornando uma tarefa um tanto quanto ingrata. Até nos deparamos com filmes muito bons, porém, ao mesmo tempo, são produções "certinhas", redondas demais, às vezes, formulaicas e demais. 

É aí que, depois de anos e anos, surgem gratas surpresas, como este Cidade das Sombras, dirigido por Alex Proyas, que, 4 anos antes, havia feito o altamente cult O Corvo, uma das melhores adaptações (sim) de quadrinhos de Hollywood.




O melhor de tudo é que o filme é daqueles que lhe prendem a atenção desde os primeiros segundo, e vão nesse toada por duas horas de projeção ou mais (sabem "Blade Runner" e "Seven"? É exatamente por aí). De cara, um homem acordando em uma banheira, completamente atordoado, sem saber exatamente onde está, e (pior) com o corpo de uma mulher morta no outro cômodo do lugar. 

Desnorteado, parte em busca de respostas, mas, a jornada será difícil, pois ele nem sequer sabe qual o seu próprio nome (provavelmente, sofreu uma forte perda de memória ou algo do tipo). Somente aos poucos ele vai encaixando as peças, "conhecendo" pessoas, (re)encontrando outras, e descobrindo coisas escabrosas a respeito da cidade em que vive.

Sim, estamos diante de uma produção cujo mote da história é investigativo, e que pega emprestado muito do cinema noir, em especial, pelo fato da ação se passar 99% à noite, na penumbra. Uma estética que também lembra os bons filmes de terror (em especial, sobre vampiros). 

Mas, o melhor de tudo se concentra no roteiro (bastante sagaz) do próprio Proyas em parceria com David S. Goyer e Lem Dobbs, e na direção minuciosa e muita inventiva do cineasta. Ambos os aspectos se misturam numa simbiose praticamente perfeita, ajudados ainda mais por uma edição rápida e certeira, que, por vezes, peca somente por seu um pouco apressada demais. 




O roteiro, por sinal, brinca com elementos bem interessantes que misturam elementos psicológicos que, coincidentemente, estariam bastante presentes um ano depois, no clássico moderno Matrix. E, o melhor: mesmo com conceitos que, aparentemente, podem soar difíceis em um primeiro momento, esses elementos mais, digamos, "filosóficos" só servem para abrilhantar ainda mais o filme. 

O motivo? 

Tudo tem um porquê de ser, nada é jogado aleatoriamente na trama, por mais absurda e fantasiosa que ela possa parecer. Realmente acreditamos na verossimilhança de que algo assim seria possível, como a existência de uma imensa "matrix", por exemplo. 

De Rufus Sewell, passando por Kiefer Sutherland, e chegando a William Hurt e a Jennifer Connelly, todos os atores estão muito bem no papel, com destaque para Rufus Sewell, que faz o protagonista da trama, e passa muita veracidade em seu desespero de não saber absolutamente nada do que está acontecendo em sua vida. 

Como um todo, o filme só tem um pequeno defeito, lá pelo final, em seu terceiro ato, quando ele passa a fica "espalhafatoso" demais. Claro que aqueles acontecimentos estavam de plano acordo com o que o roteiro estava construindo até então, mas, o clima noir que permeou toda a produção (e, que era um dos seus pontos fortes) foi meio que prejudicada nesses momentos. Ainda assim, é um desfecho interessante dentro daquela proposta, e com um visual arrebatador, diga-se.




Ao final, Cidade das Sombras cumpre muito bem o seu papel de misturar estilos, aparentemente, díspares, mas, que aqui funcionaram harmoniosamente bem, evidenciando o talento de Proyas para filmes estranha e maravilhosamente darks, mas que respeitam a inteligência do espectador, através de tramas elaboradas e personagens muito bem construídos.

Em suma, um filmaço.

NOTA: 8,5/10





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