dica de filme ("Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas")


Dica de Filme

Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas
2003
Direção: Tim Burton


Bastante simbólico, um dos melhores filmes de Tim Burton é uma bela fábula sobre a importância das histórias e o sentido da vida e da morte

A vida e a morte já foram tratadas de diferentes formas pelo cinema, mas, sempre há espaço para visões criativas sobre esses assuntos a depender do talento de seus realizadores. Não importa se otimista ou pessimista, metafórico ou realista, se a obra em questão puder "mexer" com as estruturas do espectador, ela terá conseguido o seu intento em contar uma história fascinante, que, mesmo que não pareça inédita, tem o frescor, a leveza e a simpatia das boas narrativas. 

É o que acontece com Peixe Grande, por exemplo, que parece com muito do que já vimos no cinema, e mesmo assim, permanece sendo um trabalho bastante original.




E, como toda fábula que se preze, a de Peixe Grande começa com uma história fantástica e improvável, de um peixe de rio que nunca é pego, e, por isso, Edward Bloom resolve tentar fisgá-lo de uma maneira "inusitada". 

O grande problema é que ele conta essa história sempre e sempre, principalmente, na presença do filho, William, que cresce e vai tomando abuso pelas histórias do pai, que, segundo ele, não passam de mentiras para encobrirem a verdadeira personalidade de Edward. Porém, o bom e velho contador de histórias está gravemente doente, o que se configura como uma excelente oportunidade para unir pai e filho, e este, finalmente, entender um pouco mais da vida do seu progenitor.

A narrativa mescla muito bem "realidade" (momentos de Edward com a família atualmente) e "fantasia" (as suas histórias fabulosas e os personagens improváveis que o protagonista vai conhecendo ao longo da vida). 

E, essas histórias são carregadas de simbolismos, de metáforas, muitas delas, nem tão fáceis quanto aparentam, e mesmo que algumas possam parecer bibas ou óbvias demais, elas, na realidade, estão carregadas de significados, muitos deles, que só vamos entender ao final do filme. 

Mas, no geral, são mensagens bastante sutis, delicadas, que realmente dizem muito mais do que aparentam, o que torna a trama um interessante jogo de interpretação, seja através das palavras, seja através das imagens, algumas de uma beleza plástica incrível.




Algumas das fabulosas histórias de Edward possuem "personagens" tão "estranhos" (ao mesmo tempo que fascinantes) que fica praticamente impossível não nos afeiçoarmos a muitos deles. Como esquecer, por exemplo, do gigante Karl, das gêmeas siamesas cantoras, ou até mesmo do poeta Norther Winslow? 

Todos esses são bastante inusitados e "improváveis" dentro de uma ótica mais realista (e, porque não dizer mais chata, mesmo) da vida, e, que conferem um colorido especial às narrativas de Edward, com William cada vez mais entendendo as motivações do pai para "criar" tais histórias, numa relação pai e filho mostrada de maneira bem honesta e pé no chão, que, no final, vai fazer toda a diferença para aquilo o que o filme quer nos mostrar.

De tantos personagens, digamos excêntricos, não é de se estranhar que as atuações sigam por esse caminho igualmente "afetado" e divertido. E, de fato, Helena Bonham Carter, Danny DeVito e Steve Buscemi estão muito à vontade em seus respectivos papeis. Nesse aspecto, Albert Finney e Billy Crudup, que fazem Edward e William na fase atual de suas vidas, conseguem compor os seus personagens de forma muito competente, apostando no aspecto mais dramático. 

Apenas Ewan MecGregor parece um pouco deslocado de um jovem Edward, principalmente, quando este acaba de sair da adolescência. Mas, não é algo que chega a comprometer. A direção de Burton, minuciosa, consegue captar todas as nuances da história, seja no aspecto mais fantástico, seja na parte mais realista. Um dos seus melhores momentos do cinema, sem dúvida.



"Um homem conta as suas histórias tantas vezes, que se mistura a elas, e elas sobrevivem a ele. E, é desse jeito que ele se torna imortal". É assim que termina o filme Peixe Grande. Palavras que exprimem muito bem a tônica dessa obra, que, sem dúvida, é um dos melhores trabalhos de Tim Burton, e, ao mesmo tempo, um dos seus filmes mais tristes. 

Um tipo de obra que versa sobre diversos assuntos (amor, paternidade, preconceito, e até um quê de crítica social), mas, que pode se resumir perfeitamente a uma bonita e emocionante ode à vida e ao esforço de torná-la menos ordinária pelas pessoas que são, verdadeiramente, extraordinárias.


NOTA: 9/10

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