dica de documentário ("Feministas: O que elas estava pensando?")


Dica de Documentário

Feministas: O que elas estava pensando?
2018
Direção: Johanna Demetrakas


Documentário original da Netflix expõe a necessidade do Feminismo nos dias atuais através da perspectiva de quem viveu a efervescência do movimento nos anos 70

O Feminismo ainda incomoda. Muito. Sejam homens ou mulheres, só a menção da palavra parece causar ojeriza em algumas pessoas, como se ser feminista fosse uma grave doença. De fato, há muito o que melhorar nesse sentido, mas, então, imaginemos como era há cerca de 40 anos atrás, quando o machismo conseguia ser ainda mais forte e brutal? E, é justamente nesse contexto que as personagens do documentário Feministas: O que eles estavam pensando? estavam inseridas, e, décadas depois estão aqui para relembrar o passado, analisar o presente e propôr para o futuro.




O documentário tem por base um ensaio fotográfico feito por Cynthia MacAdams na década de 70 com algumas ativistas do movimento feminista, como, por exemplo, a atriz Jane Fonda. E, hoje, 40 anos anos após esse registro, muitas delas se despem para a câmera da diretora Johanna Demetrakas para contar as suas vidas. De uma perspectiva histórica, à questões bastante pessoas e íntimas, as convidadas mostram uma clareza impressionante de ideias, desde quando elas se viram sendo feministas até os dias atuais. 

Interessante notar que, nos depoimentos, o papel da família (em especial, dos pais) foi importantíssimo para a tomada de consciência das ativistas, seja através de pais liberais, que incentivavam suas filhas a buscarem seus objetivos, seja por aqueles que eram mais opressores, o que "obrigou" algumas dessas mulheres a terem uma consciência mais ampla do que é "ser mulher" numa sociedade ultramachista.

Outro ponto fundamental abordado no documentário é com relação à necessidade da arte como elemento transformador na vida de uma ou de várias mulheres. Seja através da música em si, ou de encenações teatrais, as manifestações artísticas tiveram um papel crucial na propagação do movimento feminista, e, de maneira mais intimista, emancipou muitas que buscavam o seu lugar no mundo. 

Alguns depoimentos, nesse sentido, são bastante emocionantes, principalmente, quando as imagens da época se contrapõem às de hoje em dia, mostrando senhoras na faixa dos seus 60 bastante conscientes de que a sua luta foi importante e que precisa inspirar essas novas gerações de mulheres a também lutarem por um mínimo de dignidade.




Outro aspecto levantado pelo documentário e que merece bastante reflexão é o fato de, muitas vezes, as mulheres negras serem excluídas do debate. A ativista e radialista Margaret Prescod lembra bem quando, na primeira Conferência das Mulheres, ocorrida em Houston no ano de 1977, ela foi impedida de denunciar a esterilização forçadas de mulheres negras, indígenas e porto-riquenhas, pois, segundo uma das organizadoras do evento, isso "atrapalharia" as reivindicações por uma "causa maior". 

Outras das entrevistadas, a professora e dramaturga Funmilola Fagbamila, questiona muito bem esse ponto: "Onde as mulheres negras ficam nessa conversa? Se não pode falar dentro de espaços negros sobre gênero, e em espaços femininos, não pode falar sobre raça, mas você é ambas as coisas igualmente todo dia, então faz o quê?". 

A produção, no geral, possui um minucioso trabalho de direção, com a cineasta Johanna Demetrakas sabendo muito bem explorar fatos do passado e traçando um interessante paralelo no presente, onde o machismo ainda impera, e o Feminismo ainda é questionado e (pior) duramente atacado. 

De pequenos gestos no sentido de "colocar as mulheres no seu devido lugar", à constatação de violências mais graves, as personagens deste documentário expõem uma lucidez tremenda, com plena consciência do que viveram e do que as gerações de mulheres que vieram depois também viveram. São depoimentos que valem muito para uma reflexão, tanto no sentido de se combater o machismo em todas as suas frentes, como em fazer uma pertinente autocrítica, provando que o movimento feminista, pode sim, melhorar.




40 anos se passaram. 40 anos depois, e não há como negar que tivemos (muitos) avanços. No entanto, e como bem lembra Feministas: O que eles estavam pensando?, ainda estamos imersos numa sociedade machista e extremamente patriarcal, onde mulheres independentes, com ideias próprias, e que não têm pudores quanto à sua sexualidade, ainda são chamadas de "vagabundas", sendo bastante hostilizadas (inclusive, por outras mulheres). 

Porém, como também expressa o documentário, outras tantas coisas tiveram melhora. Mas, ainda não é o suficiente. A dignidade para certos setores da sociedade, em espacial, para as mulheres, é algo que está longe do ideal,. Afinal, ainda nos dias atuais, conseguimos eleger representantes públicos que exalam machismo e preconceito por todos os lados. Mas, vamos evoluindo. Principalmente, inspirados por mulheres maravilhosas, que lutaram muito por elas mesmas (e pelas demais). 

E, que aqui, neste documentário, estão muito bem representadas. 

#FeminismoSim
#EleNão


NOTA: 8/10

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