DICA DE FILME ("Um Peixe Chamado Wanda")

Dica de Filme

Um Peixe Chamado Wanda
1988
Direção: Charles Crichton


HUMOR POLITICAMENTE INCORRETO, INTELIGÊNCIA, PERSONAGENS FASCINANTES E SITUAÇÕES VERDADEIRAMENTE ENGRAÇADAS: EIS "UM PEIXE CHAMADO WANDA"

A função da comédia é fazer rir. Porém, como qualquer gênero, ela pode ir além do mero riso. Afinal, há de se ter substância para que uma risada seja não só autêntica, mas seja sempre engraçado se lembrar de determinados momentos de uma comédia. No cinema, você pode, facilmente, encontrar os extremos: desde produções pastelão sem a mínima graça, até longas mais refinados, e que ainda assim, conseguem ser engraçadas. 

E, podemos encontrar filmes do gênero, que, mesmo não sendo tão "refinados" (no significado mais específico da palavra), conseguem ser inteligentes, tanto na construção de cenas hilariantes, quanto na abordagem de uma boa história, com bons personagens. 

Nessa categoria, não tem como não colocar Um Peixe Chamado Wanda nela.




Mas, o que faz esse filme ser tão especial? A resposta, a princípio, está em seus personagens, todos diferentes entre si, ao mesmo tempo que fascinantes, cada um do seu jeito. A começar pelo especialista em armas Otto West, que vive lendo filosofia, mas, claramente, entende várias obras do gênero de maneira toda distorcida. 

Ao seu lado, está a golpista Wanda Gershwitz, inteligente, sedutora e estrategista, que é quem consegue bolar os melhores planos para a dupla de vigaristas. Ambos acabam aceitando um serviço proposto pelo ladrão George Thomason, talvez o mais "normal" dos personagens, que se comporta apenas como um criminoso requintado. Porém, ele tem como assessor o engraçadíssimo Ken Pile, amante dos animais, e que protagoniza algumas das melhores cenas de humor politicamente incorreto do filme.

Transitando entre esses personagens tão interessantes, está uma história comum de assalto, mas, que é tão bem arquitetada pelo roteiro (diga-se: afronta a nossa inteligência), que até messe elemento menos inspirado do longa acaba se destacando em meio a tantas histórias parecidas, só que chatas ou mal-construídas. A sequência do famigerado assalto, por exemplo, é simples, direta, objetiva e eficiente, sem floreios narrativos, ou técnicas mirabolantes. 

E, esta é apenas uma de muitas sequências bem elaboradas, que se juntam de maneira orgânica a outras igualmente excelentes, e compõem um todo muito coeso. Mesmo sendo uma comédia, os desdobramentos da história nunca parecem forçados ou inverossímeis, até mesmo nas cenas mais absurdas, como cena da tortura envolvendo um aquário (acredite: é bizarro e coerente com a proposta ao mesmo tempo!). 

E, como se não bastasse, a trama ainda encontra espaço para abordar alguns temas delicados, como relacionamento abusivo (só que de maneira não convencional, claro
.



Só que o grande mérito do filme está mesmo em sua comédia, já que as sequências de humor são verdadeiramente engraçadas, com um ótimo "time" entre texto, atores e direção. Nenhuma possibilidade é desperdiçada para se fazer uma boa piada, e, nesse sentido, ajuda bastante a interação dos atores, em especial, Kevin Kline, Jamie Lee Curtis e Michael Palin, todos perfeitos em seus papeis, e até mesmo estranhamente nenhum deles soam demasiadamente caricato (algo que poderia ser permitido nesse tipo de produção). 

Sem contar que a direção de Charles Crichton (que, aqui, faz o seu último trabalho para o cinema) está precisa, certeira, irretocável. Nenhum elemento sobra, e o ritmo da trama é muito fluido de acompanhar. Um dos seus belos trabalhos.




Se a justiça for feita, Um Peixe Chamado Wanda será lembrado, para sempre, como uma das grande comédias do cinema, ao lado de Quanto Mais Quente Melhor, e tantos outros clássicos. Uma prova muito clara de como uma comédia pode ser mordaz, irônica e escrachada, sem ser ser apelativa. O tipo de produção que deveria inspirar tantas outras por aí. Assim, no tocante ao cinema, teríamos mais graça, e menos vergonha alheia.


NOTA: 8,5/10

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