Dica de filme ("O CHÃO SOB MEUS PÉS")

Dica de Filme

Título: O Chão Sob Meus Pés
Ano de lançamento: 2018
Direção: Marie Kreutzer


The Ground Beneath My Feet  Poster

A fuga da realidade diante de problemas do cotidiano

É comum protelarmos a resolução de problemas, dos mais simples, aos mais complicados. Por vezes, tentamos ignorá-los de algumas formas, como preencher os espaços vazios do tempo com atividades corriqueiras. Pode ser uma rotina de exercícios, ou mesmo o foco incessante no trabalho. Isso, consequentemente, cobra seu preço, seja por esgotamento nervoso, seja pela não resolução do problema em si (que pode "explodir" a qualquer momento). 

O que acontece com Lola, protagonista de O Chão Sob Meus Pés, é mais ou menos isso. Ela possui uma irmã mais velha, Conny, da qual é tutora legal, visto que esta é problemática, possui uma profunda depressão, e tentou se matar com uma dose enorme de comprimidos. Lola tenta cuidar da irmã, ao mesmo tempo em que administra sua vida, seja num projeto do qual ela vem trabalhando há meses, seja no relacionamento amoroso que tem com a sua chefe. 

Porém, psicologicamente, Lola começa a ficar esgotada. Ou, simplesmente, sente que o chão "foge" de seus pés. 

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O drama aqui é feito de pequenos gestos. Você percebe que alguma coisa pode dar errado a qualquer momento. E, aos poucos, vamos acompanhando bem de perto o esgotamento físico e mental de Lola. Seja em mais um telefonema desesperado que ela recebe da irmã na clínica onde está internada, seja na pressão contínua para que o projeto que ela está desenvolvendo dê certo, e ela consiga ter a projeção na carreira que tanto almeja.

Propositalmente, o filme deixa algumas pontas soltas na história para que nos sintamos tão confusos quanto a protagonista. Não se trata de furo de roteiro, é bom salientar, mas ma forma de plantar dúvidas na cabeça do espectador, e tentar entender, junto com Lola, o que está acontecendo, especialmente no que se refere aos telefonemas constantes que recebe da irmã. 

Muitos podem até achar que o drama aqui é frio e calculado, mas, não se engane: a questão principal é mostrar como sentimentos reprimidos podem abalar alguém, podendo se manifestar a qualquer momento diante de acontecimentos negativos. É uma visão bem intimista e minimalista de como lidamos com situações difíceis, muitas vezes, não da melhor forma possível. 

Crítica | O Chão Sob Meus Pés - Allmanaque

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O filme trabalha em duas vertentes: a construção e a desconstrução da personagem Lola. Ao mesmo tempo em que presenciamos os anseios e a vida cotidiana dela, Lola também vai se descortinando aos poucos, ficando cada vez mais à mercê de seus problemas (sejam eles profissionais, ou pessoais), e essa caracterização de uma personagem é muito bem amarrada no roteiro. 

Assuntos diversos são abordados pela ótica da personagem principal, desde a depressão ao modo como lidamos com desavenças entre colegas de trabalho. Há até espaço para salientar as relações de poder entre patrão e empregado partindo de uma experiência mais íntima, já que Lola tem um caso com sua patroa, e esta faz questão de ter controle sobre sua empregada e amante. 

E, tudo tem um senso  de realismo muito forte graças à direção segura de Marie Kreutzer, e principalmente devido à atuação de Valerie Pachner, que constrói Lola de maneira muito minuciosa, sem nenhum tipo de exagero, entregando uma performance muito boa. Tão boa quanto às atuações femininas de Retrato de uma Jovem em Chamas, só pra citar um bom exemplo de cinema recentes as mulheres são destaque. O restante do elenco de O Chão Sob Meus Pés também se mostra bastante comprometido. 

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Quando o filme encerra, de fato, Lola sente como se não tivesse chão sob seus pés. Uma sensação que compartilhamos bem devido a um determinado acontecimento ocorrido minutos antes. É quando ela, desgastada física e emocionalmente finalmente para (literalmente), e, ofegante, tenta se sentir um pouco viva. 

Tenso, mas de um jeito bem minimalista, o filme expõe de maneira muito precisa o microcosmo de uma única pessoa para nos fazer refletir: "Não estamos correndo demais?". "Não estamos tentando encobrir nossos problemas com trabalho, sexo ou algo do tipo?". 

Ou seja, pensamentos muito bem-vindos (ainda mais, nos dias de hoje). 


Nota: 8/10





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