DICA DE FILME ("DIGAM O QUE QUISEREM")

 Dica de Filme


Título: Digam o que Quiserem
Ano de lançamento: 1989
Direção: Cameron Crowe

Uma deliciosa comédia juvenil dos anos 80 que tem a oferecer mais do que aparenta

Fazer filmes de jovens (e para jovens) é uma tarefa que nem todo mundo consegue fazer direito. Isso porque, muitas vezes, falta a sensibilidade necessária para construir personagens realmente cativantes, mesmo que o humor pastelão impere na maior parte do tempo. Essa construção é importante para que nos importemos um pouco em acompanhar a jornada daquelas pessoas, apesar das risadas aqui e acolá. 

E um dos filmes da década de 80 que melhor fez isso foi Digam o que Quiserem, uma pequena pérola escondida na filmografia de Cameron Crowe, o mesmo que fez produções relativamente famosas há alguns anos atrás, como Quase Famosos e Vanilla Sky

Os fãs do cineasta que o conhecem por causa desses longas talvez se espantem com este Digam o que Quiserem, pois, aqui encontramos um Crowe mais simples (e até intimista), mas que vai contando uma história tão comovente e cativante, que, quando menos esperamos, estamos totalmente envolvidos nela. 




Um dos grandes méritos do filme é não carregar nos estereótipos, já que é muito comum em produções do gênero termos personagens extremamente carregados de características simplórias, bobas e sem muita função narrativa a não ser fazer rir. Não que Digam o que Quiserem não seja engraçado. Longe disso. É que a preocupação de Cameron Crowe (que também fez o roteiro) vai além disso. 

De maneira quase sagaz, o cineasta aproveita uma típica história de amor juvenil para colocar na trama temas como definições de sucesso e fracasso numa sociedade competitiva, masculinidade tóxica, relações abusivas, etc. Porém, mesmo com tais assuntos, o filme nunca se torna pesado ou enfadonho de se assistir. E, isso porque esses temas são tratados de maneira orgânica na história, já que a trama principal é a cativante relação entre Lloyd e Diane. 

Os temas adjacentes que o roteiro decide falar vão sendo introduzidos aos poucos, como nos momentos em que Lloyd é pressionado para escolher uma carreira, ou quando Diane começa a se sentir incomodada com as cobranças (implícitas e explícitas) do pai. 

O que ajuda na construção de uma narrativa coesa aqui é que os fatos vão se sucedendo de forma bastante crível. Os personagens também são tratados como "pessoas comuns", sem caricaturas forçadas. O namoro entre Lloyd e Diane começa de maneira bastante simples, sem grandes complicações, e se desenrola com todas as dificuldades que um relacionamento tem na vida real (especialmente numa idade onde as pessoas estão cheias de dúvidas).

Ou seja: tudo é mostrado com naturalidade, sem conflitos realmente graves e complexos. Até quando a história resolve fazer uma grande revelação a cerca de um determinado personagem, ela é feita com base várias pistas que foram plantadas ao longo da trama, não se tornando algo aleatório e sem nexo. 




Porém, nada disso (nada mesmo) teria sido possível se não fosse a química entre o casal de protagonistas. Lloyd e Diane são personagens com os quais simpatizamos logo de cara. Sem muito esforço, a forma como se comportam em cada um dos seus ambientes é muito espontânea. Algo que só melhoram quando se encontram e passam a interagir, primeiro como amigos, e depois como namorados. 

Ajuda muito as interpretações de John Cusack e Ione Skye. O restante do elenco também manda muito bem nas atuações, porém, são os protagonistas que roubam a cena sempre que estão juntos. Os atores fazem da relação de seus personagens algo muito palpável e bonito. 

Só que, além disso, ainda tem o humor, que aqui também se sobressai de maneira positiva. Algumas cenas possuem um timing cômico excelente, o que dá leveza e sensibilidade a momentos que talvez fossem de mau gosto nas mãos de outros realizadores. 

E, claro, como estamos falando de Cameron Crowe como diretor, não poderia faltar uma trilha sonora afiadíssima, especialmente por incorporar vários artistas daquela época, como Sondgarden, Peter Gabriel, Living Colour e Mother Love Bone. Mas, também era o mínimo que podíamos esperar de alguém que foi repórter da revista Rolling Stone em sua fase áurea, não é mesmo?




Digam o que Quiserem é uma cativante história de amor juvenil contada de maneira simples, mas envolvente, e que ainda faz refletir alguns aspectos que até mesmo os mais adultos irão se identificar. E, além disso, possui um casal carismático, um humor bem afiado, e uma trilha sonora de primeira. Com tantos bons elementos, esta é, sem dúvida, uma das melhores comédias românticas dos anos 80. 


Nota: 8,5/10



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