DICA DE FILME ("MINARI")

 Dica de Filme


Título: Minari
Ano de lançamento: 2020
Direção: 
Lee Isaac Chung



O velho sonho americano se confrontando com a realidade

A importância da subsistência da própria família é algo culturalmente arraigado em qualquer parte do mundo. Mas, ter a responsabilidade de sustentar outras pessoas, ao mesmo tempo em que se tem um sonho específico para melhorar de vida, é algo complicado de conciliar. Ainda mais quando a realidade bate à porta em diversos níveis. 

É essa uma das bases elementares de "Minari", onde vemos o sul-coreano Jacob se mudando com a sua família para a zona rural do Arkansas, na esperança de uma vida menos sofrida. Ele e a esposa trabalham com outros imigrantes num serviço que não lhes dá nenhuma satisfação, sendo esta uma das motivações para Jacob tentar montar uma mini fazenda para poder ter uma profissão mais digna. 

Ao mesmo tempo, o filho deles, David, possui problemas de saúde, o que faz com que fiquem constantemente em alerta. Essa instabilidade familiar se agrava com o passar do tempo, e com um olhar bem humano e singelo, o diretor Lee Isaac Chung nos faz acompanhar bem de perto aquela rotina que, aparentemente, não mostra nenhuma expectativa positiva.  




Um dos maiores méritos do filme é não forçar em nenhum momento dramas que sejam carregados demais. A história não precisa desses artifícios, bastando que olhemos com bastante cuidado cada pequeno detalhe que envolve aquela família, o que nos faz sentir íntimos dela com muita facilidade. 

O roteiro explora muito bem elementos que se inserem de maneira natural na trama, como a questão da religiosidade. Jacob não é nem um pouco religioso, ao passo que sua esposa é, o que causa em certos momentos conflitos, mas, que, no fundo, nada mais são do que o estopim de uma relação já desgastada. 

É interessante também como a história consegue mostrar personagens muito próximos da realidade, mas, também quebrando estereótipos. E, o melhor: sem afetação. Nesse sentido, a inserção de Soonja, sogra de Jacob, é muito interessante, especialmente porque é uma personagem que não segue paradigmas, e que por isso mesmo parece ser alguém tão "real". 

A interação de Soonja com seu neto David é conturbada de início, mas, com o tempo, a amizade de ambos vai aflorando, e se torna um dos aspectos mais bonitos do filme. Ao mesmo tempo, a trama não esquece nunca de nos lembrar a saga de Jacob, numa eterna angústia de se sentir inútil para aquela família, o que também gera momentos muito fortes, emocionalmente falando. 




O drama de "Minari" reside bastante na questão das relações familiares, e de como elas afetam nossa percepção do que seja sucesso e fracasso, por exemplo. Em determinado momento, Jacob questiona: "O que é melhor? Ficarmos juntos agora ou meus filhos me verem ter sucesso na vida uma única vez sequer?". 

Esses questionamentos ficam ainda mais fortes se pensarmos que essa é uma família de imigrantes, que está tentando se firmar num país com hábitos desconhecidos para ela, mas, onde foi vendida a ilusão de um "sonho americano" que, na prática, não está se concretizando. Ver esse desmoronamento familiar de dentro é algo bem doloroso. Contudo, jamais o filme força emoção no espectador. Ela é genuína. 

E tudo é reforçado não somente pela ótima e minimalista direção de Lee Isaac Chung, como também pelas excelentes atuações. 

Steven Yeun está brilhante como Jacob. Você sente todo o sofrimento interno do personagem, de alguém que está perdendo gradativamente as esperanças. Também segue nessa linha Ye-Ri Han, que faz Monica, sua esposa, e que também passa muita verdade em sua interpretação. 

Alan S. Kim e Yuh-Jung Youn, que fazem David e sua avó Soonja, respectivamente, também se mostram excelentes, com uma química incrível, e fica quase impossível não rirmos quando ambos interagem. 




"Minari" é a prova de que no cinema se consegue muito com muito pouco. Mesmo que se trate de uma história com ares (aparentemente) simples, sem maiores novidades, o que conta aqui é a forma como isso é passado para o público. E a verdade e singeleza com que isso vem à tona em vários momentos do filme causa reflexão em muitos aspectos. 

É o que podemos chamar de um belo filme.


Nota: 9/10


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