DICA DE FILME ("DIVERTIDA MENTE")

Dica de Filme


Título: Divertida Mente
Ano de lançamento: 2015
Direção: 
Pete Docter



 Criativa fábula que fala de interação social, depressão e amadurecimento é um dos auges dos estúdios Pixar


Não é segredo nenhum que depois do primeiro "Toy Story", lá no longínquo ano de 1995, a Pixar tem se notabilizado em fazer animações fenomenais, cujas características vão do apuro técnico à criatividade na abordagem de assuntos complexos, fazendo com que crianças e adultos se interessem pelas histórias em proporções iguais, mas, com perspectivas diferentes. 

Nessa estrutura, que virou padrão do estúdio há tempos, "Divertida Mente", é, sem dúvida, um dos melhores trabalhos realizados por ele, justamente por mesclar de maneira sólida e consistente assuntos temas que todos entendem, de maneira muito criativa, e sem subestimar a inteligência do espectador, independente da idade deste. 




Como acontece em outros trabalhos da Pixar, aqui, rapidamente, somos inseridos no contexto da história, que mostra, como possibilidade, a existência de uma espécie de "central de comando" no cérebro, sendo comandado por cinco emoções básicas (alegria, tristeza, nojo, raiva e medo) que controlam cada ação das pessoas, desde o nascimento até sua morte. 

Com o passar da trama, esse conceito extremamente criativo vai se expandindo, onde temos locais específicos para o armazenamentos de nossas memórias, o "descarte" daquilo que não é mais importante e que será relegado ao esquecimento, a terra da fantasia, a "produção" de sonhos que se assemelha a um  estúdio de cinema, e por aí vai. Acompanhamos a trama principal pela mente e pela ótica da garotinha Riley e como suas emoções precisam lidar com certas adversidades. 

Curioso notar como a história faz questão de mostrar a Alegria de uma maneira, muitas vezes, irritante e cansativa, e a Tristeza com certo carisma. Essa abordagem vai ser essencial para o que a trama quer passar no final das contas, numa lição de moral que bem mais interessante do que aparenta. Nisso, as outras três emoções também têm certo destaque, porém, mais para o lado do alívio cômico, que também funciona perfeitamente bem. 

No entanto, é no "embate ideológico" entre a necessidade da Alegria e da rejeição à Tristeza que reside uma espinha dorsal de "Divertida Mente", onde, ao final, é mostrado com muita sensibilidade e leveza que a vida não é tão preto no branco, e que uma alegria constante, sem os ensinamentos da tristeza, não é recomendável. Na maior parte do tempo, ao contrário, as situações são uma mescla de sentimentos, onde todos têm o seu grau de importância. 




Falando assim, parece que a mensagem do filme é um tanto simplória (e, de fato, pode até parecer), mas, o que conta mesmo é a forma como isso é passado por meio de metáforas, metalinguagens, entre outros recursos narrativos. E, tudo com um apuro técnico incrível, além de ter situações genuinamente divertidas, criativas e cativantes. 

Chega ao ponto da história introduzir, mais lá pra frente um personagem com um carisma todo peculiar, o Bing Bong, mas, que carrega em essência uma tremenda metáfora sobre o fim da infância. O destino do dele é um dos mais tristes e tocantes das animações da Pixar, lado a lado com o clímax emocionante de "Coco - A Vida é uma Festa". A prova de como um roteiro pode ser bem elaborado, fazendo nos importarmos com um personagem que, no final das contas, possui pouquíssimo tempo em tela. 

Porém, o grande trunfo da animação mesmo está na interação entre Alegria e Tristeza, duas emoções, aparentemente, antagônicas, e que vão aprender (especialmente a Alegria) o valor de cada momento, e, por consequência, de cada emoção. 

Muitos até poderão argumentar, e com razão que a estrutura base aqui é, mais uma vez, a "volta ao lar", que virou meio que o roteiro de um filme da Pixar. Mesmo assim, e como sempre acontece em excelentes produções como esta, o que vale mesmo é o trajeto, e não necessariamente o ponto de chegada. E, o clímax aqui, mesmo que seja, sim, uma "volta ao lar", é o ápice de algo bem maior que aconteceu antes, o que deixa o desfecho da história ainda mais bonito. 




"Divertida Mente" está no mesmo patamar de grandes clássicos da Pixar, como "Toy Story 3", "Monstros S/A" e "Wall-e". Com uma história original tão cativante e divertida, o filme mostra que, mais uma vez, que desenhos animados pode ser bem mais do que uma diversão passageira para crianças, trazendo algo de novo e inusitado, mesmo que para passar as mesmas mensagens de sempre, e com o apuro necessário para prender a atenção dos adultos também. 

Uma animação linda e cativante em vários sentidos. 


Nota: 9/10
 

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