Dica de Filme ("Rebecca - A Mulher Inesquecível")

 Dica de Filme


Título: Rebecca - A Mulher Inesquecível
Ano de lançamento: 1940
Direção: Alfred Hitckcock


 A estreia de Hitchcock em Hollywood é uma orquestração impecável de mistério e suspense que marcaria o estilo do diretor dali por diante

Alguns diretores de cinema são alçados à categoria de mestres, gênios, e outros atributos. É certo que, na maioria dos casos, tais bajulações não são, de fato, merecidas, mas, em alguns momentos, esses adjetivos se aplicam perfeitamente a determinados realizadores, por mais controversos que tenham sido nos bastidores. Um dos exemplos disso é Alfred Hitchcock, que, a despeito de sua postura com os atores dos seus filmes (especialmente as atrizes), realmente sabia com contar uma história. 

E o primeiro filme dele em terras ianques prova muito bem o talento do cineasta em compor cenas criativas, mas, que são usadas para contar a trama, não sendo meramente um recurso técnico de pura vaidade. Além disso, pra não ter erro, em "Rebecca", resolveu adaptar uma história de suspense presente no livro homônimo da escritora Daphne du Maurier. Em suma, Hitchcock estava "em casa" em se tratando de temática. 




A premissa da história parte de um simples romance entre uma jovem de origem humilde e o nobre inglês Maxim de Winter para ir traçando contornos mais soturnos na trama. O brilhantismo está no fato de que acabamos ficando, enquanto espectadores, tão perdidos e atormentados quanto o casal de protagonistas. Ele, angustiado por uma tragédia recente envolvendo sua antiga esposa(a Rebecca do título) e ela, completamente deslocada naquela mansão, com a sombra da antiga Sra. de Winter pairando no ar como uma fantasma. 

O desenvolvimento dos acontecimentos é gradativo, ao mesmo tempo em que conhecemos (ou não) as personalidades de Maxim e de sua (agora) esposa. Várias nuances são mostradas para compor esses ricos personagens, desde um olhar perdido de Maxim (ou mesmo uma explosão de raiva sua sem motivo aparente), ou um trejeito desastrado dela, o que a torna alvo fácil para outros figuras misteriosas que surgirão na história, como a governanta da mansão, a Sra. Danvers, que nutria uma verdadeira idolatria por Rebecca. 

Uma dos grandes méritos de Hitchcock é saber usar aqui a linguagem cinematográfica com maestria, usando os diálogos no momento certo, e enquadrando sua câmera de forma correta quando as falas não são necessárias. E, mesmo quando, em determinado momento, a verborragia impera, de uma maneira criativa, o diretor posiciona sua câmera, fazendo com que vislumbremos "uma outra coisa", mas que complementa bem o que está sendo dito. É o som e a imagem se casando de maneira impecável. 




Interessante notar também como um filme com mais de 80 anos, mesmo para os padrões atuais, possui personagens tão palpáveis, tão fáceis de identificação ou ojeriza. A jovem, por exemplo, realmente passa um ar doce, tímida, atrapalhada com aquela nova vida que a espera, e mesmo que em algum momento, tente uma "reação", ainda assim, continua preservando sua personalidade. Já Maxim se mostra como um homem imensamente amargurado pela desgraça que se abateu em sua vida, fazendo com que ele ora pareça uma pessoa tranquila, ora tenha acessos estranhos de raiva. 

Sem contar ainda outros personagens secundários que permeiam a trama, como o primo de Rebecca, que, apesar de sua chegada tardia à história, será de grande importância para a problemática da trama dali por diante, e a Sra. Danvers, uma mulher que parece sem vida naquela mansão, e que denuncia muito do que pensa através do olhar e de alguns poucos gestos. Digamos que, À medida que a história avança, ela vai se tornando uma personagem mais amedrontadora. 

E, tudo isso com a direção irretocável de Hitchcock, fazendo com que o espectador mergulhe naquela trama de maneira tão forte e atmosférica, que não se sente o tempo passar, mesmo o filme tendo mais de duas horas de duração. O que ajuda também em nosso investimento são as atuações, especialmente de Joan Fontaine, Laurence Olivier e Judith Anderson. Mesmo com toda a teatralidade inerente à época, são interpretações que fazem nos interessarmos por aquelas pessoas, e querer descobrir qual o destino que lhes reserva. 

Some-se a isso uma fotografia que sabe muito bem usar o jogo de luzes e sombras, em especialmente em lugares fechados. Não à toa, além do Oscar de Melhor Filme, "Rebecca - A Mulher Inesquecível" também ganhou a estatueta por essa questão técnica, só sendo uma lástima que a premiação não veio para o próprio Hitchcock (afinal, muito do brilhantismo do longa se deve a ele). Ou seja, mais um ds inúmeros equívocos perpetrados pela Academia. 




Mesmo que pareça exagerado, tentar encontrar defeitos em "Rebecca - A Mulher Inesquecível" é tarefa difícil. É tudo feito com tanto esmero, com tanto talento e tanto envolvimento que, merecidamente, este se tornou um clássico do cinema, e começou uma carreira estadunidense bem sucedido para aquele que foi considerado depois o "Mestre do Suspense". Bem, diante deste filme aqui, não tem como negar esse título ao cineasta britânico. 


Nota: 10/10

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