DICA DE SÉRIE ("MAID")

Dica de Série


Título: Maid
Ano de lançamento: 2021
Criação: Molly Smith Metzler



 A violência doméstica tratada com responsabilidade e sensibilidade em um excelente drama, com ótimos personagens 


De um modo geral, é um pouco difícil termos um produto no audiovisual que retrate um problema pertinente da sociedade atual, e que seja tão bem feito a ponto de gerar engajamento e envolvimento por parte dos espectadores em relação à história ali contada. Mesmo com boa intenções, algumas produções esbarram no quesito qualidade.

Não é o caso da série "Maid", série da Netflix baseada em um livro da autora Stephanie Land, e que consegue explorar muito bem as suas possibilidades, tanto de mensagem, quanto artísticas. 

Ao abordar um assunto delicado como a violência doméstica (especialmente a psicológica, mas também a física), os realizadores de "Maid" conseguiram desenvolver uma trama suficientemente forte, com personagens muito ricos cheios de camadas, além de uma narrativa que deixa todos os 10 episódios da série necessários para a construção das situações que vão ser apresentadas. 




Já no primeiro episódio, somos inseridos ao cotidiano conturbado de Alex, uma jovem que está fugindo de algo (ou de alguém) com sua filhinha Maddy, de apenas 2 anos. Com o passar do tempo, vamos descobrindo o que houve através de flashbacks. Nesse momento, o que temos são pequenas cenas do passado recente, mas, que são tão significativas que rapidamente percebemos o que aconteceu. 

O que se seguirá a partir disso é uma verdadeira via crucis da protagonista, onde ela precisará enfrentar demônios do passado (envolvendo, inclusive, seus pais), e conseguir o mínimo de independência para poder cuidar de sua filha, seja emocional ou financeira. 

E, já nesses primeiros momentos da série, muitas coisas ocorrem. Tantas, que até duvidamos de que haverá tanta história para preencher mais 9 episódios com algo minimamente relevante. Contudo, "Maid" consegue isso, mesmo com algumas tramas paralelas, e que, a princípio, parece que não vão dar em nada, mas, que se conectam de maneira muito orgânica com a história e o tema principais. 

Além disso, a série explora bem algumas vertentes. O foco principal é o drama, porém, em alguns momentos, "Maid" é divertida (até como forma de suavizar o peso da trama principal). Já em algumas situações, ela flerta com o suspense, como se uma tragédia anunciada estivesse prestes a acontecer. Isso possibilita a história avançar sutilmente enquanto desenvolve melhor certas situações e personagens. 




Na verdade, o que faz a série funcionar tão bem é o fator humano. Os dramas retratados (especialmente, envolvendo dominação emocional, que pode gerar violência doméstica) são todos bastante críveis, desde uma mulher rica que tem tudo (menos o amor de um companheiro e um filho que tanto deseja), até a dependência crônica da mãe de Alex com os homens com quem se envolve. 

Nenhum personagem parece forçado ou longe da realidade. A maneira naturalista de filmar boa parte das situações, com câmera na mão, ajuda a reforçar essa sensação. E, como a série trata de assuntos espinhosos, era importante realizar essa abordagem para que houvesse alguma identificação com as plateias (em algum momento, alguém que esteja assistindo pode ter sofrido ou provocado violência doméstica da maneira retratada ali). 

O melhor é que "Maid" não aborda esses e outros temas com didatismo em excesso. Ao contrário: tudo é inserido de maneira orgânica e natural na trama. Fora que ela ainda desenvolve os personagens de maneira não óbvia. Mesmo que hajam vítimas e agressores bem claros na história, ninguém é vilanizado de fato, o que deixe a história mais pé no chão e as situações mais complexas. 

Além da direção muito correta, e do roteiro bem elaborado, "Maid" tem a seu favor um elenco muito bom, a começar por Margaret Qualley, que faz Alex. A atriz compõe muito bem uma garota, inicialmente fragilizada, que precisará crescer e se impor emocionalmente para seguir em frente. Andie MacDowell, mesmo que pareça exagerada a princípio, faz um ótimo trabalho também, especialmente quando entendemos o que se passou com a sua personagem. 

O restante do elenco  mostra competência, de Nick Robinson (que faz o marido violento e alcoólatra de Alex) até Anika Noni Rose (interpretando uma personagem, a princípio, insuportável, mas, que ganhará seu devido destaque no decorrer da trama). Todos conseguem passar as fragilidades, dilemas e fraquezas sem cair no melodrama. 




Diante de um resultado impecável, não tem como não elogiar a série "Maid". Claro que ela possui pequeníssimas falhas (o monólogo da personagem Regina, por exemplo, poderia ter sido um tanto encurtado). Porém, são detalhes tão mínimos que passam despercebidos no final das contas. 

"Maid" é um bem construído drama familiar que fala de violência doméstica, abuso psicológico, entre outros assuntos complicados, mas, com a sensibilidade e o cuidado necessários para não cair no pedantismo ou no sofrimento barato e sensacionalista. Pra isso, constroi personagens interessantes (e também cativantes), e que dão mais força ainda a essa história de superação e aprendizado. 

Uma das melhores séries da Netflix, sem dúvida. 


Em caso de violência doméstica (especialmente contra as mulheres), acione os seguintes canais: 

Central de Atendimento à Mulher: 180

O Ligue 180 presta uma escuta e acolhida às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento.

A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher.

O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser acessado em outros países.

Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs)

São unidades especializadas da Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de violência.

As atividades das DEAMs têm caráter preventivo e repressivo, devendo realizar ações de prevenção, apuração, investigação e enquadramento legal, as quais dever ser pautadas no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios do Estado Democrático de Direito.

Núcleos ou Postos de Atendimento à Mulher nas delegacias comuns

Constituem espaços de atendimento à mulher em situação de violência (que em geral, contam com equipe própria) nas delegacias comuns.

Defensorias públicas e defensorias da mulher

As Defensorias da Mulher têm a finalidade de dar assistência jurídica, orientar e encaminhar as mulheres em situação de violência. É órgão do Estado, responsável pela defesa das cidadãs que não possuem condições econômicas de ter advogado contratado por seus próprios meios.

Possibilitam a ampliação do acesso à Justiça, bem como, a garantia às mulheres de orientação jurídica adequada e de acompanhamento de seus processos.

Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos

Dá para denunciar pelo site da Ouvidora Nacional dos Direitos Humanos, do Governo Federal através do link: https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh.

Medida protetiva

Caso a vítima precise de uma medida protetiva, ela pode solicitar por meio do aplicativo Maria da Penha Virtual, pelo telefone, no número 197, ou ir até uma defensoria pública.


Nota de "Maid": 10/10

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