DICA DE FILME ("Tomates Verdes Fritos")

  Dica de Filme


Título: Tomates Verdes Fritos
Ano de lançamento: 1991
Direção: 
Jon Avnet



As lembranças que resistem ao tempo e continuam relevantes nos dias atuais

Um dos maiores patrimônios que alguém pode ter são suas lembranças. Em especial, aquelas que foram definidoras de vida, as que testaram os limites, as que fortaleceram o caráter. São elas que, muitas vezes, são a única companhia na velhice, quando o tempo toma outro aspecto, e a finitude parece mais próxima. Mas, essas mesmas lembranças podem ainda ser usadas, no presente, e por alguém que nunca as viveu. De que forma? Através dos relatos, que ainda podem soar relevantes e significativos para quem os ouve. 

É o caso de Evelyn e Ninny. A primeira, está visitando uma parente do marido no hospital, e acaba conhecendo a segunda, que passa a confidenciar relatos do passado a Evelyn que mudarão sua vida. Apesar de um tema aparentemente batido no cinema (relatos de histórias do passado que irão reverberar no presente), "Tomates Verdes Fritos" consegue tratar com maestria essa premissa por uma série de fatores. O primeiro deles são os personagens, todos muito bem construídos. 



Não é preciso muito para que conheçamos a personalidade de cada um que aparece aqui, e mesmo assim, com o passar da história, vamos encontrando mais camadas neles. Um bom exemplo disso é Ruth, que aparentemente surge como uma mulher frágil em um ambiente rural e bastante machista, mas, que, com o passar do tempo, vai ganhando força, até mesmo para enfrentar um relacionamento abusivo. Ao mesmo tempo há sua amiga, Igdie, que parece uma criatura indomável, mas, que se mostra sensível nos momentos certos. 

Um dos temas que permeia "Tomates Verdes Fritos" é a liberdade, seja a de relacionamentos abusivos (ou simplesmente monótonos, como o enfrentado nos dias atuais por Evelyn, a interlocutora das histórias de Ninny), seja a de questões igualmente complexas e delicadas, como o racismo. Por sinal, o filme não se furta a falar de nenhum assunto, seja machismo, racismo, e outros temas. E todos muito bem encaixados na trama, sem parecerem forçados. 

Pra isso, o filme se vale de do recurso em retratar uma época das histórias de Ninny onde a Klu Klux Klan andava mais livremente do que hoje em dia. Os paralelos entre como os homens tratavam as mulheres há décadas atrás com hoje em dia também se mostra bastante pertinente, mesmo que a produção não levante nenhuma bandeira explicitamente. E, nem precisa, pois, seus personagens são tão fortes (especialmente, os personagens femininos), que a ação deles diz mais do que qualquer discurso expositivo. O velho, mas, significativo recurso de mostre, não diga. 



A intercalação de passado e presente na trama nunca cansa ou fica pedante, pois, assim que cada questão é (aparentemente) resolvida em cada tempo, voltamos para o outro. A narrativa se mostra, dessa maneira, orgânica, permitindo que possamos absorver cada elemento que o filme quer passar, onde nenhuma cena é aleatória ou desperdiçada. 

Muito da força que "Tomates Verdes Fritos" possui reside no seu elenco. Kathy Bates, sempre ótima, passa de uma mulher insegura e frágil no início do filme para alguém com iniciativa própria. Jessica Tandy, como Ninny, passa uma dignidade e tanto em tela. Já Mary Stuart Masterson e Mary‑Louise Parker, interpretando Igbie e Ruth respectivamente, passam toda a energia, os dilemas e as nuances que as suas personagens pedem, fazendo de ambas duas mulheres incríveis, ainda mais para os padrões preconceituosos de seu tempo. 

E, claro, direção e roteiro estão precisos, com uma edição muito competente, onde as idas e vindas no tempo são feitas de maneira precisa, com as ações dos personagens movendo a trama (ou, em alguns casos, a contação de uma história). 




"Tomates Verdes Fritos" é um filme que fala da importância das memórias. Mais precisamente para nos lembrar que existiram pessoas excelentes no passado, e que podem servir de inspiração para as gerações de hoje. E, que a despeito de um ambiente desfavorável, é possível sempre ser quem de fato é. Um belo retrato, enfim, da busca pela liberdade e da autonomia em um mundo que dita quem devemos ser a todo o momento. 

Sim, contadas no momento certo, as histórias de algumas pessoas podem salvar vidas. Nunca se pode subestimar isso. 


Nota: 10/10

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