Dica de Filme ("Men")

 Dica de Filme


Título: Men
Ano de lançamento: 2022
Direção: Alex Garland



Mesmo com metáforas um tanto óbvias, "Men" consegue impactar (e refletir, e assustar, e incomodar...) 

Para esse tipo de filme, geralmente usam o clichê: "essa produção não é para todos". Bobagem! Todas as histórias podem atingir os mais variados públicos. Vai depender da trama, e de quanto esse mesmo público consegue se engajar na história em si. Dito isso, afirmar de maneira taxativa que "Men" é um filme, digamos, "difícil" é restringir demais o seu alcance. O que seria uma pena, pois, ele aborda temas bastante delicados com muita intensidade, incomodando o espectador na medida certa. 

É claro, no entanto, que não estamos aqui diante de uma produção de horror padrão, daquelas com monstros, fantasmas e assassinos seriais indestrutíveis. Ou melhor dizendo: em "Men", não deixam de haver monstros, fantasmas, e outras coisas bastante assustadoras. Só que no campo da simbologia, da metáfora,. o que, em alguns momentos, pode até construir uma trama mais assustadora do que qualquer terror fantasioso. 




Em "Men" a vida real se impõe, especialmente, para a figura feminina, Harper, a protagonista desta história. Logo de início, sem aviso prévio, somos jogados para uma cena impactante, e que será muito melhor desenvolvida depois. É preciso o espectador ter calma aqui, pois, não se trata de uma obra tão difícil assim de digerir, mas, seu ritmo, por vezes, é lento e contemplativo, absorvendo cada elemento do cenário, e nos envolvendo naquele clima tenebrosos. 

Portanto, paciência. 

O filme faz questão de explorar cada momento, cada ambientação, cada sensação, cada gesto. A sequência dentro de um túnel, por exemplo, é muito boa, pois, praticamente nos insere naquele local, tornando a cena mais claustrofóbica e angustiante. E com o passar do tempo, as simbologias que a história propõe ficam um tanto "na cara", como a macieira no quintal onde Harper alugou uma casa, ou mesmo o fato de praticamente todos os personagens masculinos serem interpretados por um único ator. 

Então, já ficou um pouco óbvio onde o filme quer chegar, não é mesmo?

Só que o roteiro (também assinado pelo próprio Garland) vai um pouco além de obviedades, e, no decorrer da trama, vai inserindo detalhes mais complexos a tudo o que envolve a personagem Harper, seja no relacionamento amoroso pra lá de conturbado e abusivo que ela tinha, seja as características individuais dos outros homens que passam a cercá-la (mesmo que todos tenham a mesma "cara"). 





E, então, chegando ao perturbador e inquietante final, vemos toda a simbologia que Garland quis passar em "Men" sendo metamorfoseada de maneira bem explícita, em uma sequência grotesca, mas, de grande impacto visual e apelo crítico. Não cabe aqui descrever o que acontece, bastando salientar que o problema do machismo e do patriarcado que afligem as mulheres dia após dia é algo difícil de se combater, já que são coisas que se perpetuam entre os próprios homens de maneira asquerosa. 

Em termos de atuação, temos dois destaques: a Jessie Buckley, que consegue fazer um trabalho muito bom e funcional aqui, mostrando o quanto é difícil e, muitas vezes, traumático uma mulher se recuperar de determinados relacionamentos, e Rory Kinnear, que faz os tais "homens" do título com bastante competência, ora sendo um tanto assustador, ora sendo descontraído. Paapa Essiedu também está no elenco, e mesmo interpretado um personagem importante para trama, não faz mais do que o necessário. 

Os grandes destaques mesmo de "Men" são a direção e o roteiro de Garland. No primeiro caso, ele consegue compor cenas muito boas, com ângulos de câmera nos locais certos para nos deixar apreensivos de que "algo" está à espreita. Já o roteiro, mesmo pecando um por uma certa trivialidade nos assuntos que aborda, ainda assim, faz um trabalho muito bom, desconcertante e provocativo a respeito de quanto o universo masculino pode oprimir e até destruir o feminino. 





"Men", portanto, não é uma metáfora tão complicada assim de absorver e refletir. Mas, é visualmente impactante, e o que a história tem a dizer possui uma relevância importantíssima para os dias atuais. É um filme para todos os públicos? Não exatamente. Mas, bom mesmo seria se muitas pessoas tivessem a oportunidade de vê-lo, já que é o tipo de obra que rende bons debates e reflexões. Ou seja, mesmo sendo um filme com uma boa dose de estranheza, também tem seu grau de visceralidade enquanto obra genuína de horror. 



Nota: 8/10

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