Dica de Filme ("O Telefone Preto")

 Dica de Filme


Título: O Telefone Preto
Ano de lançamento: 2022
Direção: Scott Derrickson



Perturbador, o novo filme do diretor de "A Entidade"  parece ter uma trama simples, mas, fala de bullying e outras formas de abuso de maneira bem angustiante

As relações humanas são complicadas. Seja na família, no colégio, entre amigos, tanto faz. As pessoas parecem, muitas fezes, viver em função da violência e da subjulgação. 

E é isso mais ou menos o que temos em "O Telefone Preto". 

O filme mostra bem isso logo nos seus primeiros minutos de projeção. Aqui, vemos um garoto chamado Finney sofrendo bullying dos colegas de escola, e sendo sempre protegido pela irmã Gwen e pelo amigo Robin. Ao mesmo tempo, há muita violência física e psicológica dentro de casa também. 

Se, por um lado, os jovens da pequena cidade no filme vivem se estapeando nas ruas, em casa, Finney e Gwen sofrem alguns momentos bem dramáticos, física e psicologicamente, com um pai controlador, ríspido e, em certas ocasiões, violento.

Bom ressaltar que tudo isso acontece antes do "terror" propriamente dito tomar conta da trama. Ou seria essa violência desenfreada nas ruas e em casa que gera o próprio terror?

O filme não dá respostas, mas, gera boas reflexões. 






Um dos grandes méritos do filme é não entregar tudo de mão beijada. 

De início, conhecemos um pouco da personalidade de Finney, para depois, sabemos algumas nuances da sua irmã Gwen, o pai destes, e do seu amigo Robin. E, mesmo assim, nada é tão "preto no branco". Todos os personagens aqui têm camadas que denotam, especialmente, traumas familiares. 

Tudo isso não é por acaso, pois, cada elemento da história e dos personagens será relevante lá na frente na trama, tanto na motivação do "vilão", quanto de Finney. Por sinal, na parte final, há uma sequência envolvendo esse garoto e o seu amigo Robin ensinado como se defender. Cena simples e cativante.

Quanto ao terror mais "clássico", o filme não decepciona, mostrando momentos tensos envolvendo o personagem mascarado da capa, sempre falando o mínimo necessário, mas, também tendo um background bem interessante e que tem a ver com os temas que o longa vinha abordando anteriormente, especialmente, violência doméstica. 

Um dos grandes acertos do roteiro é se focar nos personagens pelo tempo certo, com suas atitudes seguindo uma linha lógica que não destoa da personalidade deles, nem dos temas que a trama quer abordar. Essa preocupação em ligar temas e situações fica nítido nos minutos finais. 






E se, por vezes, a história lembra alguns elementos de Stephen King, é porque a trama foi originalmente escrita pelo seu filho Joe Hill, que traz algumas das mais interessantes características da obra do pai, porém, com um olhar até mais sensível para certas temáticas. 

Temáticas, essas, inclusive, que versam bastante com o universo masculino, e a violência a qual os homens estão habituados em receber e reproduzir. Não à toa, um dos filmes que o amigo de Finney quer assistir é O Massacre da Serra Elétrica. E, há até a postura de sua irmã, a Gwen, que, não raro, usa da violência para protegê-lo dos outros meninos do colégio. 

Ou seja, "O Telefone Preto", para além de ser um simples filme de sequestro evolvendo um assassino psicopata, também possui alegorias que expressam bem o quão um ciclo de violência pode se perpetuar em casa e na rua por gerações, muitas vezes, no próprio seio familiar. 
 
O que mostra que uma boa história de terror não se faz somente com monstros, fantasmas e ou pessoas mentalmente perturbadas. O horror pode estar em como resignificamos o que recebemos o que vem de fora, em especial, a violência cotidiana. 

Em suma, uma baita história, dirigida com o cuidado necessário, com um roteiro bem estruturado para pontuar tensão e reflexão de forma equilibrada, e um elenco muito engajado em seus papeis. 

O terror norte-americano blockbuster do ano (até agora). 



Nota: 8,5/10

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