DICA DE SÉRIE ("This is Us" - 1ª Temporada)

Dica de Série


Título: This is Us - 1ª Temporada
Ano de lançamento: 2017
Criação:
 
Dan Fogelman 



A vida como um roteiro de idas e vindas, alegrias e tristezas 

De todas as matérias-primas para roteiros de uma história ficcional, a que talvez mais tenha elementos universais, atemporais e que se conectam com praticamente qualquer pessoa, é a vida mesmo, pura e simples, com seus altos e baixos. Pode ser uma ficção científica, uma aventura, ou um terror. Tanto faz. Até porque em nada que nos conecte com algo de genuinamente real e humano, qualquer história fica oca, vazia, indiferente. 

E é por isso que a série "This is Us", pelo menos, em sua ótima primeira temporada, causa essas sensações tão impactantes, pois, aqui temos uma gama enorme de personagens e histórias de vida que se conectam entre si, mas, que, principalmente, ligam-se quem que assiste. Cada uma das pessoas aqui tem a sua trajetória, os seus anseios, e o mais importante: seu erros e acertos. É como se o espectador, em alguma medida, conseguisse se identificar com, pelo menos, um desses personagens (ao menos um), e com isso criar empatia por todos que perpassam a série. 




Nesses primeiros 18 episódios, ficou evidente o trabalho de roteiro, que, mesmo enveredando por algumas situações óbvias e beirando (só um pouquinho, é verdade) a pieguice, ainda assim, conseguem encantar, e, especialmente, trazer surpresas para o espectador um tanto desavisado. Desde o primeiro episódio, acompanhamos idas e vidas no tempo, e isso é proposital, até como forma de provocar quem está assistindo. Quando pensamos que sabemos tudo a respeito de um personagem em sua plenitude, vem um flashback, e mostra que não é bem assim. 

Ao contrário: em muitos momentos, a série confronta nossos preconceitos, tanto em relação aos personagens de "This is Us", quanto a situações reais, do nosso dia a dia. Será que tal personagem é tão perfeito assim? Será que tal protagonista não está exagerando? Por que a atitude tão ríspida de fulano ou ciclano? São respostas nem um pouco fáceis que são dadas (será que são, mesmo?), o que proporciona uma construção ainda melhor desses personagens, adicionando mais e mais camadas à medida que revistamos o passado, e refletimos sobre o presente. 

Importante destacar que direção e roteiro estão numa grande sintonia nesse sentido, pois, mesmo que não hajam takes criativos ou mirabolantes nas cenas, tudo é construído de maneira bem correta, com enquadramentos casando bem com momentos-chaves, trilha sonora entrando na maioria das vezes de maneira adequada e pouco invasiva, por aí vai. Ou seja, um básico que funciona muito bem com esse roteiro bem construído, que mescla várias linhas temporais, e, às vezes, com uma cena do passado fazendo paralelo claro com o presente. 




Claro, assim como a vida não é perfeita, o roteiro de "This is Us" também não é. Por vezes, a história força um pouco a mão nas coincidências para chegar onde pretende, a exemplo do primeiro encontro entre Rebecca e Jack no bar onde ela cantava. Ainda assim, toda a trama que circunda esses dois, e que vai desembocar em mais acontecimentos ainda no futuro, com tudo isso sendo determinante para a construção da personalidade dos seus filhos, não deixa de ser muito bonito como tudo é mostrado. 

Aqui, vários momentos passam uma emoção genuína através dos acontecimentos mais inevitáveis da vida (separação, doença, morte, traumas, preconceitos, problemas no emprego, com pais, com filhos, entre tantos outros, que, inevitavelmente, algum desses temas vai tocar o espectador). Tudo exposto nessa grande quantidade de personagens, e cujas histórias cativam e envolvem também por "culpa" dos atores. Nenhum aqui está, sequer, mediano, e não raro, muitos estão em um patamar elevado de atuação, a exemplo de Sterling K. Brown, que interpreta um dos melhores personagens da série, o Randall, que tem alguns dos momentos mais emocionantes e mais bem desenvolvidos da primeira temporada. 

Destaque também para os atores Milo Ventimiglia e Mandy Moore, que fazem o casal Jack e Rebecca, além de Ron Cephas Jones, que interpreta William, pai biológico de Randall, e que protagoniza aquele que talvez seja o melhor e mais emocionante episódio da primeira temporada de "This is Us", intitulado "Memphis". Na verdade, não há atores ruins na série, e seria injusto continuar destacando este aou aquele. Basta dizer que, provavelmente, muitos deles passaram a ficar associados a seus respectivos personagens aqui. 




"This is Us" é uma série que mesmo tendo alguns problemas pontuais aqui e ali em sua primeira temporada, sendo redundante em alguns momentos, e em outros, forçar um pouco a mão na conexão das histórias entre os seus personagens, ainda assim, consegue ser um panorama muito bonito e interessante de pessoas diversas, com personalidades distintas, mas, que vão convivendo entre si, ora se amando, ora se machucando, mas, com aquela sensação de vida real e cotidiana que nos aproxima mais do que pensaríamos dessa ficção. 

Seria, mesmo, ficção?


Nota: 8,5/10

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